Para além do show off
O relatório climático"Índice de Desempenho das Alterações Climáticas 2020" (CCPI) foi publicado nesta semana, durante a Cimeira COP25 em Madrid. Portugal aparece classificado na 25.ª posição, atingindo assim a sua (nossa) pior classificação de sempre. No entanto, o ministro do Ambiente e da Ação Climática desvalorizou os resultados, garantindo que "no próximo ano os dados vão ser muito diferentes". Esperamos que sim, mas não podemos só esperar.
O ministro Matos Fernandes justificou os fracos resultados de Portugal no CCPI deste ano com base nos incêndios e na seca de 2017, ano ao qual o relatório se reporta. Este argumento, apesar de factual, não basta como justificação. Estando nós perante um índice que avalia a prestação dos países face às alterações climáticas, não podemos justificar os pobres resultados pela verificação das próprias alterações. Podemos estabelecer relações de causa-efeito, mas tal não desculpa o fraco desempenho e classificação. Pelo contrário, revela a premência e a importância de tomarmos medidas efetivas e concretas que combatam as alterações climáticas. Para além do show off...
De qualquer forma, a fraca classificação de Portugal não é resultado de um só ano "infeliz", das suas secas ou incêndios. No ano de 2014, Portugal aparecia na 11.ª posição (sendo que os três primeiros lugares se encontram simbolicamente vazios), tendo recebido o nível "elevado" de classificação. Em 2015, Portugal desceu para a 18.ª posição, mantendo-se, no entanto, três lugares acima da União Europeia. Em 2016, Portugal foi ultrapassado pela média da UE, ainda antes da seca e dos incêndios. Neste ano, são já três as posições que nos separam da UE.
Destes dados retira-se que Portugal tem não só perdido terreno relativamente aos demais países (de 11.º em 2014 para 25.º em 2017), como também tem visto o seu resultado total do índice reduzir (62,47 no relatório de 2017 para 54,1 no relatório deste ano). Ou seja, não são só os outros que estão a melhorar; somos também nós que estamos estagnados e, neste ano, a recuar.
O combate às alterações climáticas deve fundar-se na ciência, nomeadamente através do trabalho de cientistas e especialistas que, por todo o mundo, estudam e analisam esta temática. No caso deste índice, são mais de 350 os especialistas que colaboraram para a produção do relatório. Os seus resultados são claros e reveladores de que, apesar das promessas de que seremos o primeiro país a atingir a neutralidade de carbono em 2050, a realidade não é tão prometedora. Precisamos de fazer mais, e obter melhores resultados. Com base na ciência, e não no discurso que fica bem. Não por causa dos rankings, mas por causa da coerência e da nossa sustentabilidade.
Presidente da JSD