Falta de pessoal e de organização atrasaram reforço da vacinação para 800 mil pessoas
Desde o fim da task force para a vacinação, no mês de setembro, que era liderada pelo vice-almirante, Gouveia e Melo, que o novo grupo de trabalho, designado como Núcleo de Coordenação para a Vacinação (NCV), encabeçado pelo médico veterinário militar, Coronel Carlos Penha Gonçalves, deveria estar a trabalhar com uma equipa de 16 elementos, metade do que tinha inicialmente, oito deles militares dos três ramos das Forças Armadas, que ao longo do tempo deveriam começar a ser substituídos por técnicos civis dos vários organismos do Ministério da Saúde (MS).
Mas, segundo apurou o DN, este grupo está a funcionar com 11 elementos, oito militares, dois técnicos do MS e um do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH). Nesta fase, a necessidade de reforço da equipa executiva é ainda maior, dado que "os objetivos definidos foram alargados esta semana", referiu ao DN fonte ligada ao processo.
Segundo a mesma fonte, a equipa executiva para a vacinação já deveria incluir na sua composição elementos da Direção-Geral da Saúde, do Infarmed, dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde e do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais, mas ainda não tem de todas as áreas.
Na opinião das fontes do DN, não é que a falta de pessoal tenha atrasado a execução da tarefa, mas esta situação, associada a alguma desorganização por parte dos serviços da saúde, fez com que se perdessem, pelo menos, 20 dias a lançar a nova fase da vacinação de reforço contra a covid e contra a gripe. Ou seja, explicaram-nos, "nestes 20 dias poderiam ter sido vacinadas 40 mil pessoas por dia, o que representa um total de 800 mil pessoas a mais, que ficaram por vacinar".
Tal como o DN avançou na semana passada, o plano deixado pelo coordenador da task force, Gouveia e Melo, não foi logo posto em prática, tendo a nova equipa que ficar à espera de indicações sobre a coadministração da vacina de reforço contra a covid-19 e para a gripe. Depois, referem ao DN, "os serviços centrais do Ministério da Saúde não conseguiram fazer rapidamente o agendamento das pessoas elegíveis para as duas vacinas, havendo a necessidade de recorrer à modalidade Casa Aberta, o que gerou filas e confusão indesejáveis".
Agora, que já foi lançado o autoagendamento e Casa Aberta para os maiores de 65 anos, a DGS aumentou em 1,8 milhões de pessoas o grupo de elegíveis para reforço de vacina contra a covid-19, ao anunciar na quinta-feira que todos os maiores de 18 anos que levaram a vacina da Janssen terão de levar uma dose de reforço e que os infetados que recuperaram terão de levar as duas doses.
Na reunião do Infarmed, entre peritos e políticos, o coordenador do NCV, coronel Penha Gonçalves, alertou o Governo para a necessidade de mais meios no terreno para executar até ao fim a tarefa da vacinação e concluí-la no prazo previsto, 19 de dezembro.
"Desde quinta-feira que, pela norma da DGS, estamos a considerar outros grupos populacionais. Estamos a falar de 1,8 milhões de pessoas. Esta nova ambição, com o alargamento da população-alvo, indica-nos que é preciso fazer um reforço da estrutura executiva, que administra a vacina. É nesse equilíbrio de aumento da capacidade no terreno que vamos atingir os objetivos", disse, sublinhando que os novos critérios de elegibilidade para a dose de reforço vêm "duplicar o esforço de planeamento" que tinha sido feito e impor a reprogramação do plano".
O DN contactou o MS para saber a razão por que ainda não estava a ser reforçada a equipa executiva do NCV e se iriam ser colocadas mais pessoas nesta fase em que se está a reprogramar o planeamento e a calendarizar os grupos. A resposta remeteu-nos para as declarações do secretário de Estado Adjunto da Saúde e do coronel Penha Gonçalves às televisões após a visita de ontem ao centro de vacinação de Mafra.
Lacerda Sales confirmou que vai haver reforço de meios para se avançar com o processo e Penha Gonçalves, que reafirmou a necessidade de reforço da equipa executiva e dos meios no terreno, admitiu que tal já vem a acontecer. Contudo, o DN ficou sem resposta à questão enviada ao MS: por que razão ainda não foram colocados os técnicos que deveriam estar a integrar a equipa executiva há dois meses?
De acordo com o plano deixado pela task force, deveriam ser vacinadas 2,5 milhões de pessoas, maiores de 65 anos com duas doses de vacinas há mais de seis meses e elegíveis para a vacina da gripe, além dos profissionais de saúde, de lares e bombeiros. Agora, há mais 1,8 milhões. Penha Gonçalves referiu na reunião do Infarmed que a vacinação "tem vindo a evoluir no tempo, contando agora com 304 pontos de vacinação, com capacidade de administrar 460 mil vacinas por semana".
Em termos de cobertura conseguida na vacinação contra a gripe, o coronel explicou que a população elegível foi dividida essencialmente em três grupos: os maiores de 80 anos, os idosos entre os 70 e os 79 e, finalmente, as pessoas entre os 65 e os 69 anos. Nesse sentido, foram já alcançadas coberturas vacinais de 73%, 42% e 20%, respetivamente, havendo ainda "cerca de 730 mil vacinas para dar, o que se traduz em cerca de 25 mil vacinas por dia, perfeitamente dentro daquilo que temos estado a dar", observou. Sobre a dose de reforço contra a covid, o médico militar adiantou que cerca de 630 mil pessoas já a receberam, numa população igualmente elegível para a vacina da gripe e que. A adesão atual é de 80%, com cerca de 600 mil pessoas para vacinar até 19 de dezembro, a uma média de 20 mil inoculações diárias.
No Infarmed, o coronel lembrou ser necessário avançar de imediato com "opções de planeamento" para a organização dos novos grupos elegíveis, bem como a importância do "acesso a dados de vacinação, infeção e hospitalização".
A rápida vacinação dos mais idosos e dos mais vulneráveis tem sido defendida pelos especialistas como fundamental para que se consiga passar a quinta vaga da doença de forma moderada.