Operação Overlord: Esses adoráveis nazis reanimados
Foi filmado em segredo, aliás como muitas das produções de J.J. Abrams, cineasta e produtor de Hollywood que está a impor um modelo de novos blockbusters iniciado com Cloverfield. Pouco ou nada se sabia deste Overlord. Esta tática da Paramount com as produções de Abrams costuma dar resultado. É como se o público soubesse que vai a uma caixa de mistério, o tal território lost que Abrams instiga e provoca.
Aqui a história passa-se em plena Segunda Guerra Mundial e narra uma missão do exército americano em plena véspera do desembarque na Normandia. Um grupo de soldados tem a missão de destruir uma torre do exército alemão numa pequena aldeia. O problema é que essa torre está numa igreja onde na cave se desenrolam experiências genéticas levadas a cabo por um tenebroso cientista nazi... A partir daí o pandemónio instala-se.
Operação Overlord começa como filme de guerra clássico e a meio já se transforma num espetáculo de cinema de terror de série B, tudo isto sempre num ritmo "a mil" e com uma carga de suspense muito estimável. Dizer que se trata de uma das surpresas do ano não é nenhum exagero e podemos mesmo pôr as mãos no fogo por Julius Avery, cineasta que já tinha prometido alguma coisa em 2014 quando vimos Filho do Crime e que já está escalado para o renascimento de Flash Gordon. Avery filma com uma densidade muito interessante e um sentido de diversão semelhante a Tarantino.
Celebração de uma ideia de fusão de géneros e de subgéneros (dentro do terror estamos aqui no molde do filme de reanimação, uma espécie de primo do universo zombie), Overlord tem piada por brincar com noções de entretenimento trash e de ficção científica do mito dos nazis dementes e hiperbolizados. E Avery filma tudo com um timing que permite meia dúzia de saltos na cadeira bem aconselháveis e surpresas extremamente bem encadeadas - apenas talvez fosse evitável um final com cenas de ação que se arrastam um pouco demais. O espectador está entre o riso e o coração apertado, em especial através da criação de um ambiente tenso e realmente claustrofóbico, muitas vezes a fazer lembrar as atmosferas do torture porn criado por Eli Roth. Nesse aspeto, não é um filme para "meninos". Há sangue, "gore" assumido e mortes de uma violência gráfica com algum furor, mesmo quando não se perde a compostura de uma grande encenação de entretenimento com enormes meios de produção de Hollywood. E aí temos assumidamente uma válida alternativa ao estafado "filme de guerra".
Em resumo: cientistas malucos, nazis geneticamente alterados e explosões com delírio cinéfilo. Receita perfeita para um filme que pede o espírito "meia-
-noite" e um ecrã IMAX (foi feito a pensar nisso). E vamos também ouvir falar muito de Wyatt Russel, um dos soldados "modificados". Um ator com estampa de protagonista e que já tinha dado boas indicações em Todos Querem o Mesmo, de Richard Linklater.