Transporte de doentes urgentes em risco por falta de enfermeiros

Ordem denuncia casos em que doentes urgentes do Litoral Alentejano, um deles que devia ser encaminhado para a Via Verde do AVC, viram a transferência para Lisboa ser atrasada por falta de profissionais. Enfermeiros estão em greve na quinta e na sexta-feira.

A falta de enfermeiros no Litoral Alentejano já deixou em risco o transporte de doentes urgentes da região para Lisboa. Só neste verão, denuncia a Ordem dos Enfermeiros, a Unidade Local de Saúde não conseguir assegurar transporte de forma rápida por falta de profissionais disponíveis em pelo menos duas situações, uma delas a envolver uma doente que precisava de ser encaminhada para a Via Verde do AVC. O presidente da secção regional do sul da ordem garante que a situação é recorrente e estende-se a outras zonas. A falta de profissionais, a juntar às reivindicações sobre carreiras, leva os enfermeiros a fazer nova greve na quinta e na sexta-feira.

As queixas são recorrentes e unem a ordem e os sindicatos: faltam enfermeiros nos serviços. A bastonária, Ana Rita Cavaco, já reclamava a contratação de três mil profissionais por ano e diz ao DN que, dos 1700 necessários para compensar a generalização das 35 horas, ainda só chegaram 1100 aos hospitais. Ideia reforçada por Guadalupe Simões, dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, um dos promotores da greve que agora começa, ao adiantar: "Das reuniões que o sindicato já teve com as administrações hospitalares, todas reportam que as colocações de profissionais desde julho são insuficientes", esperando-se mais contratações até ao final do ano. "Sabemos que o ministro mantém essa vontade, mas falta a autorização das Finanças", acrescenta Ana Rita Cavaco.

"Faltam 21 enfermeiros só na urgência do hospital do Litoral Alentejano"

Com o fim das férias e o regresso à atividade normal nos hospitais, a bastonária relata casos de falta de resposta que preocupam a ordem, com destaque para a situação no Litoral Alentejano, que levou ao envio nesta semana de uma exposição para o Ministério da Saúde. "Faltam 21 enfermeiros só na urgência do hospital do Litoral Alentejano e já houve situações em que o transporte de doentes entre hospitais ficou em causa, porque não havia um enfermeiro para acompanhar essas pessoas."

O que está em causa, detalha ao DN o presidente da secção sul da ordem, é a falta de uma equipa especializada para transferências entre hospitais, proposta à administração da Unidade Local de Saúde, em Santiago do Cacém, há cerca de um ano. "Como a equipa de enfermagem da urgência já está abaixo dos mínimos, quando se coloca a necessidade de transportar um doente para outro hospital tentam arranjar um enfermeiro com essas competências noutros serviços, o que obriga a fazer vários telefonemas. Pode passar uma ou duas horas neste processo. Tempo que é fundamental para se iniciar o correto tratamento, ainda mais numa situação de acidente vascular cerebral, um dos casos mais recentes", conta Sérgio Branco.

Ordem enviou denúncias ao ministro

O DN questionou a Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano (ULSLA) sobre estas denúncias e se estes casos são recorrentes, mas não recebeu respostas até agora. Segundo Sérgio Branco, além dos atrasos noutros transportes, um dos doentes acabou por não ir para um hospital de fim de linha em Lisboa "porque supostamente houve uma alteração na sua situação clínica", informação que o responsável da ordem estranha. As recomendações para o transporte de doentes indicam que um dos acompanhantes deve ser o enfermeiro responsável pelo doente, com experiência em reanimação e treino em transporte de doentes críticos. Apontam ainda que um médico e um enfermeiro devem acompanhar o doente que apresente instabilidade fisiológica e que possa necessitar de intervenção emergente.

"Não é possível garantir a segurança na prestação de cuidados com este número de enfermeiros na equipa"

Num ofício enviado ao ministro da Saúde na terça-feira, a Ordem dos Enfermeiros refere que a equipa de urgências da ULSLA devia ter 63 enfermeiros mas tem apenas 47 - verificando-se nestes a existência de quatro ausências prolongadas e um enfermeiro a chefiar. "Não é possível garantir a segurança na prestação de cuidados com este número de enfermeiros na equipa. A esta situação acresce uma ausência de estratégia e organização no que se refere à recorrente necessidade de transporte de doentes críticos ou outros, tendo já a OE reportado situações em que o transporte não ocorreu em tempo útil, colocando em risco a vida da pessoa."

Na queixa que deu origem à carta enviada ao governo, os membros da equipa de enfermagem da urgência da ULSLA referem "situações em que os cuidados são assegurados abaixo das dotações mínimas devido à necessidade recorrente de transporte de doentes críticos ou inclusive para a realização de exames/procedimentos, situação que seria colmatada com a efetivação da escala de transferência de doentes proposta pela primeira vez em julho de 2017 e novamente em julho de 2018, à qual ainda não obtiveram resposta oficial".

Pressão ao governo

Os enfermeiros voltam nesta quinta-feira às greves, o primeiro de dois dias de protesto, cerca de um mês depois de uma paralisação de cinco dias. Em causa está uma falta de resposta por parte do Ministério da Saúde, que, segundo os seis sindicatos que marcaram o protesto (Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, Sindicato dos Enfermeiros, Sindicato Independente dos Profissionais de Enfermagem, Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal, Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros e Sindicato dos Enfermeiros da Região Autónoma da Madeira), "não cumpre o compromisso, não envia contraproposta de carreira de enfermagem", depois da ausência de um documento que permitia analisar a contraproposta do governo. Um protesto que serve de pressão ao governo em altura de preparação do Orçamento do Estado para 2019, como admite Guadalupe Simões ao DN.

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