ARS admitem constrangimentos nas unidades de saúde, mas não revelam dados de infetados

Quantos médicos, enfermeiros, assistentes operacionais e outros profissionais foram infetados nesta onda? O DN perguntou ao ministério, à ACSS, às ARS, mas não obteve respostas.
Publicado a
Atualizado a

O Centro Hospitalar Universitário do Algarve, que integra os hospitais de Faro e de Portimão, assumiu, no início desta semana, ter cem profissionais infetados com covid-19, o que estava a dificultar a elaboração das escalas. A partir daqui, o DN quis saber quantos profissionais foram infetados durante esta onda epidémica gerada pela nova variante Ómicron em todo o país e como isso estava a afetar as unidades, mas ao que apurámos não existem dados centralizados.

O Ministério da Saúde não os tem, a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) também não e as ARS idem. Segundo afirmaram ao DN, "só cada unidade tem esses dados que são recolhidos pelos serviços de saúde ocupacional". As ordens dos médicos e dos enfermeiros também não os têm, embora tenham referido ao DN que os pedem recorrentemente desde o início da pandemia.

A bastonária dos enfermeiros argumentou mesmo: "Dados sobre quantos profissionais estão infetados existem, não é correto dizer-se que não existem. O que acontece é que não os querem dar." Ana Rita Cavaco explica que desde o início da pandemia que vinham a pedir tais dados à tutela e "só em julho do ano passado" tiveram acesso a "alguns dados" através do gabinete do secretário de Estado António Sales. "Na altura, já havia mais de 8500 enfermeiros que tinham sido infetados." Mas sobre quantos podem ter sido infetados agora, diz: "Também não temos ideia. Há situações complicadas em várias equipas, mas números concretos não temos."

A bastonária admitiu que nos últimos tempos tem feito visitas a várias unidades para acompanhar as situações em que a falta de recursos de enfermagem, e de ausências por doença, têm dificultado o exercício das tarefas, argumentando haver "enfermeiros em alguns serviços que têm um trabalho suplementar enormíssimo, não só para completar o trabalho dos colegas que não existem, como os dos que ficam em isolamento".

Destaquedestaque"Embora não haja dados concretos, Ana Rita Cavaco e Filipe Froes assumiram ao DN que a ausência de profissionais por infeção é transversal de norte a sul do país. O pneumologista argumentou até que esta tem sido uma das razões pela qual "o bastonário e outros membros da ordem têm defendido a redução do número de dias de isolamento para cinco."

Do lado da Ordem dos Médicos, o coordenador do Gabinete de Crise para a Covid-19, o pneumologista Filipe Froes também afirma que "à ordem nunca foram disponibilizados tais dados". "As situações de que vamos tendo conhecimento chegam-nos através do feedback de colegas." Embora não haja dados concretos, Ana Rita Cavaco e Filipe Froes assumiram ao DN que a ausência de profissionais por infeção é transversal de norte a sul do país. O pneumologista argumentou até que esta tem sido uma das razões pela qual "o bastonário e outros membros da ordem têm defendido a redução do número de dias de isolamento, para cinco dias, de forma a atenuar os constrangimentos criados nas unidades".

O DN tentou saber junto de algumas unidades hospitalares da região de Lisboa e Vale do Tejo quantos profissionais teriam sido infetados, mas não conseguiu que tal informação lhe fosse facultada, apesar de ser frequentemente referida para explicar o absentismo nas unidades. Além dos números de infetados, quisemos saber também como é que a situação estava a afetar as unidades de saúde e o que as Administrações Regionais de Saúde estavam a fazer para a resolver, juntamente com cada unidade. As perguntas foram enviadas às cinco ARS do país, mas só as ARS de Lisboa e Vale do Tejo e do Norte responderam. As restantes, centro, Alentejo e Algarve, não deram qualquer resposta, apesar da nossa insistência.

A Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), na resposta enviada ao DN, admitiu constrangimentos devido ao número de infetados, sobretudo na área dos cuidados de saúde primários. "No pico desta quinta vaga verificou-se algum constrangimento na falta de profissionais, motivado pelo isolamento por infeção ou por isolamento profilático, que foi mitigado pelas próprias equipas de cada uma das unidades, através de mecanismos como a intersubstituição de profissionais e a colaboração de profissionais de outras unidades, sempre que se justificasse", sublinhando ainda que, "apesar do constrangimento verificado, foi sempre possível assegurar os cuidados de saúde prestados a todos os utentes". Contudo, em relação aos hospitais, já não dispõe de qualquer informação, solicitando que este tipo de informação fosse pedida às unidades.

A Administração Regional do Norte (ARSN) assume que, na área dos cuidados primários, e depois de contacto com os ACES da região, "o número de profissionais ausentes (positivos ativos e em quarentena por contacto de risco) variou, em média, entre 2% e 3% do universo total de cada instituição". Nos hospitais, esta média tem variado "entre 1% e 1,5% do total de profissionais".

Na mesma resposta, a ARSN explica que, no entanto, "este défice de profissionais foi perfeitamente mitigável por ajustamento de horários, alocação de recursos humanos de outras unidades (ao nível de cuidados de saúde primários) ou recurso a trabalho extraordinário". Na fase atual, "e com as ausências em apreço, não se verifica impacto significativo na prestação de cuidados". Mas dados concretos também não os dá.

O DN contactou ainda a ACSS, que disse não ter tais dados. No Ministério da Saúde foi-nos dito o mesmo, porque estes dados tinham de ser pedidos a cada unidade. No Portal da Transparência do SNS, em que são divulgadas as ausências de profissionais por unidade e ARS, estão designadas várias causas, parentalidade, assistência à família, férias e doença, embora neste item não haja qualquer distinção relativa à infeção por SARS-CoV-2. Em entrevista ao DN, em janeiro, quando já muitos alertavam para os constrangimentos em equipas devido à covid-19, o bastonário dos médicos confirmava não ter tais dados e que estes eram essenciais ter.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt