Um novo normal exige um novo tipo de voto

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A pandemia tem o mérito de acelerar processos que há muito estavam por decidir. Por isso, esperava-se mais no que toca à gestão do voto nas próximas eleições, uma vez que estamos a viver em plena catástrofe da covid-19, mas também na era mais digital de todas. E se acrescentarmos a isso o facto de que estamos a poucas horas de um novo confinamento - já antecipado pelos médicos, em virtude do alívio das restrições no Natal -,então era necessário ter planeado e modernizado o processo eleitoral há muito.

Vejamos, o ministro da Administração Interna (MAI) anunciou o voto antecipado em mobilidade como uma grande notícia. E é importante, mas não é novo, foi feito em 2019. Vai reaplicar-se o que já foi realizado, com efeitos a partir de dia 17 janeiro. A inovação parece zero.

Desde o início da pandemia que o MAI poderia ter preparado a situação. Os médicos sempre foram alertando para uma segunda vaga e para o facto de o inverno vir a ser pior período de contágio e mortos. Passou quase um ano e vamos, uma vez mais, correr atrás do prejuízo. Vai ser vital fazer um sprint, porque só faltam uma dúzia de dias para as eleições presidenciais. Se fossem autárquicas ou legislativas, seria tudo mais célere?

O MAI reagiu tarde neste processo, tal como na gestão do caso SEF, em que um cidadão ucraniano morreu. Por exemplo, sobre o voto dos idosos que vivem em lares e a hipótese de não se deslocarem às urnas mas estarem ao abrigo da extensão legal de confinamento profilático, o MAI só veio a terreiro depois de pressões fruto de notícias e sugestões de constitucionalistas e políticos.

Dizer que este é momento para experiências de voto antecipado em mobilidade é deitar só alguma areia para os olhos. Este seria o momento, sim, de digitalizar o processo de uma vez por todas. O voto eletrónico respeitaria a mobilidade de cada cidadão e permitiria fazer cumprir o confinamento, em pleno estado de emergência.

O tema é polémico e as desconfianças são sempre muitas. É um assunto que reúne pouco consenso nos partidos e nos órgãos de soberania. Pergunto: se confiamos todos os nossos dados pessoais ao sistema digital do Cartão de Cidadão, todos os nossos dados de receitas e despesas ao Ministério das Finanças, o nosso muito ou pouco dinheiro aos bancos, que são cada vez mais digitais, porque não o voto eletrónico?

O país está a perder a oportunidade de fazer de um slogan político uma realidade: "não deixar ninguém para trás", seja porque está doente ou a cumprir à risca as regras do confinamento. O país está ainda a perder a oportunidade de ser mais digital e competitivo, adaptado às necessidades dos dias que correm. E correm em sprint.

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