Rola-brava já quase não se vê, mas caça abre neste domingo
Até aos anos de 1990 era uma das aves mais comuns em Portugal, mas três décadas chegaram para que a situação se alterasse de forma drástica. Hoje, a rola-brava, ou rola-comum, como também é conhecida, já não é nada comum. Depois de uma quebra abrupta nos números das suas populações, da ordem dos 80%, de 1994 para cá, a rola-brava tem agora estatuto de "vulnerável". Um problema, com a época de caça aí à porta, ainda que as restrições à caça à rola tenham apertado.
A atividade cinegética inicia-se a 18 de agosto e termina no fim de setembro. Neste ano a caça a esta espécie está reduzida a metade do que costumava ser graças a um memorando de entendimento assinado em julho entre as associações de caçadores e as organizações não governamentais (ONG) de ambiente, a que se juntaram o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária.
Segundo o protocolo, a partir de 2020, a caça à rola será ainda mais restringida, sendo possível apenas durante quatro dias no ano. "Não se foi tão longe quanto se devia ter ido porque esta não devia ser sequer uma espécie cinegética, esta caça devia ser proibida, mas é um passo", afirma Nuno Gomes Oliveira, dirigente da FAPAS, uma das seis ONG que subscreveram o protocolo, sublinhando que "os próprios caçadores já perceberam que continuando a caçar esta espécie, ela acabará por desaparecer".
Nuno Gomes Oliveira dá um exemplo: "Nos anos de 1970 anilhei milhares de rolas-bravas e agora não vejo uma há anos."
Além do passo dado na direção certa, como sublinha o dirigente ambientalista, o protocolo tamb
ém "evitou que Portugal fosse admoestado pela União Europeia e viesse a pagar uma multa se não tivesse tomado medidas, como aconteceu agora com a Espanha e com a Grécia".
Para as associações de caça que assinaram o memorando também vai ser preciso fazer mais, e não só em Portugal. Jacinto Amaro, que na cerimónia de assinatura do protocolo falou em nome das associações, referiu que, por a rola ser uma espécie migratória, a decisão envolvendo apenas Portugal poucos resultados terá, sem o apoio pelo menos de Espanha, e acrescentou que seria bom que todos países da bacia mediterrânica do lado europeu tomassem decisões idênticas.
Nuno Oliveira Gomes concorda: "Em Marrocos, a caça a esta espécie é livre, e se não houver um esforço para que diminua, estamos a conservar aqui para as caçarem lá", resume.
Na altura da assinatura do protocolo, há menos de um mês, o ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Capoulas Santos, reconheceu, por seu turno, que ser só Portugal a restringir a caça à rola-comum não chega, mas prometeu iniciar contactos com o governo espanhol nesse sentido. "Se ficarmos imóveis o problema só tende a agravar-se", afirmou o governante, notando que Portugal está a "dar o exemplo".
Em resultado da assinatura do documento, neste ano, a espécie só pode ser caçada no território português entre o nascer do Sol e as 13.00. E a partir de 2020 esta espécie só poderá ser caçada durante quatro dias por ano.
As contagens anuais das aves migradoras mostraram nas últimas décadas uma diminuição progressiva e consistente dos números desta espécie, e os apelos das ONG para a adoção de medidas de conservação foram-se sucedendo. As quebras nas populações de rola-brava verificam-se, de resto, por toda a Europa.
A perda de habitat devido à desertificação do território, com o abandono da agricultura e a caça não sustentável são as principais causas da situação. Invertê-la, e salvar a espécie, é o objetivo das medidas adotadas, mas todos reconhecem que vai ser preciso fazer mais. E não apenas em Portugal.