"Só estudar também não é eficaz". Instituto Superior Técnico acolhe os novos alunos

Instituto Superior Técnico, que tem o curso com a média mais alta do país, abre as portas aos novos alunos. O DN foi conhecer alguns deles. Estudam, sim, mas também têm tempos livres e convivem com os amigos.
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O ambiente mais parece o de uma festa, com muita gente jovem, conversas entrecruzadas, música e uma sucessão de bancas no átrio do edifício principal, onde os alunos mais velhos fazem questão de mostrar as mais diversas atividades - do ciclismo ao cinema, do teatro às atividades mais ligadas à tecnologia e aos computadores e aos próprios cursos, da Engenharia Aeroespacial às outras engenharias todas: Mecânica, Naval, Biomédica e todos os outros.

De certa forma, é uma festa, sobretudo para os alunos que agora chegam ao Instituto Superior Técnico (IST) e se preparam para iniciar aqui uma nova, e decisiva, etapa das suas vidas - esta semana estão a decorrer as inscrições nos cursos, e esta segunda-feira chegaram os primeiros, das engenharias Aeroespacial, Física Tecnológica e Biomédica, que os mais velhos fizeram questão de acolher e orientar, e de lhes mostrar os cantos à casa.

Gonçalo Martins, de 17 anos, é um desses alunos. Vai mudar-se da Póvoa de Varzim para Lisboa, para estudar Engenharia Aeroespacial, o curso que este ano teve a média mais alta de entrada em todo o país: 18,9.

Para ele, isso não constituiu qualquer problema, porque a média com que terminou o secundário, exames incluídos, bate confortavelmente aquela marca: 19,85. Ela torna-o também no aluno com a nota mais alta a entrar neste ano no Instituto Superior Técnico.

"No 11.º e no 12.º ano, na escola secundária, percebi que o que queria era Engenharia Aeroespacial ou Mecânica. Na Universidade do Porto não há Aeroespacial, e podia ter escolhido fazer a Mecânica ali, ficava perto de casa, mas gostei mais das cadeiras do curso de Aeroespacial e no momento da decisão resolvi arriscar tudo", conta.

Arriscar é a palavra certa, já que para cumprir o seu sonho, Gonçalo vai ter de mudar-se da Póvoa de Varzim para Lisboa, afastar-se mais do que desejaria dos amigos e da família e enfrentar novas responsabilidades, ficar mais entregue a si próprio.

"Claro que tenho alguns receios. O curso é de dificuldade elevada, vou ter mais responsabilidade e autonomia, fico mais longe das minhas amizades", enumera. Sabe que há de superar as dificuldades. Encara o estudo sem dramas, até porque, diz, não é daqueles que fazem mais nada senão estudar. "Estudo o normal, e depende dos dias, no período antes dos exames estudo mais."

Nada, no entanto, que o impeça de ter tempos livres e de estar com os amigos, "para beber um café, sair à noite ou ir ao cinema", garante.

Agora inicia uma nova etapa. "Poderá haver dificuldades, claro, mas tentarei superá-las", diz confiante.

De Beja para Lisboa

Carolina Carvalhal, de 17 anos, é outra das novas alunas do Instituto Superior Técnico que integram o contingente de 28% de raparigas que entram neste ano no Técnico no conjunto de todos os cursos.

Vinda de Beja, também ela vai ter de mudar-se para Lisboa, para poder estudar Engenharia Física e Tecnológica, o curso que colocou em primeira opção - a segunda escolha era Engenharia Biomédica e "estaria igualmente bem, porque gosto muito de Biologia", explica.

Engenharia Física Tecnológica é o segundo curso com a média mais elevada do país, quase a par de Aeroespacial, com média de entrada que ficou desta vez em 18,8 valores. Este, como a maior parte dos cursos do IST, tem maioritariamente alunos do sexo masculino (76%), sendo as raparigas 24%. "Isso não é problema nenhum", garante Carolina.

A jovem, que concluiu o secundário na Escola D. Manuel I de Beja, entrou à vontade no curso da sua primeira opção, já que a sua média final é de 19,5.

"Tenho pena de deixar a minha família", confessa. Mas vê sobretudo o lado bom da sua escolha: "Vou aprender tanto, e Lisboa tem muito mais para oferecer do que Beja, que é uma cidade pequena."

Carolina poderia provavelmente candidatar-se a um alojamento numa residência de estudantes, já que tem uma média muito alta, mas preferiu uma solução diferente. "Com quatro amigas de Beja, que também vêm estudar para Lisboa para outros cursos, alugámos em Lisboa um apartamento de uns amigos dos meus pais", conta.

No seu caso, vai pagar 380 euros, mas ela já tem apalavradas explicações para poder ajudar na despesa. "Vai tirar-me algum tempo de estudo, mas tem de ser."

Do curso, todos lhe dizem que "é muito difícil", por isso está de sobreaviso e sabe que o importante é não desmotivar, até porque a Física e a Matemática são disciplinas de que gosta muito. "Estudo, mas não demais, sempre tive tempo para outras coisas e para os meus amigos", explica.

Viver em Lisboa será também uma abertura de horizontes e possibilidades, espera. Além das explicações, Carolina tem vontade de "fazer novos amigos, integrar grupos de jovens, talvez fazer voluntariado ou algo relacionado com arte ou fotografia". Está tudo em aberto. O curso, no entanto, é central. No futuro, Carolina quer ser investigadora, em áreas ligadas ao espaço ou à saúde, mas, concretamente, logo se vê. "Vejo-me a fazer o que eu quiser", conclui.

Um curso a pensar na investigação

Carolina Cunha, de 18 anos, escolheu Engenharia Biomédica e entrou também sem qualquer dificuldade, graças à sua média final de secundário, de 19 valores.

Não tinha grandes dúvidas de que seria colocada na primeira opção, mas quando recebeu o e-mail com o resultado, ainda antes das zero horas do dia 8 de setembro, não conseguiu abri-lo logo. "Estava sozinha em casa e preferi esperar pelos meus pais", conta, feliz.

Carolina Cunha nunca quis ir para Medicina. "Gosto de Matemática, de Física e de Biologia e de Investigação, este é o curso perfeito", garante.

A viver em Alverca, onde sempre estudou, não vai mudar-se - não precisa. "É meia hora de comboio", esclarece. Nesse aspeto tem a vida facilitada, mas sabe que vai ter de se empenhar no estudo, coisa a que já está habituada.

"Até ao 10.º fiz patinagem artística, mas a partir do 11.º tive de deixar, porque eram muitas horas no rinque a praticar, tive de escolher entre a patinagem e a matemática."

A média final do secundário mostra que fez a aposta acertada, mantendo espaço, no entanto, para passear e estar com os amigos e, uma vez por outra, patinar nos passadiços, ao ar livre. "Só estudar também não é eficaz", garante.

Quanto às primeiras impressões da sua nova escola, não tem dúvidas: "São boas, é tudo muito bom."

Dentro de alguns anos, com o curso já concluído, o que espera é fazer investigação em neurociências. Em quê, exatamente, não sabe. Mas tem agora o curso todo para descobrir.

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