O problema das migrações tem, entre as respostas condicionadas pelo frequente conflito entre os deveres humanitários e a segurança dos Estados, um aspeto de relevância crescente: a formação de comunidades imigrantes tende para criar uma articulação entre os que se instalam em diversos países, dentro de cada um deles caracterizados como minorias, mas articuladas no que já foi chamado "identidade transnacional"..Talvez a tormentosa história dos judeus que, até à criação do Estado de Israel, eram uma espécie de comunidades migrantes dispersas sem Estado de origem, porque destruído pelos romanos, mas que não se dispensavam de recuperar, seja uma imagem do passado que ajuda a enquadrar a problemática causada pelo paradigma da "Terra, casa comum dos homens", que orientou a fundação da ONU..Entre os efeitos imprevistos pela sonhada mundialização organizada no fim da guerra de 1939-1945, encontram-se correntes políticas que tendem para animar os populismos com a defesa da "desmundialização", tornando-os relevantes para as eleições europeias que se aproximam, podendo referir-se o conceito de Marine le Pen, segundo a qual estão relacionados a mundialização que vem das camadas sociais desfavorecidas com a migração maciça, e a que vem do alto com o financiamento da economia (2017)..O comentário internacional não deixou de apreender o crescimento possível do populismo, meditando sobre o Brexit de que não previram todas as consequências, e, logo após, a eleição de Trump, que não precisou de mais do que da experiência de empresário para praticar a "desmundialização", com apoio numa propaganda eleitoral caracterizada pelo aperfeiçoamento do chamado Estado-espetáculo, agora modernizado pelo uso abusivo das redes de comunicação social. Infelizmente, a criação do conflito das identidades, criado pelas migrações que dão origem a minorias que são verdadeiras "colonias" interiores, sendo estas obstáculos a tornar o multiculturalismo nacionalmente demorado ou impossível, animam as discriminações, e fazem renascer os mitos raciais que a UNESCO enfrentara com algum êxito. Inesperadamente, o conceito notável de Mandela, a famosa proposta programática, de "uma nação arco-íris", pareceu progredir no país que governou, e tender para desconhecido nos antigos países responsáveis pelo que foi a ocidentalização do mundo..É certo que levou séculos chegar ao modelo que liga cidadania, nação e território, que a guerra de 1939-1945 ficou manchada, para além de outros acontecimentos lamentáveis, pelos genocídios, que não foram apenas nazis e europeus, mas a Declaração Universal dos Direitos Humanos incluía o combate aos mitos raciais, designadamente com matriz religiosa, não se opunha à cidadania acrescida de Uniões como a europeia, mas não previu o fenómeno das "nações transestaduais", a expressão que vai circulando para identificar o laço que une esses agrupamentos minoritários quando espalhados por vários Estados. Com o pernicioso efeito de serem identificados por valores religiosos, que a observação pública identifica, que os poderes nacionais são obrigados a enfrentar a favor da paz, mas que definitivamente colocam barreiras aos esforços que desenvolvem os responsáveis pelas diferentes crenças, no conhecido e meritório objetivo de assumir o passado como lição a registar, e fortalecimento final de uma ética global. Ética que elimine o confronto, tantas vezes catastrófico no passado, com definição que impeça a formação das "colónias interiores", viveiro das discriminações sociais e nova sementeira dos mitos raciais que apoiam a negação da Declaração Universal dos Direitos Humanos..A condenação firme do unilateralismo, de que a ONU foi sede memorável recentemente, é uma posição indispensável para impedir ressuscitar pesadelos e tragédias de um passado próximo. Está comprovado, pelas tragédias que se multiplicam, que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que a ONU proclamou, está longe de uma aplicação e respeito generalizados à medida que a interdependência mundial cresce. E por isso, não com a esperança de que seja remédio seguro para acabar com a falta de autenticidade, mas para ajudar a que a autenticidade avance, é conveniente lembrar a Declaração Universal dos Deveres Humanos, proposta do InterAction Council de 1 de setembro de 1997, que começa por lembrar que "o reconhecimento da dignidade inerente e dos direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da família humana é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz em todo o mundo e implica obrigações e deveres". As colónias interiores são viveiro dos mitos e das discriminações.