Seis Concertos Brandeburgueses de Bach num único concerto nas Noites de Queluz

Último ciclo da temporada de música da Parques de Sintra-Monte da Lua começa nesta quinta-feira (dia 17) e prolonga-se até dia 10 de novembro. Cartaz alinha dez concertos, com a novidade de dois concertos para famílias.
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Massimo Mazzeo, maestro e diretor artístico do ciclo Noites de Queluz, fala de "uma conjugação astral" na proposta inaugural da edição deste ano: "É difícil encontrar um agrupamento disposto a fazer os seis Concertos Brandeburgueses, de Bach, num único concerto, pois é preciso ter o gosto do risco e dar uma garantia absoluta de qualidade. Por isso, a oportunidade que se verificou de poder ter o Ensemble Zefiro a fazê-los em Queluz foi realmente afortunada."

Segundo Massimo Mazzeo, "já há uns bons anos que não se ouve os Brandeburgueses em Lisboa, mas a espera terá valido a pena: este concerto será memorável". Para mais, tratando-se, como diz, de obras que "fariam parte de qualquer lista de património musical da humanidade", pelo que "a experiência de ouvir os seis é uma verdadeira viagem através de uma revolução na história da música ocidental".

Além de Bach, o ciclo deste ano estará sobretudo centrado na Paris, Viena e Itália do século XVIII: "São os pontos nevrálgicos de passagem da música europeia na época e será sempre nossa missão confrontar o público com a grande cultura Setecentista centro-europeia", afirma.

Não confronto, mas encontro, é o que terá lugar nos concertos para famílias, novidade da edição deste ano: "Queremos olhar e preparar as próximas gerações, pois a experiência da cultura tem de captar todo o arco da vida. A nossa intenção é criar algo que fique inscrito no núcleo familiar e que se vá tornando adquirido, como um hábito. E, idealmente, suscitar o debate intrafamiliar: a troca de opiniões, impressões, sensações sobre aquilo a que assistiram."

Partindo da Cantata do Café, de Bach, e das Quatro Estações, de Vivaldi, vai-se "desestruturar essas obras, introduzir diálogos em português, e o ator João Reis, que fará a conexão entre músicos/peça e público, irá também desafiar as pessoas a participar. Em suma, é um work in progress sob o lema da interação, mas é também um percurso que quer fazer cada um pensar e levá-lo a descobrir, por essa via, que cada obra de arte nos leva numa viagem de descoberta(s) que é só nossa".

A novidade da vertente formativa insere-se num balanço: "À 5.ª edição, com uma proposta já solidificada e reconhecida, era tempo de fazer balanço e decidir que passos tomar a seguir. E não podíamos deixar de considerar os públicos tão diversificados que visitam os espaços da Parques de Sintra e a que chegam as atividades, além-música, que decorrem nesses espaços. Por isso decidimos correr este risco e dirigirmo-nos a essas pessoas: interessá-las, dar-lhes uma vivência que se calhar nunca tiveram, integrar esta música nos seus hábitos culturais." Algo que, relata, já testemunhou nos próprios ciclos: "Veja, eu estou presente em todos os concertos, cumprimento quase toda a gente e falo com muitas pessoas. E várias delas disseram-me que começaram a ir ouvir música clássica com estes concertos - vieram e regressaram! Nós também fazemos estatísticas: a percentagem pode ser ainda pequena, mas está lá, e é para crescer!"

Massimo Mazzeo é peremptório ao afirmar haver ainda "imenso espaço para crescer em termos de participação do público, quantitativa e qualitativamente". Uma via que, defende, visa antes de mais a "criação de massa crítica e promoção do pensamento crítico" por meio de propostas (concertos) que "centrem a alma de cada espectador e sejam experiências estéticas significativas". A "receita" e ao mesmo tempo o desafio do programador passa, diz, por "potenciar e privilegiar sempre uma conexão muito forte, mas também fluida e harmoniosa, entre a relevância das obras, a adequação dos artistas chamados para as interpretar e o espaço onde decorre esse encontro de artistas/obras com o público", neste caso as salas do Trono e da Música do Palácio. Conexão que será, no limite, "como um estado de graça, sem deixar de ser familiar e intimista".

Além dos Brandeburgueses e das famílias, há na edição deste ano duos, trios e quartetos de câmara (dias 24, 25 e 26 e dia 1), trazendo intérpretes como o Quarteto Chiaroscuro, o violoncelista Christophe Coin ou o violinista Giuliano Carmignola; há uma panorâmica das cantatas sacras de Bach com a mezzo Angelika Kirchschlager em data apropriada (véspera de Todos-os-Santos); e dois concertos para ensemble instrumental/orquestra, que nos levam à Viena de Mozart e Beethoven (dia 9) e à Paris da Revolução (dia 10).

Programa

Noites de Queluz-Tempestade e Galanterie

de 17 de outubro a 10 de novembro

Palácio Nacional de Queluz

Bilhetes: 15€ (avulso); 128€ (ciclo total)

Concertos para famílias: dias 27/10 e 3/11. Entrada gratuita para crianças e jovens até aos 16 anos.

Mais informações: parquesdesintra.pt ou no Facebook

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