Putin e os presidentes dos EUA. À quarta é de vez?
A chegada de Vladimir Putin ao cargo de primeiro-ministro, em agosto de 1999, deu-se poucos meses depois do bombardeamento de Belgrado por parte da NATO.
A resposta da Aliança Atlântica à guerra no Kosovo marcou o fim da aproximação entre Washington e Moscovo.
O anterior primeiro-ministro, Yevgueni Primakov, em protesto, tinha ordenado ao comandante do avião que o levava para Washington para dar meia volta, ao saber do ataque iminente à capital da Jugoslávia.
Putin, para quem o desmoronar da União Soviética foi a "maior catástrofe geoestratégica do século XX", terá visto com desagrado o aliado histórico acabar como a URSS e a NATO expandir-se para Leste durante a presidência de Bill Clinton.
Após ter-se reunido pela primeira vez com o russo, agora presidente, numa cimeira na Eslovénia, em junho de 2001, George W. Bush elogiou-o. Viu nele um homem "franco e de confiança", do qual ficou com "uma ideia da sua alma, um homem comprometido com os interesses do seu país".
A reaproximação é confirmada pelos ataques de 11 de setembro de 2001. Vladimir Putin, que tinha iniciado a segunda guerra na Chechénia, é o primeiro líder a contactar Bush após a tragédia e a oferece a sua solidariedade na "guerra contra o terrorismo".
Mas cada qual seguirá o seu caminho. A invasão do Iraque, em 2003, é o ponto de não retorno. No ano seguinte, a chamada revolução laranja, na vizinha Ucrânia, é vista com suspeição por Moscovo.
Em 2007, Putin demoliu a política de relações internacionais dos EUA. Ao discursar na Conferência de Segurança de Munique, insurgiu-se contra o que dizia ser a tentativa norte-americana de impor um mundo unipolar.
Em 2008, enquanto os olhos estavam nos Jogos Olímpicos de Pequim, o exército russo entra na Geórgia, então liderada pelo pró-ocidental Mikhail Saakashvili, e dá a independência de facto a duas regiões separatistas e pró-russas, a Ossétia do Sul e a Abecázia.
Em 2009, o presidente que chegou à Casa Branca com o lema de acreditar na mudança, Barack Obama, vê a secretária de Estado Hillary Clinton oferecer ao homólogo Serguei Lavrov um artefacto com um botão vermelho. Um presente simbólico para as relações entre os países serem reiniciadas.
Augúrio do que o futuro iria reservar, a tradução para russo de reset foi mal feita, como de pronto notou Lavrov.
Na época, Vladimir Putin era primeiro-ministro, tendo deixado a presidência para o seu braço-direito Dmitri Medvedev.
A prioridade de Obama em ver um mundo livre de armas nucleares valeu-lhe um Nobel da Paz e a assinatura, em 2010, de um tratado de desarmamento nuclear com a Rússia.
Mas a partir de 2011 a espiral negativa começou. Moscovo não vetou a intervenção na Líbia, mas o assassínio de Muammar Kadhafi e o caos que se seguiu marcaram nova e irreparável divisão.
No ano seguinte, o Congresso dos EUA aprovou sanções contra cidadãos russos após a morte na prisão do jurista Sergei Magnitsky, o que leva à resposta no mesmo campo.
Já com Putin de regresso formal ao Kremlin, 2014 é o ano em que a Ucrânia está no centro de todos os desentendimentos.
O acordo de parceria económica com a União Europeia, que acabou por não ser assinado, está por trás da crise. O governo ucraniano assina um empréstimo com Moscovo. As manifestações pró-ocidentais em Kiev resultam em mais de uma centena de mortos e na fuga do presidente Yanukovich para a Rússia.
Mas os pró-russos respondem com o eclodir de insurreições separatistas no leste do país, com o apoio encoberto de Moscovo, e a anexação da península da Crimeia, onde a Rússia mantinha a única base naval russa no mar Negro.
Em resposta, quer os Estados Unidos quer os seus aliados impõem uma série de sanções económicas à Rússia.
Já havia pontos suficientes de desacordo entre Putin e Obama quando, em 2015, a Rússia decide intervir na guerra da Síria para salvar o regime do seu único aliado da região, Bashar al-Assad. A discórdia com a Casa Branca no que respeita à estratégia para a Síria - e Médio Oriente por extensão - não podia ser maior.
Enquanto Moscovo e Washington se opõem em quase todos os temas, o candidato Donald Trump prometeu restaurar as boas relações com a Rússia e elogiou Vladimir Putin várias vezes.
"Acho que vou ter uma ótima relação com Putin", afirmou.
Mas a sua eleição fica sob suspeita de ter contado com a ajuda dos russos, o que leva à investigação, ainda em curso, do procurador especial Robert Mueller.
O caso do ex-espião Skripal e as acusações por parte do Reino Unido de que o envenenamento é da responsabilidade do Kremlin levaram ao recrudescer de expulsões recíprocas de diplomatas e a novas sanções.