São mais de 140 os navios russos a participar em exercícios navais em vários pontos do globo, e para o mar Negro foram enviados seis navios de assalto anfíbio das frotas do Báltico e do Norte que se juntam à frota russa fundeada em Sebastopol (Crimeia) e em Novorossiisk (norte do Cáucaso). Enquanto ao largo da fronteira norte da Ucrânia russos e bielorrussos entretêm-se em manobras militares "defensivas", o presidente dos Estados Unidos atirou sal à ferida ao dizer para os concidadãos saírem da Ucrânia o quanto antes, no que foi seguido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico..Moscovo anunciou a realização de extensos exercícios no mar Negro e no mar de Azov nos próximos dias e fechou grandes áreas para a navegação comercial, ao que Kiev protestou "veementemente contra a decisão". "Uma formação sem precedentes de manobras torna a navegação em ambos os mares virtualmente impossível", o que "pode causar consequências económicas e sociais complexas, especialmente para os portos da Ucrânia"..Para o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, estas "ações agressivas" e "inaceitáveis" enquadram-se "no conceito da guerra híbrida contra a Ucrânia". O comunicado termina com a indicação de que o antigo país soviético está a trabalhar com os parceiros, em especial os da região do mar Negro, "para assegurar que tais ações da parte russa recebam avaliação e resposta adequadas"..DestaquedestaqueMoscovo reitera não ter planos para invadir a Ucrânia, mas cerca o país militarmente no que o presidente Zelensky chama de "pressão psicológica".."Se o acesso da Ucrânia ao mar fosse cortado seria uma Ucrânia totalmente diferente. Ficar sem acesso seria um desastre completo para a economia ucraniana", diz Mykhailo Samus, analista de segurança da New Geopolitics Research Network à Radio Free Europe. "Uma quantia enorme de importações e exportações ucranianas transitam por Odessa e outros portos do sul", conclui..Se o líder russo Vladimir Putin decidisse atacar a Ucrânia pelo mar, a armada ucraniana não conseguiria responder às capacidades navais russas, agora mais ampliadas, embora o exército e a aviação tenham algumas capacidades defensivas. Nestas inclui-se o novo míssil de cruzeiro Neptune, de fabrico doméstico, e os drones turcos Bayraktar TB2 que provaram ser decisivos em recentes conflitos (Síria, Líbia e Nagorno-Karabakh) e deixaram Putin desagradado com o homólogo turco. Em dezembro, o presidente queixou-se a Recep Erdogan da utilização dos drones pelos ucranianos, um comportamento "destrutivo" e uma "atividade provocadora"..Marinha a sul, uns cem mil soldados a leste e uns 30 mil (estimativas dos EUA) a norte, e ainda a oeste a presença militar na região separatista da Transnístria, na Moldávia: Moscovo está a cercar a Ucrânia militarmente e a exercer "pressão psicológica", como disse o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. "Se os objetivos estabelecidos não estiverem a ser alcançados, então será necessário aumentar a pressão, primeiro que tudo através de uma demonstração de força", comentou à AP o analista russo Fyodor Lukyanov ..A Rússia continua a afirmar não ter planos para agredir aquele país, como disse na sexta-feira o ministro da Defesa britânico Ben Wallace. "Ouvi claramente por parte do governo russo que não têm qualquer intenção de invadir a Ucrânia", afirmou no final de uma reunião com o homólogo Sergei Shoigu, que por sua vez classificou o nível de cooperação entre Londres e Moscovo de "perto de zero e prestes a passar a negativo"..Em videoconferência, o presidente dos EUA Joe Biden reuniu-se com os chefes de Estado ou de governo de Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Polónia e Canadá e ainda com os líderes da UE e da NATO para no final repetirem o apelo para a via diplomática, mas advertindo a Rússia de sanções "rápidas e severas" nos setores financeiros, tecnológicos e energéticos"..Enquanto os EUA repetem o aviso de que a Rússia pode eclodir um ataque a "qualquer momento", e o secretário-geral da NATO fala noutras ameaças, como "tentativas de derrubar o governo em Kiev", o canal diplomático aberto por Emmanuel Macron volta a ser testado neste sábado, com o francês a telefonar ao líder russo..Ataque a navio de plataforma petrolífera.Em janeiro de 2017, o navio Pochaiv, da petrolífera Chornomornaftogaz - tomada com a península da Crimeia em 2014 pelos russos - foi atacado a tiro por franco-atiradores. Os russos atribuíram a responsabilidade do ataque ao navio de apoio ao mergulho aos ucranianos, e estes aos russos..Navios e marinheiros apresados.Em novembro de 2018, o rebocador Yana Kapa e as canhoneiras Berdyansk e Nikopol da Marinha ucraniana foram atacados a tiro - causando seis feridos - e intercetados pelas forças russas quando tentavam cruzar o estreito de Kerch, entre o mar Negro e o mar de Azov, ao largo da Crimeia. A guarda costeira russa apresou os navios e 24 marinheiros ficaram detidos um ano, tendo Moscovo alegado que houve uma intrusão ilegal nas suas águas territoriais. Um tratado assinado em 2003 entre os dois países estabelece o acesso livre ao dito estreito..Tensão com a NATO.Em junho de 2021, o contratorpedeiro HMS Defender zarpou do porto ucraniano de Odessa com destino a Batumi, Geórgia, para participar num exercício militar da NATO. De caminho passou ao largo da Crimeia, por águas territoriais que os russos reclamam como suas. Navios da guarda costeira e aviões russos seguiram-no e deram sinais de aviso. Segundo Moscovo, um bombardeiro largou quatro bombas junto do Defender, o que Londres não confirma. Dias depois, a Marinha neerlandesa queixou-se que a fragata Evertsen, em águas internacionais no mar Negro, foi alvo de voos "perigosamente baixos" de caças russos, os quais realizaram "ataques simulados"..cesar.avo@dn.pt