Um país em greve
Ao fim de três anos de governo é cada vez mais aplicável a máxima de que "podes enganar todos durante algum tempo e alguns sempre, mas não podes enganar todos sempre". Apesar da propaganda inicial, é claro aos olhos de todos que afinal o governo falhou aos seus compromissos e noutros casos oscilou entre a incompetência e a displicência. Quem prometeu tudo a todos vê-se agora que afinal nunca esteve em condições de cumprir.
Depois de um mês de novembro com muitas greves, o mês de dezembro não será diferente. Há 47 pré-avisos de greves, até ao final do ano, em 11 áreas da administração pública, desde a justiça aos hospitais, passando pela inspeção das pescas. O setor da saúde será o mais afetado. Feitas as contas, tendo em conta todos os pré-avisos, compilados pela Direção-Geral da Administração e do Emprego Público, até final de dezembro não haverá um único dia sem paralisações. Ou seja, se compararmos com o ano passado, este número de pré-avisos mais do que triplica.
Na saúde, as paralisações envolverão trabalhadores dos hospitais EPE, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e terapêutica. Juntam-se os educadores de infância e ensino básico e secundário, os guardas prisionais, funcionários judiciais, bombeiros, além das greves setoriais dos registos e notariado. Nas férias de Natal e Ano Novo também farão greve os sindicatos do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, o Sindicato dos Inspetores de Investigação, Fiscalização e Fronteiras, e duas empresas privadas de segurança, comprometendo as ações de fiscalização nos aeroportos nacionais. A decorrer está já uma greve inédita: a do Metro do Porto, que paralisa pela primeira vez em 16 anos de existência.
É a prova de que esta é uma solução governativa esgotada. Entretanto, em quatro anos de legislatura, não houve nenhuma reforma estrutural feita por este governo, como se exigia e recomenda a OCDE, não se vislumbrando qualquer estratégia para a criação sustentável de riqueza para o país. Da mesma forma, o governo falhou no esforço de revisão ou redução de despesa, desde logo quando incumpriu a promessa de apresentar o anunciado Estudo de Revisão da Despesa Pública. Neste Orçamento do Estado para 2019, o governo volta a demonstrar não ter qualquer racionalidade ou estratégia para a administração pública.
São sinais preocupantes e que são o resultado de o governo ter andado durante três anos a prometer tudo a todos, designando isso da "alternativa" que afinal seria possível, mas provou-se que na realidade não passou de um engodo para os portugueses. Acresce a isto o anunciado aumento do salário mínimo dos funcionários públicos para 635 euros, resultando isso na insólita discrepância que passará a existir com os funcionários do setor privado. Os do privado trabalham 40 horas e ganharão 600 euros e os do público trabalhando 35 horas ganharão 635 euros. A injustiça é gritante. Resta saber os impactos desta medida num país já em greve.
Presidente da JSD