Godelieve Meersschaert: "Encontrei na Cova da Moura pessoas que tinham tempo para os outros"

Nasceu uma semana antes do fim da II Guerra Mundial, a 29 de abril de 1945, na Bélgica. Godelieve Meersschaert é a 11.ª filha, um nome impronunciável e que foi simplificado pelos vizinhos do bairro onde mora, a Cova da Moura, para Lieve. Foi no sótão de sua casa que nasceu a Associação Cultural Moinho da Juventude.

Como é que veio parar à Cova da Moura?

Sou psicóloga, formada na Universidade de Lovaina, trabalhei na Bélgica e depois nos Países Baixos. Nessa altura, havia problemas na Maconde [fábrica de confeções que tinha instalações em Vila do Conde, na Maia e em Braga]. O patrão era dos Países Baixos, onde era a sede, e contava uma história diferente do que se estava a passar. Dizia que os trabalhadores estavam em greve, mas ele é que tinha feito um lockout na fábrica de Braga e obrigou as pessoas a trabalhar muito mais longe. Na realidade, ficaram sem trabalho. Eu tinha estado em Portugal em 1975, de férias, e encontrei-me com pessoas da Maconde de Braga que me falaram bem do patrão e o caso despertou a minha atenção. Eu trabalhava com o sindicato e a JOC.

A Juventude Operária Católica (JOC)?

Que na Bélgica era diferente de Portugal, mas têm ligações, sim. Os dirigentes sindicais da empresa contactaram a JOC nos Países Baixos. Nós contactamos os deputados holandeses, porque metade da fábrica era propriedade do governo, a televisão holandesa fez uma reportagem em Portugal e o patrão teve de pagar aqueles três meses.

E nunca mais perdeu o contacto?

Não, na altura, conheci pessoas ligadas à Base-fut (Frente Unitária de Trabalhadores), à JOC e à Cooperativa das Empregadas Domésticas. Posteriormente, decidi viajar para o Brasil, mas era um pouco longe e pensei que o melhor seria ir para Portugal para aprender português. A ideia era ficar três anos e seguir para o Brasil. Houve a hipótese de colaborar com a Cooperativa e com o Sindicato das Empregadas Domésticas, e vim em julho de 1978. Colaborei na organização do congresso de empregadas domésticas que juntou 700 pessoas no Pavilhão Carlos Lopes, foi um grande acontecimento.

Era um setor assim tão forte?

Sim. Mais tarde acabaram com o sindicato das empregadas domésticas.

Também teria que ver com o momento que se vivia, pós-25 de Abril.

Foi um período muito interessante. E conseguimos a mudança da lei, porque a que existia era o Código de 1885. Não foi fácil. Havia muitas pessoas que não estavam interessadas no tema. Eu tinha ligação a grupos feministas, mas algumas delas estavam habituadas a ter duas ou três criadas. Era um assunto novo, mesmo para as feministas. Pensar nos direitos das empregadas domésticas, o que é isso? Foi o início da minha relação com pessoas de origem africana, poucas, que estavam no sindicato. E conheci, também, a Rosa, que construiu uma casa neste bairro e me convidou para a sua casa.

Andava à procura de casa?

Não, ela disse-me isso porque gostava que eu fosse viver com ela. Entretanto, tinha conhecido o Eduardo [Eduardo Pontes, ativista e também um dos fundadores da Moinho da Juventude] e vivíamos na Amadora.

Ainda estava no prazo dos três anos?

Não [ri-se], já tinha ultrapassado. Foi por causa do Eduardo que não fui embora ao fim de três anos, conheci-o quase no final desse período. Mais tarde, tivemos de deixar a vivenda onde morávamos, que o senhorio transformou depois numa creche. No mesmo dia em que soubemos que tínhamos de sair, encontrei a Rosa, isto ao fim de um ano dela dizer que tinha um quarto para mim. Há milagres na vida que fazem que a gente vá por determinado caminho.

"Não somos nós que escolhemos o caminho. Muitas vezes, são coisas que nos aparecem na vida, coincidências."

Milagres - é católica?

Não, são dessas coisas que me acontecem muitas vezes e fico a pensar que não somos nós que escolhemos o caminho. Muitas vezes, são coisas que nos aparecem na vida, coincidências. Mas o que é uma coincidência? Pode fazer-se toda uma filosofia à volta disso.

Mas pertenceu à JOC, uma organização católica.

Tenho uma formação católica, mas não vou à igreja. E a JOC para mim era importante a nível da filosofia e da intervenção. Paulo Freire [filósofo e pedagogo brasileiro], que esteve em Portugal a organizar cursos de alfabetização, fala em conscientização, o que para mim é o mais importante nesta vida. Não é pensar "eu sou melhor ou faço mais do que o outro", não. É através das sinergias e do trabalho em conjunto que podemos fazer a mudança. É refletindo sobre a realidade e intervindo que mudamos, e é isso que é interessante na JOC. Diagnosticar, refletir e agir, são esses três pilares que fazem que nos possamos desenvolver, e pela via do diálogo.

"É através das sinergias e do trabalho em conjunto que podemos fazer a mudança."

Encontra a Rosa e vai para a casa dela na Cova da Moura. Como era o bairro?

Viemos em novembro de 1982 e por uma semana, até arranjar casa. Viviam aqui 3500 pessoas, portugueses e cabo-verdianos. Tinham vindo para trabalhar nas obras para a construção da Ponte 25 de Abril, porque não havia mão-de-obra suficiente em Portugal. E, nos tempos livres, começaram a construir na Cova da Moura, primeiro uma casa abarracada e depois a casa em tijolo.

A semana transformou-se em décadas.

[ri-se] Essa minha amiga e o marido, o Jacinto, que eram camponeses do Couço, no Ribatejo, onde foi muito duro no tempo de Salazar, faziam parte da comissão de moradores. Convenceram-nos a ir a uma reunião e acabámos por ficar um ano na casa deles. Achámos que era um bairro com muita vida e, num domingo de manhã, em julho de 1983, decidimos procurar casa. Encontrámos esta [um primeiro andar] e comprámos-ta ainda em tosco.

Deixou família na Bélgica, filhos?

Não tenho filhos, mas tivemos os gémeos, mais uma feliz coincidência. Primeiro veio o Nuno e mais tarde o Tiago, tinham 5 anos. O Nuno viveu connosco ano e meio e o Tiago meio ano, a mãe é angolana e o pai é pescador do Algarve. A mãe veio depois buscá-los para viverem com ela em Paris, mas estivemos sempre em contacto. O Tiago voltou em 2014 por uns dias e ficou um ano. Estava aqui quando morreu o Eduardo [2015], o que foi muito importante para nós.

O que os agarrou a este bairro?

As pessoas. Vimos que tinham tempo para os outros, que não olhavam só para a carreira, sentimos aqui uma comunidade.

Ainda se mantém essa comunidade?

Ainda é uma grande comunidade, com aspetos positivos e negativos como todas as comunidades. As pessoas conhecem-se, é uma situação diferente de cada um estar fechado no seu apartamento. Os filhos que saíram para o Cacém e vivem num apartamento vêm aqui passar as férias, têm aqui as suas raízes.

Do lado de fora não há essa visão.

Pois, mas é a imprensa...

"Aqui acontecem coisas como em Lisboa, na Praia da Luz, na minha aldeia na Bélgica, por todo o lado, agora aqui estigmatiza-se uma comunidade, e porquê?"

A imprensa noticia os problemas.

Em Lisboa também há problemas. Aqui acontecem coisas como em Lisboa, na Praia da Luz, na minha aldeia na Bélgica, por todo o lado, agora aqui estigmatiza-se uma comunidade, e porquê? Por causa da especulação imobiliária, é o que vemos que está a acontecer. E também tem que ver com a forma como se olha "o outro", sobretudo as pessoas com falta de autoestima.

Vê-se no bairro muita gente desocupada.

Há um grupo de pessoas desempregadas, mas somos 6500 moradores. O desemprego foi um grande problema para as pessoas com 40 e 50 anos durante o governo de Passos Coelho. Vi muitos vizinhos a chorar, que sempre tinham trabalhado na construção civil e que foram despedidos. Agora a situação está muito diferente. Também houve quem fosse para o estrangeiro. E quando chega ao Natal e a agosto, muitos regressam. Ouve-se falar inglês, neerlandês, francês, pessoas com uma visão do mundo muito alargada.

Como é que surgiu o Moinho da Juventude?

Com a crise do FMI [1981] era complicado conseguir trabalho e fui corrigir testes psicotécnicos. Estava muito tempo em casa e começaram a aparecer miúdos, um, depois dois, três, dez, até que tinha um grupo. Foi no nosso sótão que começou o Moinho. As crianças faziam desenhos, viam os livros, as figuras, inventávamos teatros e gostavam muito. Aos amigos que ficavam hospedadas em minha casa e queriam oferecer qualquer coisa, propus que comprassem livros infantis. Os miúdos batiam constantemente à porta a pedir livros, e assim começámos a ter uma biblioteca. Falámos com o presidente da Junta de Freguesia da Buraca, que nos cedeu uma casinha no bairro, na Rua de São Tomé, que era da comissão de moradores, e que estava vazia. Em pouco tempo estavam inscritos 700 miúdos. Havia três raparigas do bairro, com 15/16 anos, que organizavam a biblioteca, que abria aos domingos das 10.00 às 13.00. Uma dessas raparigas é a Augusta, que trabalha agora numa casa da UMAR para vítimas de violência, e outra é a Isabel, coordenadora do Moinho.

Uma semente que resultou na Associação Cultural Moinho da Juventude.

Sim, aos poucos e poucos e através dos livros, mas também teve que ver com a situação das empregadas domésticas e com as necessidades do bairro. Viviam aqui 900 pessoas sem água em casa e que tinham feito contrato e pago à câmara. Também nos aconteceu. Quem vendeu a casa disse que tinha pago a ligação à rede e que demorava uma semana quando demorou três anos. Isso não foi uma escolha [ri-se].

"O Moinho cresceu em torno de três pilares: social, cultural e económico."

Não pensou em sair?

Houve momentos muito difíceis, custou muito viver sem água, mas lá fomos aguentando. Uma ligação da luz era para sete casas. Demorou até conseguirmos infraestruturas, mesmo estando a pagar IMI. Todos os vizinhos se uniram e lutaram por condições, e este foi um dos pilares do Moinho. O Moinho cresceu em torno de três pilares: social, cultural e económico. Social por causa do saneamento básico, havia quem pagasse esgotos e não tinha a rede instalada na quinta do Outeiro, o que foi para mim uma descoberta. O económico teve que ver com os direitos das empregadas domésticas e dos pedreiros. Cultural, porque o Moinho nasceu com uma biblioteca, mas o mais importante é a dinamização de toda uma cultura, como a celebração do Kola San Jon, que foi proibida em Cabo Verde antes do 25 de Abril.

Trabalhou sempre como psicóloga?

Não, a partir de 1985 e até me reformar trabalhei no Ministério das Finanças como especialista de informática. Fazia aplicações para o Orçamento do Estado e o controle orçamental.

Vai frequentemente à Bélgica?

Vou, tenho uma família grande por lá e eles também me vêm visitar.

O que é que a família diz da Cova da Moura?

Dizem que é um bocado diferente da Bélgica, mas gostam, até tive um sobrinho que passou aqui a lua-de-mel, há mais de 25 anos. Tinha estado em pequeno com os pais e achou engraçado voltar.

A Bélgica é mais desenvolvida do que Portugal, sobretudo há 30/40 anos.

O que é desenvolvimento?

"Desenvolvimento tem que ver com pessoas e com o que somos como pessoas."

O que é para si?

Para mim, desenvolvimento tem que ver com pessoas e com o que somos como pessoas. E, nesse sentido, parece que não evoluímos muito. Vejo pessoas de Cabo Verde que não sabem ler nem escrever, como disse Saramago dos seus pais, com a sabedoria que não temos, esquecemos a sabedoria da vida. Desenvolvimento é estar agarrado ao smartphone? O que é a humanidade, o que estamos a fazer? Dizem para fazer caridadezinha para o Iémen, só que esquecem que fomos nós, europeus, que mandámos as armas. Os belgas mandaram armas para a Síria e para a Arábia Saudita. É isto que é importante ver. O que é cultura, quem somos? São estas as questões importantes.

O quadro da sua sala.

A minha amiga Lut Caenen fez este quadro com a poesia "Metafísica" de Fernando Pessoa, que escreveu mil vezes. É importante este quadro estar na Cova da Moura. As pessoas falam sobre ele, dizem o que veem e é surpreendente.

Quais foram os momentos que a fizeram mais feliz?

Primeiro, estar com o meu marido [ri-se], as minhas coisas boas estão ligadas a ele. O que me deu muita satisfação foi a realização do colóquio "Kola San Jon - Cultura proibida, património estimado", em junho de 2015, e o colóquio das Batucadeiras, em abril de 2016, ambos no Museu Nacional de Etnologia. Vieram grupos de São Tomé, de Cabo Verde e de Espanha. Conseguimos a colaboração das universidades de Aveiro, Coimbra e do Instituto de Educação em Lisboa. É a sinergia que faz o desenvolvimento, não é a competição. Tivemos os investigadores a trabalhar e a refletir com as batucadeiras e a valorizar uma cultura que foi proibida pelos colonizadores.

"Criou-se para a Cova da Moura a 'polícia de proximidade', ideia que foi multiplicada pelo país."

Qual foi o momento mais triste do bairro?

A morte do Ângelo, de 17 anos, em 2001. Um agente da polícia disse na altura que era mais um macaquinho que tinha morrido. Conseguimos parar a escalada de violência, dialogando com o subintendente Pereira. Criou-se para a Cova da Moura a "polícia de proximidade", ideia que foi multiplicada pelo país. Com a substituição do subintendente Pereira, voltou a ser complicado. Iniciamos com a PSP de Alfragide um curso sobre "comunicação não violenta" (Rosenberg) no quadro dum projeto da Comissão para a Igualdade de Género, mas não houve disponibilidade por parte da PSP para dar continuidade. Outro momento triste foi em agosto 2013, quando a polícia veio ao bairro porque alguém tinha roubado um casaco e levou sete miúdos, que vinham da praia, para a esquadra da Damaia. Tiveram de se despedir, foram obscenizados, eram miúdos de 13/14/15 anos. Isto tem consequências para a vida toda. As mães foram maltratadas quando os foram buscar e vieram a minha casa, indignadas. Processámos os agentes e foi tudo arquivado.

Melhorámos alguma coisa?

O arquivamento dos três processos contra a atuação da PSP no verão de 2013, elaborados com o apoio da Associação para Apoio às Vítimas de Violência e o Alto Comissariado para as Migrações, ainda me revolta imenso. Tem de ser feito um trabalho de reflexão com a polícia e com os jovens. Este caso e o que aconteceu no 5 de fevereiro de 2015 na esquadra de Alfragide mostra que ainda falta fazer muito trabalho.

O que é que faz o Moinho da Juventude?

Temos vários projetos e peritos da experiência que trabalham em paralelo com educadores e formadores do Moinho (nas creches, no Jardim de infância, no PULO, no CATL). É exemplo o projeto do Missing Link que organizamos com centros de formação da Bélgica, da Alemanha, dos Países Baixos e da Bulgária, onde é realçada a importância do perfil do perito da experiência. A experiência de ser imigrante ou ter vivido a pobreza proporciona outra perspetiva nesta sociedade. O perito da experiência já é reconhecido oficialmente nestes países e o Moinho está a trabalhar com a ANQEP [Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional] para reconhecer esta profissão.

"Ainda tenho de viver um bocadinho para contribuir para o processo de conscientização."

Portugal é um país racista?

Há muitos recalcamentos. Tenho refletido sobre a minha maneira de olhar o outro e, na Bélgica, um país colonizador, há factos sobre os quais não refletimos, esquecemos. Em Portugal, um grupo dentro da polícia tem feito coisas horríveis no nosso bairro, têm tratado as pessoas de uma forma muito racista. É um grupo pequeno mas que tem tido o apoio de alguns jornalistas, com o PNR atrás, o que vai fomentando o medo. E quando as pessoas têm medo, as ações racistas começam a crescer. Nasci uma semana antes do fim da II Guerra Mundial e ouvia os alemães dizer que não sabiam o que tinha acontecido nos campos de concentração ("Wir haben es nicht gewusst"), o que sempre me fez muita impressão. Agora, parece que também não sabem o que está a acontecer. E, depois, vejo pseudointelectuais a encher salas com jovens, o que me preocupa. Basta lembrar o que aconteceu com Hitler e, mais recentemente, com Trump e Bolsonaro. Ainda tenho de viver um bocadinho para contribuir para o processo de conscientização.

Viver em Portugal?

Por enquanto estou aqui e gosto de viver aqui. Não sei o que acontecerá amanhã.

Teve um problema oncológico que ultrapassou.

Foi em 2003, fiz uma mastectomia. E, desde outubro do ano passado, o problema surgiu de novo, agora nos ossos, no fígado e nos pulmões. Cada dia é um dia e vivo o melhor possível.

"Queremos contribuir para a reflexão sobre o plano estratégico para o bairro."

O que é que ainda gostaria de fazer?

Continuar a fazer chi kung, estar com os amigos, com a família, "viver" na Cova da Moura. O importante é que haja mais reflexão sobre a colonização das mentes, de nós próprios e dos outros, sobre o impacto da colonização a nível social, cultural e económico, o que ainda não está feito em Portugal, nem na Bélgica. Refletir em conjunto sobre o que é importante para a humanidade, valorizar "o belo", não perder tempo com o que nos aliena. Para o bairro, gostaria que fosse resolvida a situação da legalização e que as infraestruturas fossem qualificadas, o que é possível no quadro da nova lei. A Comissão de Bairro trabalha desde 2004 com a Faculdade da Arquitetura, que elaborou diversos projetos para o bairro, mas por duas vezes foi escolhido outro consórcio pela câmara, a quem pagaram e que está em situação de insolvência. Porquê? Tem que ver com interesses financeiros, não com as pessoas. A comissão do bairro, que envolve quatro associações, escreveu ao IHRU [Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana] e à presidente da Câmara Municipal da Amadora. O IHRU informou que, no quadro da nova lei [decreto-lei n.º 37/2018, de 4 de junho], estão previstos apoios para a compra do terreno e a qualificação do bairro. Queremos contribuir para a reflexão sobre o plano estratégico para o nosso bairro.

É tudo?

Não, gostaria muito que a Segurança Social tomasse uma decisão sobre as amas da Creche Familiar. Há um ano que o Moinho aguarda a decisão sobre os requisitos das seis amas que têm de ser substituídas. Para os pais, é um drama não encontrarem um sítio para os filhos. São 24 famílias em apuros.

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