Depois do negociador chefe David Frost e do ministro Michael Gove, é o próprio Boris Johnson quem vai a Bruxelas para, em definitivo, alcançar um acordo sobre as relações futuras com a União Europeia - ou fracassar. Foi o que saiu da reunião telefónica de hora e meia entre o primeiro-ministro britânico e a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen na segunda-feira..Este encontro, a realizar-se "nos próximos dias", coincide com o Conselho Europeu de quinta e sexta-feira, que junta os líderes europeus em Bruxelas. O negociador chefe da UE, Michel Barnier, tinha dito aos eurodeputados que quarta-feira era o prazo para uma solução, tendo em conta o processo de aprovação nos parlamentos e a entrada em vigor no dia 1 de janeiro, como previsto no acordo de retirada do Reino Unido da UE..Brexit: Negociações na reta final sem avanços suficientes.O Reino Unido deixou a UE em 31 de janeiro, mas sairá do mercado único no final do ano, após um período de transição originalmente destinado a dar tempo para moldar futuros laços. O objetivo das negociações é estabelecer uma relação comercial com tarifas zero, de forma a evitar um não acordo, o que significa, na prática, a adoção das regras da Organização Mundial do Comércio, o que trará grandes perturbações a partir de 1 de janeiro..Um cenário que o governo britânico uma e outra vez disse preferir a um mau acordo ou a abdicar de certos princípios. As sucessivas rondas negociais redundaram em avanços em matérias consensuais Aliás, o próprio Boris Johnson ameaçou abandonar as negociações em junho e em outubro de forma que em janeiro UE e Reino Unido ficam sem um acordo comercial. Mas não é isso que a maioria dos britânicos prefere..Apesar de muito divididos, só 17% defendem o fim do período de transição sem acordo algum. As opções mais populares são um acordo que marque o fim da ligação (27%), um pedido de readmissão na UE (25%) e outros 17% preferem um acordo de alinhamento com a UE. Segundo esta sondagem Opinium, há agora uma margem de 9% de britânicos a votar favoravelmente à permanência no clube europeu, algo só visto em fevereiro de 2019, quando a maioria pró-Europa chegou aos dez pontos percentuais, e em abril de 2015, quando atingiu 14%..Barnier e o seu homólogo britânico David Frost lideraram maratonas negociais, mas inconclusivas. Na segunda-feira informaram os superiores hierárquicos do bloqueio. Enquanto o ministro Michael Gove se encontrou com o vice-presidente da Comissão Maroš Šefčovič, a presidente da Comissão Europeia falou em videoconferência com o presidente do Conselho Charles Michel, a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Emmanuel Macron. Por fim manteve a referida conversa com Boris Johnson..O pessimismo reina: o governo britânico fez saber que existem "todas as possibilidades" para o fracasso das negociações, segundo fez saber uma fonte governamental. "As conversações estão agora na mesma posição que estavam na sexta-feira. Não fizemos progressos tangíveis. É evidente que isto tem agora de continuar politicamente", disse uma fonte do governo britânico. "Embora não consideremos que este processo esteja encerrado, as coisas estão a parecer muito complicadas e há todas as hipóteses de não o conseguirmos.".Twittertwitter1336018905781964803.No final do telefonema de Boris Johnson com Ursula von der Leyen, uma declaração conjunta anuncia o encontro bilateral e reconhece as diferenças de sempre em três temas: pescas, condições de concorrência e resolução de diferendos..A maioria das fontes ouvidas pela AFP diz que as questões mais difíceis são garantir a concorrência justa e estabelecer um mecanismo de penalização rápido se qualquer um dos lados infringisse, por exemplo, nas normas ambientais ou sanitárias..O Reino Unido puxa dos galões de passar a ser um "Estado costeiro independente" e quer decidir quem pesca nas suas costas e em que termos. Para tal preconiza um acordo anual de "oportunidades de pesca" que não seja baseado em mecanismos de partilha de quotas de pesca, um instrumento que considera "ultrapassado"..Mas ainda que o Reino Unido chegue a acordo com Bruxelas, a ideia de que iria recuperar a soberania do setor é desfasada da realidade. Segundo a BBC, mais de metade do valor das quotas pesqueiras em Inglaterra pertencem a empresas não inglesas, algo que a saída da UE ou um acordo de pescas com Bruxelas não irá resolver. Estes direitos de pesca foram adquiridos nos anos 1990 numa época em que os ingleses perderam quotas..Refira-se ainda que o mercado pesqueiro escocês é muito mais