Todos ganharam, todos perderam

Publicado a
Atualizado a

A coligação Ensemble foi a força política que mais deputados elegeu ontem, na segunda volta das legislativas francesas, mas os partidos leais ao presidente, Emmanuel Macron, ficaram bastante aquém dos 289 assentos que permitiriam renovar a maioria absoluta. As sondagens à boca das urnas preveem pouco mais de 230.

Já a NUPES, a aliança de esquerda construída em volta da France Insoumise, de Jean-Luc Mélenchon, afirmou-se como a grande força da oposição, quase duplicando o número de eleitos oriundos de partidos esquerdistas em relação a 2017. Mas fica longe da ambicionada vitória, que permitiria a Mélenchon ser primeiro-ministro, numa coabitação que traria problemas a Macron (que confia na primeira-ministra Élisabeth Borne). Deverá eleger cerca de 140 deputados.

O Rassemblement National, de Marine Le Pen, deverá obter o seu maior grupo parlamentar de sempre, perto de 90 deputados, o que lhe dará uma visibilidade nova no Parlamento francês. Mas, mesmo ficando à frente da direita tradicional, o partido de Le Pen continua longe do resultado da líder na segunda volta das presidenciais de abril, que então obteve 44%, e sobretudo isolado.

O partido Les Républicains deverá ter cerca de 75 deputados e até é provável que a fragmentação do Parlamento, assim como a aversão de Macron a lidar com extremismos à direita e à esquerda, lhe permita ter um papel na governação. Os seus candidatos, muitos deles com sólida implantação local, fizeram, no conjunto, também muito melhor do que Valérie Pécresse nas presidenciais, em que não chegou aos 5% na primeira volta, mas é evidente agora a crise no partido que chegou a ser considerado herdeiro do neogaullismo ao passar de segundo para quarto grupo parlamentar.

As artes negociais de cada partido e o desempenho que cada qual vai ter no Parlamento serão decisivos para avaliar o que valem as várias vitórias e até que ponto os "mas" em todas elas as anulam em boa medida. Os macronistas, sobretudo, terão dificuldade em assumir uma aura de vencedores ao tentarem apoios até de deputados independentes, enquanto, no plano oposto, os resultados dos lepenistas podem vir a revelar-se mesmo um triunfo histórico e o primeiro patamar para ambições maiores.

Esta nova pluralidade do Parlamento francês também poderia ser interpretada como uma vitória da democracia, mas com mais de metade dos eleitores a ficarem em casa é evidente que algo vai mal na República francesa, país decisivo para os destinos desta Europa a que pertencemos. Será um segundo mandato desafiante para Macron.

Diretor adjunto do Diário de Notícias

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt