A Lua é apenas o começo, a Índia aproveita a tecnologia espacial para o benefício de todos
A nave espacial indiana está a caminho da Lua e, se tudo der certo, a Organização de Investigação Espacial Indiana (ISRO) espera pousar um veículo robótico na superfície lunar no início de setembro. O Dr. K. Sivan, o presidente da ISRO, descreveu o Chandrayaan-2 (Veículo da Lua) como a "mais complexa missão espacial já realizada pela Índia".
A Índia tem um total de 50 satélites operacionais que fornecem serviços de navegação, previsão do tempo, ajudam cidades inteligentes, assistem a televisão por satélite e até ajudam em operações bancárias, hoje "tocar e salvar vidas é a marca da ISRO", diz Sivan. A Índia tem capacidades totalmente abrangentes no espaço, fazendo os seus próprios satélites, os foguetões e lançando-os da Índia. Muitas empresas estrangeiras usam os foguetões da Índia para lançar os seus satélites. O satélite do sul da Ásia, lançado em 2017, é um pássaro amigável único no céu que ajuda a conectar os vizinhos da Índia e o país forneceu esse satélite de comunicações sem nenhum custo para os países do sul da Ásia.
Mais recentemente, na tarde quente e húmida de 22 de julho de 2019, na base de foguetões indiana, o Centro Espacial Satish Dhawan, em Sriharikota, exatamente às 14.43, o foguetão mais poderoso da Índia, o Veículo de Lançamento Geossíncrono de Satélites Mark-3, denominado Baahubali, descolou no meio das nuvens de monção carregando o satélite Chandrayaan-2 da Índia para o espaço. Em menos de 17 minutos o foguetão de 640 toneladas, equivalente ao peso de 1,5 aviões Jumbo, que atinge a altura de 15 andares e 44 metros de comprimento, completou a missão colocando o satélite Chandrayaan-2 numa "órbita melhor do que a esperada", segundo Sivan.
Possivelmente, o foguetão estava a compensar a azia que causou quando, uma semana antes, a 15 de julho de 2019, o lançamento teve de ser abortado menos de uma hora antes do lançamento devido a um "obstáculo técnico". Cientistas da agência espacial indiana trabalharam noite e dia e corrigiram a falha, regressando com o sucesso. Falando sobre a rapidez da solução do problema, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, disse: "Se me perguntarem quais são as duas maiores lições que recebi de Chandrayaan-2, direi que elas são a fé e a coragem."
Modi, que é um conhecido entusiasta do espaço que sabe como implantar a tecnologia espacial para a governança eficaz dos 1,3 mil milhões de indianos, acrescentou ainda que "a segunda lição importante é nunca perder a esperança diante de dificuldades ou obstáculos. A maneira como os nossos cientistas corrigiram questões técnicas em tempo recorde, trabalhando noite e dia, é em si uma tarefa exemplar e inigualável. O mundo assistiu ao 'Tapasya', a incrível perseverança dos nossos cientistas. Também devemos sentir-nos orgulhosos do facto de que, apesar dos obstáculos, não há mudança no horário de chegada [à Lua]... Muitos ficam surpreendidos com isso. Temos de enfrentar contratempos temporários na vida... Mas lembramo-nos sempre de que a capacidade de os superar reside dentro de nós".
No início deste ano, a Índia também realizou outra experiência espacial espetacular quando, a 27 de março de 2019, abateu o seu próprio satélite de órbita baixa, o Microsat-R, usando um míssil feito sob encomenda lançado da ilha de Kalam, na baía de Bengala. O chamado teste de arma antissatélite (A-Sat), foi denominado Missão Shakti e de acordo com o Dr. G. Satheesh Reddy, diretor-geral da Organização de Investigação e Desenvolvimento de Defesa (DRDO), que liderou este teste, "a Índia agiu responsavelmente realizando o teste a uma baixa altitude, de modo a que ele desse origem ao mínimo possível de lixo espacial".
O primeiro-ministro Narendra Modi disse que, "através do A-Sat, nós adquirimos a capacidade de destruir um satélite a 300 quilómetros de distância em meros três minutos. A Índia tornou-se o quarto país do mundo a possuir essa capacidade depois dos EUA, Rússia e China, que demonstraram ter essa capacidade letal de derrubar satélites no espaço. Esta foi uma demonstração da Índia de que fará tudo o que for preciso para proteger os seus ativos espaciais vitais no espaço. Os satélites indianos ajudam a economia do país e são uma infraestrutura espacial vital para Nova Deli".
Chandrayaan-2 é a segunda aposta lunar da Índia, a primeira foi lançada em 2008 e chamava-se Chandrayaan-1. Era um orbitador onde "a Índia era o capitão e vários países como os EUA, Reino Unido, a Agência Espacial Europeia eram jogadores a ver a Índia lançar os seus instrumentos até à lua livres de custos". Chandrayaan-1 fez história global quando esta missão de menos de cem milhões de dólares fez a surpreendente descoberta da presença de moléculas de água na superfície lunar ressequida. Este renovado esforço do século XXI de "regresso à Lua" foi impulsionado pelo Chandrayaan-1 e agora os EUA procuram enviar astronautas de volta à Lua nos próximos anos.
Chandrayaan-2, segundo Sivan, "é uma missão de três em um" onde há um orbitador que andará em redor da Lua, um módulo de aterragem chamado Vikram que tentará um pouso suave perto do polo sul da Lua e um pequeno rover lunar (unidade móvel) de seis rodas chamado Pragyaan. Modi diz que "Chandrayaan-2 é totalmente indiano. É indiano até ao tutano. É uma missão completamente swadeshi, concebida e produzida no país. Esta missão provou sem dúvida, mais uma vez, que quando se trata de tentar um esforço na nova era, em áreas de ponta, com zelo inovador, os nossos cientistas são inigualáveis. Eles são os melhores... Eles são de classe mundial".
A Índia enviou 13 instrumentos científicos feitos no país que analisam a superfície da Lua, mapeiam a topografia em busca de água e medem sismos lunares, entre outras coisas. Desta vez, a Índia leva também um pequeno instrumento para a agência espacial americana NASA a bordo do Vikram lander.
O rover lunar indiano é alimentado por inteligência artificial e espera-se que faça a sua longa marcha na superfície da Lua por cerca de meio quilómetro, na sua vida nominal de 14 dias. A ISRO espera pousar na superfície lunar a 7 de setembro de 2019 e, se conseguir, a Índia tornar-se-á o quarto país depois de EUA, Rússia e China a ter a capacidade de pousar noutro planeta. Sivan diz que "haverá 15 minutos terríveis quando o lander Vikram empreender a sua manobra final de pouso".
Isto não é tudo. Até ao final deste ano, a Índia tem mais dez missões espaciais planeadas que incluem a muito aguardada demonstração do Small Satellite Launch Vehicle (Pequeno Veículo de Lançamento de Satélites - [SSLV]) ou o Baby PSLV, um foguetão de baixo custo com um curto tempo de viragem que pode carregar 500 kg no espaço.
A Índia também tem planos para enviar um explorador planetário para Vénus, e terá outra missão robótica em Marte nos próximos anos. A mãe de todas as missões, a Gaganyaan, também está em desenvolvimento, e com ela a Índia espera enviar um astronauta indiano para o espaço, num foguetão indiano, a partir de solo indiano, até 2022.
A Índia está, sem dúvida, a apostar grandemente na tecnologia espacial. Modi diz: "Espero fervorosamente que a missão Chandrayaan-2 inspire a nossa juventude na direção da ciência e da inovação. Afinal, a ciência é o caminho para o progresso."
Autor do livro Reaching for the Stars: India's Journey for Mars and Beyond, publicado pela Bloomsbury. Pode ser encontrado em pallava.bagla@gmail.com ou Twitter: (@ pallavabagla)