IP garante execução dos 2,1 mil milhões do Ferrovia 2020 até 2023
O programa de obras para as linhas de comboio, depois de muitos atrasos, ainda só está a meio da viagem. O Ferrovia 2020, com um orçamento de 2,175 mil milhões de euros, foi apresentado há precisamente quatro anos pela empresa que faz a gestão da ferrovia, a IP - Infraestruturas de Portugal, e deveria ficar concluído em 2021. Carlos Fernandes, vice-presidente, garante, no entanto, que todo o investimento será executado até ao final de 2023.
"Estamos a trabalhar para que todas as obras do Ferrovia 2020 estejam concluídas até ao final deste quadro comunitário, dia 31 de dezembro de 2023, para podermos beneficiar integralmente dos fundos europeus", assegura ao DN/Dinheiro Vivo.
Quando as obras estiverem concluídas, a rede ferroviária portuguesa terá melhores condições para o transporte de mercadorias - serão possíveis comboios com 750 metros de comprimento; e o material circulante a gasóleo será substituído por comboios elétricos em praticamente todas as linhas. A velocidade dos troços, no entanto, será a mesma.
Para cumprir os planos, a IP está a passar da fase do projeto para a fase da obra: só neste ano, serão investidos 288 milhões de euros, o maior montante de sempre e que representa mais dinheiro gasto do que no total dos últimos cinco anos (265,7 milhões). "Durante o primeiro semestre, teremos praticamente todos os projetos concluídos. O que até lá não ficar pronto, será finalizado até ao final deste ano", explica Carlos Fernandes. A eletrificação da rede entre o Marco de Canaveses e a Régua, na Linha do Douro, deverá ser o último troço a sair da fase do papel.
Apesar das garantias da empresa pública, o Ferrovia 2020 vai ficar concluído com pelo menos dois anos de atraso face às previsões iniciais. "Quando o primeiro calendário foi publicado, em 2016, não havia noção clara do estado a que o mercado tinha chegado. Entre 2010 e 2016, o setor ferroviário esteve praticamente parado, sem projetos nem obras. Deparámo-nos com um mercado claramente incapaz de responder à dimensão deste programa: as empresas tinham perdido gente qualificada. Por isso é que os prazos para elaboração de projeto foram claramente superiores aos que inicialmente esperávamos."
A demora na elaboração dos projetos também contribuiu para o atraso nas obras. A empresa foi obrigada a recorrer a especialistas do estrangeiro, que, por não conhecerem as especificidades da rede ferroviária portuguesa, apresentaram propostas de obra que "foram revistas várias vezes pela nossa equipa técnica". No último ano, também deixaram de aparecer candidatos para responder aos concursos públicos lançados.
Já no terreno, acelerar a concretização das obras está fora de hipótese. "Só poderíamos fazer isso se a linha ficasse fechada por oito horas, em vez de cinco horas e meia. Mas isso causaria fortes penalizações aos utentes."
Numa linha paralela, a IP também já está a preparar-se para o próximo pacote de obras ferroviárias, o PNI 2030. A ideia é que a empresa não volte a ficar parada, sem projetos, como aconteceu em 2013 e 2014. "Já estamos a pensar no próximo programa, que vai permitir construir novos troços, aumentar a capacidade de transporte de mercadorias, aumentar a velocidade de circulação e até chegar aos aeroportos. São objetivos mais ambiciosos e que se somam ao Portugal 2020."
Para garantir a execução das obras, também é preciso que a gestora da ferrovia e das estradas continue junta. "Fazer a cisão desta empresa seria um caos nesta altura, em que estamos cheios de projetos no Ferrovia 2020 e o PNI 2030 vai ser um desafio muito maior. Além de ter de se contratar muita gente, teríamos de parar as empresas por dois anos para fazer o que quer que seja. É um cenário completamente abandonado, independentemente de quem concorda ou não com o processo de fusão.