Uma "volta de mar" encheu de tragédia o Mestre Silva

Barco de pesca da Póvoa de Varzim terá sido surpreendido por uma vaga de ondulação forte e naufragou ao largo de Esmoriz, provocando um morto e três desaparecidos. O mestre da embarcação foi resgatado com vida.
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Por volta das sete da manhã desta segunda-feira, o Rafael Silva falou ao telefone com a mulher. Tudo parecia normal a bordo do Mestre Silva, a embarcação batizada com o apelido do seu mestre e armador que tinha saído para o mar na noite de domingo e se encontrava ao largo da costa de Esmoriz. Pouco tempo depois, por volta das 8.00, um sinal enviado pelo sistema de sinalização do barco de pesca dava o alerta de naufrágio, que provocou um morto e três desaparecidos entre os cinco tripulantes. O mestre Rafael Silva, de 54 anos, foi resgatado com vida por um helicóptero da Força Aérea e transportado para o hospital de Santa Maria da Feira.

"Uma volta de mar inesperada" terá provocado o naufrágio da embarcação, que opera a partir de Matosinhos mas está registada na Póvoa de Varzim, explicaria mais tarde José Festas, presidente da Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar. "Disse-me que estavam todos a trabalhar quando foram surpreendidos por uma 'volta de mar', uma vaga forte, que virou a embarcação. Depois disso já não tem noção de mais nada", explicou o dirigente, depois de ter conversado no hospital com o único sobrevivente confirmado deste acidente que ocorreu a dez milhas (19 km) da costa Esmoriz, em Espinho, distrito de Aveiro.

Natural de Caxinas, comunidade piscatória de Vila do Conde, Rafael Silva, o mestre do Mestre Silva, foi internado com hipotermia, mas "está bem", informou José Festas. Ficou internado para observações. Também resgatado, mas já sem vida, foi António Manuel Cristelo de Sousa, de 52 anos, natural da Póvoa de Varzim. Desaparecidos continuam, ao final desta segunda-feira, António Pontes Fangueiro, de 64 anos, também de Caxinas, e dois pescadores indonésios: Mohamad Joni, de 33, e Ardiansyah Nasution, de 26.

Estes últimos fazem parte da recente vaga de quase 200 pescadores vindos da Indonésia para fazer face à falta de mão-de-obra nas comunidades piscatórias do norte do país. A agência internacional de recrutamento responsável pela vinda desses imigrantes já foi alertada para entrar em contacto com os familiares na Indonésia e encetar os procedimentos legais necessários. "Todos eles estão legalizados", assegura o presidente da Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar. Como legalizada estava também a embarcação, de cerca de 12 metros, com as vistorias em dia até junho do próximo ano, informou o capitão do Porto de Leixões, Rodrigues Campos.

Segundo José Festas, a embarcação estava equipada com todos os meios de segurança, designadamente balsa salva vidas, mas não terá havido tempo para os acionar e os tripulantes não estariam a usar os coletes. "A associação tudo tem feito para evitar mortes, através da implementação de vários meios de segurança, mas risco zero é impossível. Há coisas que não se controlam", referiu o mestre e armador, que assegurou também que Rafael Silva é um mestre experiente com décadas de dedicação ao mar.

A embarcação emitiu um alerta automático através do EPIRB - Emergency Position Indicating Radio Beacon -, o sistema de rádio de emergência, um sinal que pode ser ativado manualmente ou automaticamente quando os barcos se afundam e atingem os quatro metros de profundidade.

As buscas foram ativadas de imediato pela capitania do Porto de Leixões e decorreram durante todo o dia, por mar e pelo ar, envolvendo "dois aviões e um helicóptero da Força Aérea, três embarcações Polícia Marítima de Leixões, da Estação Salva-vidas de Leixões e da Estação Salva-Vidas do Douro, uma embarcação de pesca próxima da zona do naufrágio e um navio mercante que cruzava a área", informou a Marinha.

"Desde o alerta [do acidente] e até ao pôr do Sol foram efetuadas buscas aéreas e de superfície, numa extensão total de 260 km2", acrescenta o comunicado. Ao fim da tarde, aqueles meios suspenderam as operações e regressaram a terra, mas as buscas vão prosseguir durante a noite com a chegada, esperada, da corveta Jacinto Cândido. Nesta terça-feira, todos os meios de busca voltam a ser ativados.

A preocupação de Marcelo Rebelo de Sousa

Através de uma nota publicada no site da Presidência, Marcelo Rebelo de Sousa assinalou ao final de segunda-feira a preocupação pelos três tripulantes desaparecidos. "Na sequência do naufrágio da embarcação Mestre Silva ao largo de Esmoriz, o Presidente da República contactou o mestre José Festas, presidente da Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar, a quem expressou a sua preocupação pelos três pescadores, ainda dados como desaparecidos, tendo também manifestado o desejo de rápidas melhoras ao sobrevivente hospitalizado", lê-se na nota.

No mesmo comunicado, Marcelo Rebelo de Sousa lamenta também que um dos pescadores que seguiam na embarcação tivesse já sido encontrado sem vida: "Lamentavelmente, a dureza das condições meteorológicas sentidas nos últimos dias [tempestade Leslie], que afetaram tantos portugueses sobretudo na zona centro do país, e, em particular hoje, a dureza da força do mar acabou por ceifar precocemente a vida de um dos elementos da Mestre Silva, expressando o Presidente da República as mais sentidas condolências aos seus familiares e amigos."

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