Ibero-americanos

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Tive pouca sorte na única cimeira ibero-americana que cobri para o DN, a de 2008 em El Salvador. Basta dizer que Fidel Castro não compareceu e o líder cubano era sem dúvida a grande estrela destas reuniões a juntar os três países da Península Ibérica (sim, também Andorra) e os 19 de língua espanhola e portuguesa das Américas (a falar português só o Brasil, mas é um gigante tanto em território como em população). Numa das cimeiras em Portugal, a realizada no Porto em 1998, El Comandante até foi feito membro da Confraria do Vinho do Porto, honra também dada aos outros participantes, mas com as atenções dos fotógrafos claramente centradas no cubano, com as características vestes e chapéu.

Capaz de disputar o protagonismo com o presidente cubano só mesmo Juan Carlos e ficou memorável o seu "por qué no te callas?" ao venezuelano Hugo Chávez na cimeira de 2007 em Santiago do Chile. Felipe VI cumpre hoje bem o seu papel, mas, admitamos, não tem nem o peso político do pai, um dos coveiros do franquismo, nem o seu peculiar sentido de teatralidade, tão apreciado do outro lado do Atlântico.

Nessa cimeira de 2008, José Sócrates era então primeiro-ministro e usou da palavra em San Salvador de forma original ao apresentar o computador Magalhães como um produto português que até pelo nome tinha tudo para ser um sucesso na Ibero-América. Na época já se negociava a exportação de milhões de pequenos computadores para as escolas venezuelanas, mas a ambição portuguesa era de incluir mais países. Vários líderes foram filmados a teclar no Magalhães que Sócrates ofereceu a todos, mas no fim o negócio ficou aquém do esperado por Portugal.

Ontem, em Madrid, celebraram-se os 30 anos de cimeiras ibero-americanas, a primeira tendo sido no México, em Guadalajara, em 1991. E o presidente Marcelo Rebelo de Sousa esteve presente, ao lado do rei de Espanha e de vários outros governantes. O balanço político e económico é pouco expressivo, mas as cimeiras têm servido pelo menos para evidenciar a afinidade cultural entre os 22 países participantes e o enorme potencial que pode advir de uma integração mais trabalhada, afinal estamos a falar de 700 milhões de pessoas, um enorme mercado visto de Portugal e até de Espanha. É para continuarmos a participar, claro.

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