O que esperar da terceira cimeira entre Kim Jong-un e Moon Jae-in?
Moon Jae-in irá tornar-se nesta terça-feira o terceiro presidente sul-coreano a pisar solo da capital norte-coreana desde a divisão da Península, na sequência do fim da Segunda Guerra Mundial e, depois disso, em 1950, da Guerra da Coreia. Antes de si, só Kim Dae-jung e Roh Moo-hyun o fizeram, em junho de 2000 e em outubro de 2007, nas cimeiras em Pyongyang.
À sua espera, em Pyongyang, estará o presidente norte-coreano, Kim Jong-un. Trata-se da terceira cimeira realizada neste ano entre os líderes máximos da Coreia do Norte e da Coreia do Sul. As anteriores aconteceram a 27 de abril e a 28 de maio, na Área de Segurança Conjunta da Zona Desmilitarizada da Coreia, em Panmunjon, fronteira entre as duas Coreias.
O primeiro encontro decorreu no setor sul-coreano e resultou na Declaração de Panmunjon. Nela, entre outras coisas, o Norte e o Sul comprometeram-se a fazer "esforços conjuntos para aliviar a tensão militar e resolver a ameaça de guerra", a avançar com "esforços de autorreunificação mediante completas e inovadoras medidas de reforma e desenvolvimento, para uma prosperidade comum e reencontro das famílias coreanas divididas" e ainda a "desenvolver todos os esforços para obter apoio e cooperação internacional para a facilitação da desnuclearização".
O segundo encontro também decorreu na área conjunta de segurança, durou apenas duas horas e não foi anunciado ao público com antecedência. No mês seguinte, a 12 de junho, em Singapura, Kim Jong-un reuniu-se com Donald Trump, o presidente dos EUA, país que é outro dos atores-chave do processo de reaproximação intercoreano, bem como do processo para se chegar a uma desnuclearização da península e a um tratado de paz real. Isto porque, tecnicamente, Coreia do Norte e Coreia do Sul continuam em guerra, até hoje, porque um tal tratado nunca chegou a ser assinado.
Trump e Kim Jong-un comprometeram-se, na altura, a estabelecer novas relações entre os EUA e a Coreia do Norte, unir esforços para construir um regime de paz duradouro e estável e trabalhar para a desnuclearização completa da península.
O processo tem estado, entretanto, meio bloqueado, com o presidente da Coreia do Norte a indicar que está disponível para desmantelar o seu sistema de mísseis em troca da assinatura de um tratado de paz.
"A Coreia do Norte tem vontade de efetuar a desnuclearização e, portanto, desfazer-se das suas armas nucleares (...) e os Estados Unidos têm vontade de pôr fim às relações hostis com o Norte e dar garantias de segurança", declarou o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, no final de uma reunião com os seus conselheiros, na quinta-feira passada.
"Mas há bloqueios pois cada lado exige ao outro que atue primeiro. Penso que vão estar em condições de encontrar um ponto de compromisso", sublinhou o líder da Coreia do Sul, admitindo um clima ainda de desconfiança no ar.
Para Washington, a desnuclearização tem de ser "definitiva e inteiramente verificada" e o processo está bloqueado há várias semanas. No dia 10, o presidente norte-americano confirmou ter recebido uma carta de Kim Jong-un, sugerindo a organização de uma nova reunião de alto nível entre os dois.
Um sinal positivo, porém encarado com cautela, sobretudo depois de Trump ter anulado, no fim de agosto, uma deslocação a Pyongyang do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, devido aos insuficientes progressos na questão nuclear.
"É evidente que as negociações com a Coreia do Norte estão bloqueadas, os defensores da ala dura, em Washington e em Seul, especialmente em Washington, vão começar a tentar tirar vantagens e, provavelmente, começar a exigir um regresso à política de pressão política o mais rapidamente possível", disse Andrei Lankov, professor na Universidade Kookmin de Seul, em declarações ao site da Al-Jazeera.
Lankov, observador de longa data do que se passa na Coreia do Norte e, por isso, cético em relação à desnuclearização, diz que caberá aos sul-coreanos promover uma "diplomacia inteligente" que impeça os defensores da ala dura de "levar por diante a sua política belicosa".
Citado pelos media internacionais, Moon Chung-in, conselheiro especial para o presidente da Coreia do Sul, afirmou que um dos cenários possíveis seria a Coreia do Norte concordar em que os EUA ficassem responsáveis por parte - senão a totalidade - das suas armas nucleares. E, em troca, os EUA aliviariam as sanções económicas contra Pyongyang, permitindo ao seu regime oferecer melhores condições de vida aos cidadãos norte-coreanos.
Porém, a Coreia do Norte de Kim Jong-un receia que possa acontecer o mesmo que aconteceu na Líbia a Muammar Kadhafi: abdicou do programa nuclear e, no fim de contas, acabou morto às mãos da população, após intervenção militar da NATO. Foi há sete anos, a 20 de outubro.
Na administração Trump, o conselheiro de Segurança do presidente, John Bolton, não se coibiu em admitir, aliás, que o "modelo líbio" poderia ser usado para a Coreia do Norte. Por tudo isto, não haverá muito a esperar desta terceira cimeira entre Kim Jong-un e Moon Jae-in, sem ser uma tentativa de desbloquear o bloqueio.