Passos ataca falhas de avaliação política de Costa

O antigo primeiro-ministro esteve no El Corte Inglés a apresentar o livro de Carlos Moedas <em>Vento Suão: Portugal e a Europa</em>. Fez um ataque a Costa, numa sala apinhada de notáveis do PSD e ex-ministros do executivo que liderou.
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A sala do El Corte Inglés parecia uma recriação dos tempos de governação PSD-CDS. Pedro Passos Coelho estava ali para elogiar o autor do livro e antigo comissário europeu Carlos Moedas e aproveitar a ocasião para ajustar umas contas com o líder do PS, António Costa, a quem apontou falhas de avaliação política e de ter escolhido uma pasta "errada" para a sua comissária europeia, Elisa Ferreira.

Passos Coelho centrou-se primeiro nos elogios a Carlos Moedas, por quem disse ter uma "simpatia extrema", razão que o levou, entre outras, a aceitar o convite para apresentar o livro Vento Suão: Portugal e a Europa, 75 crónicas escritas enquanto foi comissário europeu da Investigação, Ciência e Inovação. "Um mandato com o qual prestigiou Portugal e os portugueses", garante o ex-primeiro-ministro social-democrata.

Passos Coelho - que nos últimos tempos quebrou o silêncio a que se impôs mais do que uma vez - frisou que há contraste entre o que foi dito na altura em que Moedas foi nomeado comissário europeu e o seu mandato na Comissão Europeia. "Os partidos reagiram mal. E o então líder do PS [António Costa] disse que tinha sido negativamente surpreendido pela escolha, que era uma escolha partidária", afirmou, recordando as considerações que então foram feitas sobre a sua alegada "falta de pensamento sobre as questões europeias".

"Foram escolher para comissário o mais ortodoxo dos ortodoxos do ministro [Vítor] Gaspar", palavras ditas na altura por Costa e agora criticadas por Passos. Agora, continuou, o atual governo "faz uma avaliação muito positiva do desempenho do engenheiro Carlos Moedas". Insistiu na ideia de que há um contraste entre a atitude dos socialistas perante a nomeação de Moedas e o aval que o PSD deu à nomeação da atual comissária europeia portuguesa, a socialista Elisa Ferreira.

Para Passos Coelho, Carlos Moedas "foi sempre, na minha cabeça, o candidato que Portugal devia apresentar". Porquê? "Porque era um homem da Europa, era um estrangeirado, com espírito de abertura e que melhor soube escolher equipas e geri-las." Uma certeza que não abalou nem o facto de não ter a certeza de Moedas poder mesmo ser comissário, uma vez que o governo da altura tinha de "finalizar o memorando de entendimento com a troika", um processo que exigia a participação de Moedas, então secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro.

Passos acaba a concluir que Moedas "podia ter sido ministro" e explicou porque nunca o chamou para desempenhar esse cargo: "Se ele fosse ministro não podia fazer aquela função com sucesso, [a execução do programa de ajustamento), do qual 'era o dono'."

Maria Luís ficou pelo BES

Quanto às notícias de que o nome de Maria Luís Albuquerque estaria a ser ponderado para comissária europeia, Passos Coelho admitiu que "tiveram um fundo de verdade". O então presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, contou, fez pressão para que fosse a então ministra das Finanças a escolhida para comissária portuguesa. "Aceitei equacionar", lembrou Passos.

Passos garantiu que nunca desejou a pasta dos Fundos Estruturais, a que Elisa Ferreira tem neste momento, numa nova farpa a António Costa. "Um país como Portugal que é grande beneficiário dos fundos estruturais não os devia gerir."

Passos Coelho admitiu que Maria Luís Albuquerque não foi comissária porque era ministra das Finanças e que, na altura, havia um banco já em situação crítica", que era o Banco Espírito Santo, que podia pôr em causa o sistema financeiro português. "Eu disse: Jean-Claude, não ficas pior, levas aqui quem pode ser um grande comissário.'" Risos na sala.

Lembrou ainda que foi Carlos Moedas quem negociou a pasta da Ciência, que "é uma grande pasta". E que fez do Horizonte 2020 um programa de muito fôlego, que deixou municiado com cem mil milhões de euros. "A Europa precisa desse programa como de pão para a boca."

Focou as suas palavras nos assuntos abordados por Carlos Moedas no livro, em particular a crise dos refugiados, do terrorismo e do Brexit. "Se o Reino Unido, com a dimensão que tem, é melhor que a União Europeia se prepare bem", afirmou Passos, frisando que Carlos Moedas sempre exprimiu a sua opinião, cáustica às vezes, e teve um papel de influência política na Europa. "Faça bom uso do que foi recolhendo pelo caminho", recomendou a Moedas.

Sobre outros temas de política nacional nem uma palavra. Tal como não quis falar aos jornalistas à saída. Nem sobre a eutanásia, tema acerca do qual se posicionou contra há poucos dias.

Passos "acreditou antes dos outros"

Carlos Moedas manifestou-se muito "emocionado" por ver muitos amigos, em particular Pedro Passos Coelho, por "ter sempre acreditado em mim antes dos outros". Recuou a março de 2010, quando Passos mal o conhecia, ia à luta interna para conquistar a liderança do PSD e prometeu que lhe ligava se ganhasse as diretas no partido - o que aconteceu. "Foi o primeiro passo que mudou a minha vida", disse Moedas. Depois em 2014, quando o telefone tocou e Passos lhe disse que o ia indicar para comissário europeu. "As minhas pernas tremeram", recordou o ex-comissário europeu.

Entre os notáveis que quiseram estar presentes no lançamento do livro contaram-se a ex-líder do CDS, Assunção Cristas, ministra no governo de Passos, e dois ex-candidatos à liderança do PSD, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz. Marcaram presença também Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais e antigo vice-presidente de Passos, o ex-líder parlamentar social-democrata Hugo Soares, os antigos ministros Eduardo Catroga, Miguel Relvas e Paula Teixeira da Cruz e antigos deputados como Carlos Abreu Amorim e Maurício Marques e ainda os deputados Emídio Guerreiro e Pedro Alves.

Na sala do El Corte Inglés, completamente a abarrotar, esteve também o antigo líder do PSD Marques Mendes, Francisco Pinto Balsemão, Leonor Beleza, presidente da Fundação Champalimaud, o ex-líder parlamentar do PSD Fernando Negrão, o antigo assessor de Cavaco Silva Fernando Lima, entre muitos outros.

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