Ínclita Geração, e não só

Publicado a
Atualizado a

Quando hoje, ao meio-dia, os Red Arrows sobrevoarem de maneira festiva Lisboa, juntamente com os aviões da Força Aérea Portuguesa, devemos recordar a importância desta aliança luso-britânica com 650 anos, formalização de uma antiquíssima relação que data da ajuda dos Cruzados ingleses a D. Afonso Henriques na conquista da nossa capital e que teve ao longo da História os seus momentos altos (Aljubarrota, Restauração, Guerras Napoleónicas) e também alguns baixos (Ultimato).

Há, naturalmente, muito de geopolítica nesta aliança e quem a tente explicar pela importância estratégica de Lisboa como porto atlântico e pela necessidade histórica de o Império Britânico contrariar uma Espanha demasiado poderosa se conseguisse controlar toda a Península Ibérica. Prefiro neste contexto de celebrações, que há dias teve um momento alto no encontro em Londres do presidente Marcelo Rebelo de Sousa com o rei Carlos III, destacar um dos mais notáveis resultados desta aliança: os príncipes nascidos do casamento de D. João I com D. Filipa de Lencastre. "A rainha inglesa que gerou portugueses geniais" foi o título de um artigo que dediquei há uns anos à filha de John de Gaunt, cabeça da Casa de Lancaster. Luís Vaz de Camões chamou aos filhos do casal a "Ínclita Geração" no canto IV d"Os Lusíadas e Fernando Pessoa, na Mensagem, pensando na inglesa que se fez portuguesa, interrogou-se sobre "que enigma havia em teu seio/que só génios concebia".

Entre os "génios" estava o infante D. Henrique, aquele a quem a historiografia anglo-saxónica chama de Henrique, o Navegador. Se pensarmos que nada moldou mais o papel de Portugal no mundo do que os Descobrimentos, não deixa de ser curioso que até nisso a aliança luso-britânica tenha tido um papel. Aliás, no tal artigo publicado em 2019, o embaixador do Reino Unido em Lisboa, Chris Sainty, destacava isso: "O casamento de D. João I com D. Filipa de Lencastre em 1387 formalizou uma amizade entre os nossos dois países, que já era profunda, e estabeleceu uma aliança que perdura há mais de 600 anos. Um dos filhos deste casamento, o infante D. Henrique, o Navegador, foi o grande estratego que esteve na origem da Era dos Descobrimentos portugueses."

Olhemos, pois, para os céus hoje, em homenagem a esta relação de mais de seis séculos. Já não estamos juntos na União Europeia, mas somos parceiros na NATO e sobretudo continuamos sólidos aliados.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt