Lisboa vai ter mais 8 km exclusivos para transportes públicos
A Câmara de Lisboa vai aumentar as faixas exclusivas para os transportes públicos em oito quilómetros até junho do próximo ano. Nessa altura a cidade ficará com 108 quilómetros de corredores dedicados a autocarros, elétricos e táxis.
Esses novos corredores surgirão nas avenidas Álvares Cabral, Engenheiro Duarte Pacheco (num troço entre o Liceu Francês e a Rua da Artilharia Um), Berna, Miguel Bombarda, António José Almeida.
Serão ainda reforçadas e alargadas as faixas BUS já existentes na Avenida da Liberdade, adiantou ao DN fonte do gabinete do vereador Miguel Gaspar, responsável pelos pelouros da Mobilidade e Segurança na Câmara de Lisboa.
Recentemente foi aberto um corredor BUS entre a Avenida Infante D. Henrique e Marvila e estão a ser reforçadas as faixas já existentes em algumas zonas da cidade, como nas avenidas Infante Santo, Junqueira, Brasil e Columbano Bordalo Pinheiro ou na Alameda das Linhas de Torres.
Esta aposta no aumento e reforço das faixas de BUS tem como objetivo aumentar a velocidade dos autocarros da Carris - que rondou em 2017 os 13,9 quilómetros por hora em média - de forma a melhorar o serviço e conquistar mais passageiros. No ano passado transportou 122,4 milhões de passageiros.
Nesta estratégia de melhoria do serviço da empresa insere-se um investimento de mais de cem milhões de euros na aquisição de autocarros - até ao final de outubro devem começar a entrar ao serviço os primeiros veículos -, elétricos, manutenção das infraestruturas e postos de abastecimento.
De acordo com as informações recolhidas pelo DN, está em fase adiantada de projeto a instalação de um canal exclusivo para os transportes públicos na Estrada de Benfica. É o chamado corredor de alto desempenho, pois os autocarros terão ainda mais prioridade do que atualmente e o canal terá menos cruzamentos, potenciando a velocidade do transporte de passageiros. Este canal deverá entrar em funcionamento no início de 2019.
"Tive um grande orgulho de conduzir um elétrico que eu também já tinha conduzido, até a fazer carreiras turísticas. É a cereja no topo do bolo conseguir fazer um desfile com 'o meu' elétrico", conta o coordenador geral de tráfego da Carris, Alfredo Gama, que neste domingo teve a oportunidade de tirar o pó ao antigo 283, no desfile de elétricos históricos que marcou o início da Semana Europeia da Mobilidade.
Às 11.00, o elétrico com 116 anos, mais de onze metros de comprimento e capacidade para 48 pessoas sentadas e mais seis de pé, abandonou o Museu da Carris, em Alcântara, em direção à Praça da Figueira, liderando uma comitiva de cinco carros que habitualmente estão no Museu da Carris.
Alfredo Gama foi no comando, seguido por mais quatro elétricos que desfilaram por Lisboa, e o espanto de quem os viu passar foi acompanhado pelas várias fotografias que registaram o momento. Não é todos os dias que os elétricos antigos saem à rua.
O passeio foi rápido e no regresso duas senhoras sentadas num banco na Rua 1.º de Maio comentaram a fila de elétricos: "São os antigos."
Já no Museu da Carris, o guarda-freio perguntou se os passageiros sabiam qual é "o pó que faz andar os elétricos", antes de os deixar sair do veículo. "O pode seguir", satirizou.
Alfredo já foi auxiliar na Carris, limpa vias, esteve na área oficinal, foi guarda-freio, motorista, e há 23 anos que é formador para condutores de autocarros e guarda-freios de elétricos da Carris.
"O 283 era o elétrico que fazia um circuito turístico nos anos 1990. Metade [do percurso] era feita pelo 283, e [a outra] metade pelo autocarro 201", explicou.
O guarda-freio explicitou que este elétrico "é diferente", porque não tem "sistema pneumático, por isso, os freios são todos manuais" e parece que se está a "dar corda ao elétrico" para "acionar os travões mecânicos".
Alfredo Gama disse que conduzir este velho elétrico "requer, da parte do guarda-freio, uma certa capacidade física e uma agilidade um bocadinho acima da média" para poder "parar e imobilizar o veículo antes de ter algum acidente na via pública".
"Os outros todos [que participaram no desfile] já têm sistema pneumático, tirando o 444, que é muito idêntico a este. Todos os outros já são uma nova tecnologia de elétricos, e esses já têm sistema pneumático, o que de certa maneira consegue que o guarda-freio tenha uma vida mais tranquila, mais folgada", acrescentou.
A última vez que conduziu este elétrico foi "para aí em 1991". Agora, só mata saudades de vez em quando: "Eu dou formação e, esporadicamente, ele sai quando temos ações de formação. Agora, em relação a serviços, já há muitos anos que não tinha o prazer e o privilégio de conduzir o que, para mim, é o elétrico mais bonito da frota da Carris."
O presidente da Carris, Tiago Farias, foi um dos passageiros do 283 e considerou que este desfile foi "um enorme sucesso" e a melhor forma de começar a Semana Europeia da Mobilidade, uma vez que "há mais de 100 anos que os elétricos operam em Lisboa", e permite também "relembrar os momentos" em que "os elétricos históricos" eram utilizados.
Questionado sobre a intenção de a empresa repetir o evento nos próximos anos, Tiago Farias afirmou que a Carris "tem todo o interesse em vir a repetir este evento, porque traz as pessoas para as ruas".
"Com certeza que iremos fazer novas edições", vincou.
Cerca de 250 pessoas puderam inscrever-se neste desfile, dividido em dois horários, e o presidente da empresa municipal de transportes públicos de Lisboa salientou que as inscrições pareciam ser para "um concerto de rock", porque "esgotaram quase de imediato".
Tiago Farias explicou também que para trazer estes elétricos antigos para a rua foi preciso "fazer as revisões necessárias para garantir que mecanicamente e eletricamente tudo funciona em condições" e deixou o lembrete de que o Museu da Carris vai ter entrada grátis até sábado.
O vereador da Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa, Miguel Gaspar, disse que o evento mostrou que "as pessoas têm muito carinho pelos elétricos" e os antigos voltaram a andar para "mostrar o que era a Carris antes e o que vai ser no futuro".
O autarca falava aos jornalistas no final do desfile e revelou que o primeiro autocarro adquirido pela autarquia para reforçar a frota da Carris já está em Lisboa mas ainda está a ser "ultimado".
"Um autocarro não chega e está pronto a usar. Ele chega, entra nos armazéns da Carris, é equipado com os sistemas de bilhética, os sistemas de controlo", explicou, acrescentando que os motoristas também vão receber formação no autocarro e que este deverá estar em circulação no final do próximo mês.
"Não tenho muitas dúvidas de que antes do final de outubro vamos ter os primeiros já no serviço público de transportes a fazer serviço à população", vincou, acrescentando que os primeiros veículos vêm "mais devagarinho nas primeiras semanas, mas até julho vão chegar mais autocarros".
A Câmara de Lisboa comprometeu-se em fevereiro a adquirir 165 novos autocarros movidos a gás natural. A estes vão-se juntar 15 veículos elétricos, que devem estar na rua no primeiro trimestre do próximo ano.
"Este autocarro é um elétrico, este elétrico é um autocarro", brincou o vereador do executivo liderado por Fernando Medina (PS).
Miguel Gaspar avançou também que o município da capital vai adquirir mais elétricos e lembrou também que a última vez que houve aquisição de elétricos tradicionais foi em 1985 e que "a última vez que se comprou [os elétricos maiores] foi em 1995".
"Vamos finalmente comprar elétricos passados 30 anos", salientou.
A empresa rodoviária da Câmara de Lisboa "está a ultimar os cadernos de encargos" para comprar mais veículos: "São cerca de 20 elétricos que vão ser encomendados."
Estes elétricos vão ter características semelhantes ao 15E - que faz o percurso entre Algés e a Praça da Figueira - e vão permitir expandir as linhas "para o Jamor" e "chegar a Santa Apolónia".
"Ao mesmo tempo também estamos a trabalhar no caderno de encargos dos [elétricos] mais pequenos", rematou, sublinhando que "já não se fabricam" e, por essa razão, o projeto camarário vai demorar "mais tempo".