Casa do Impacto junta empresas comprometidas com a inclusão
As organizações e empresas são tão mais competitivas e inovadoras quanto maior é o seu nível de diversidade interno, seja a nível de género, idade, nacionalidade, origem étnica ou de outras diferenças.
"Um estudo da Mckinsey indica mesmo que uma empresa com políticas de igualdade de género pontua mais 15% em competitividade relativamente aos seus pares, enquanto se a isso acrescentar políticas de diversidade mais amplas pode mesmo ficar 35% acima dos seus concorrentes mais diretos". O exemplo é referido por Margarida Couto, presidente da GRACE, uma associação que congrega mais de 180 empresas que têm a responsabilidade social e a sustentabilidade no centro das suas preocupações.
Reforçando a ideia anterior, Margarida Couto exemplifica que "já há grandes corporações como a Coca-Cola ou a Vodafone que começam a só aceitar na sua cadeia de fornecedores quem demonstre estar a fazer progressos nestas áreas", sendo que a questão mais determinante continua a ser a da igualdade de género, refere aquela responsável. Para a GRACE, o tema a priorizar agora é o da integração das pessoas com deficiência. "Devemos acordar para esta questão, também porque a lei das quotas vai tornar esta integração obrigatória e o seu incumprimento acarretará sanções", lembra.
Margarida Couto falava na semana passada numa sessão promovida pela Casa do Impacto, um hub de empreendedorismo e de inovação social da Santa Casa da Misericórdia, que elegeu para este ano os temas da igualdade e da inclusão social como prioritários nos projetos a apoiar.
"Fizemos esta call to action (chamada para agir) junto de empresas, entidades e dos nossos parceiros com o objetivo de formar uma comunidade de empresas e organizações que se inspirem mutuamente com exemplos de inclusão social e de igualdade e que assumam compromissos nesta matéria", refere a diretora da Casa do Impacto ao DN. Inês Sequeira diz que serão utilizadas ferramentas para medir os resultados atingidos no final do ano.
Em linha com os objetivos do Milénio, também a Comissão Europeia está empenhada em acelerar os objetivos em matéria de igualdade e diversidade. "Desde 2017 que existe uma Estratégia Europeia para a Inclusão e Igualdade e os relatórios anuais mostram que a estratégia está a dar os seus frutos em áreas como a origem étnica, religião, deficiência, idade, orientação sexual ou identidade de género", referiu a chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal, Sofia Colares Alves, na mesma sessão online.
Começando por referir que, pela sua natureza, "a Comissão é já de si uma organização muito diversa, há regras muito específicas, por exemplo, nas políticas de recrutamento que já têm de ter em conta o princípio da diversidade", adianta aquela responsável.
No que diz respeito concretamente à igualdade de género, esta liderança já ultrapassou a meta que se tinha autoimposto de atingir 40% de mulheres em postos de direção, sendo já atualmente essa percentagem de 43%, referiu Sofia Alves. Por isso a fasquia foi elevada e agora o desígnio é alcançar os 50% até ao final do mandato de Ursula von der Leyen. Para esta progressão talvez não seja irrelevante constatar que a Comissão tem, pela primeira vez, uma pasta para a Igualdade. Para resumir o espírito de Bruxelas nesta matéria, a sua representante cita o sociólogo Boaventura Sousa Santos para dizer "a ideia é lutar pela igualdade sempre que a diferença nos discrime, mas lutar pela diferença quando a igualdade nos descaracteriza".
Como realçou, "nada disto vai acontecer sem a participação das empresas", pelo que a Casa do Impacto está empenhada em disseminar estes objetivos junto do universo empresarial, de modo a que se tornem compromissos e práticas efetivas.
Um exemplo de um parceiro que começou por ser uma startup é a Academia de Código, especializada no ensino tecnológico para crianças e adultos. "Procuramos atrair pessoas com a ambição de mudar de vida e financiamos o curso de cada um desses alunos, não nos importa de onde vêm", contextualiza João Magalhães. A Academia de Código vai atingindo objetivos no capítulo da inclusão social, como aconteceu com um projeto dirigido a presidiários e ex-presidiários. Um deles quis tirar o curso de programador enquanto ainda estava na prisão e, depois de um impedimento inicial, a juíza acabou por autorizar e hoje está a trabalhar numa startup como programador, refere João Magalhães. Em regra, estes cursos garantem uma empregabilidade de 97%, alguns dos quais na própria Santa Casa.
São projetos que promovam efetivamente a igualdade, a inclusão e a diversidade que a Casa do Impacto apoia, explica Inês Sequeira. Com cerca de dois anos e meio de percurso, a entidade tem este ano uma dotação de 500 mil euros para apoiar pequenos projetos. "O seio do empreendedorismo em Portugal é pouco inclusivo, sendo essencialmente representado por homens, brancos e da classe média-alta", observa Inês Sequeira.
Ora, a Casa do Impacto está empenhada em ajudar a inverter esse paradigma, ainda que a uma pequena escala. Projetos empresariais ou de economia social que valorizem os temas da diversidade podem contar com financiamentos desde os 20 mil euros (quando ainda estão numa fase inicial) ou até aos 100 mil euros, se já tiverem o seu produto validado.
Os apoios vão para lá de contribuição financeira, estendendo-se a ferramentas de capacitação (com apoio técnico), e a incubação, sendo disponibilizado um hub físico ou virtual onde podem ter acesso a mentores e a espaço localizado no Convento de São Pedro de Alcântara, em Lisboa.
O espetro de entidades que a Casa do Impacto quer envolver é alargado e diversificado, abrangendo instituições tão diversas como a Fundação Calouste Gulbenkian ou a EDP, só para dar dois exemplos.
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