valioso e aí só há uma pequena minoria de empresas estrangeiras a operar..Se não houver acordo sobre o acesso às águas de pesca, o Reino Unido não terá pleno acesso ao mercado da UE, sem tarifas ou impostos, para vender o peixe..No ano passado, cerca de três quartos das exportações de peixe do Reino Unido foram para a UE..Desde o início do processo que várias fontes dão a França como a mais intransigente, e não é nas pescas que Paris vai transigir. Aliás, o governo francês fez saber que, se um acordo não proteger os interesses franceses., irá vetá-lo..A UE receia que o Reino Unido corte na regulamentação para que as empresas ganhem vantagens competitivas, o que prejudicaria as empresas europeias..Bruxelas quer que o Reino Unido se mantenha particularmente fiel às regras da UE sobre temas como os direitos dos trabalhadores, os regulamentos ambientais que as empresas têm de seguir e a ajuda estatal às empresas. Ou como ambas as partes se comprometeram na declaração política, querem "manter um quadro sólido e abrangente para a concorrência e o controlo dos auxílios estatais que evite distorções indevidas do comércio e da concorrência; comprometer-se com os princípios de boa governação na área da tributação e ao combate às práticas fiscais prejudiciais; e manter os padrões ambientais, sociais e de emprego nos níveis elevados atuais fornecidos pelas normas comuns existentes"..Londres, por sua vez, alega que o propósito do Brexit é libertar-se da obrigação de seguir as regras da UE..A terceira questão desemboca na segunda: como gerir ("governança") o futuro acordo e sobretudo como tratar os diferendos se uma das partes quebrar as regras..A UE quer poder retaliar a violação das regras por parte do Reino Unido numa área com a imposição de tarifas ou impostos..Para Bruxelas, cabe ao Tribunal de Justiça da UE apreciar os litígios, algo impensável para os brexiteers. Basta recordar o documento que serve de orientação nas negociações ao governo de Boris Johnson: "Aconteça o que acontecer, o governo não negociará qualquer acordo em que o Reino Unido não tenha o controlo das suas próprias leis e da vida política. Isso significa que não concordaremos com nenhuma obrigação para que as nossas leis estejam alinhadas com as da UE ou que as instituições da UE, incluindo o Tribunal de Justiça da UE, tenham jurisdição no Reino Unido.".Tudo somado, disse um diplomata europeu, o lado britânico "está a pressionar a UE a desligar a ficha". Para acrescentar: "Mas não creio que o façam."."Talvez precisemos de um no deal para conseguir um acordo", concluiu.
Depois do negociador chefe David Frost e do ministro Michael Gove, é o próprio Boris Johnson quem vai a Bruxelas para, em definitivo, alcançar um acordo sobre as relações futuras com a União Europeia - ou fracassar. Foi o que saiu da reunião telefónica de hora e meia entre o primeiro-ministro britânico e a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen na segunda-feira..Este encontro, a realizar-se "nos próximos dias", coincide com o Conselho Europeu de quinta e sexta-feira, que junta os líderes europeus em Bruxelas. O negociador chefe da UE, Michel Barnier, tinha dito aos eurodeputados que quarta-feira era o prazo para uma solução, tendo em conta o processo de aprovação nos parlamentos e a entrada em vigor no dia 1 de janeiro, como previsto no acordo de retirada do Reino Unido da UE..Brexit: Negociações na reta final sem avanços suficientes.O Reino Unido deixou a UE em 31 de janeiro, mas sairá do mercado único no final do ano, após um período de transição originalmente destinado a dar tempo para moldar futuros laços. O objetivo das negociações é estabelecer uma relação comercial com tarifas zero, de forma a evitar um não acordo, o que significa, na prática, a adoção das regras da Organização Mundial do Comércio, o que trará grandes perturbações a partir de 1 de janeiro..Um cenário que o governo britânico uma e outra vez disse preferir a um mau acordo ou a abdicar de certos princípios. As sucessivas rondas negociais redundaram em avanços em matérias consensuais Aliás, o próprio Boris Johnson ameaçou abandonar as negociações em junho e em outubro de forma que em janeiro UE e Reino Unido ficam sem um acordo comercial. Mas não é isso que a maioria dos britânicos prefere..Apesar de muito divididos, só 17% defendem o fim do período de transição sem acordo algum. As opções mais populares são um acordo que marque o fim da ligação (27%), um pedido de readmissão na UE (25%) e outros 17% preferem um acordo de alinhamento com a UE. Segundo esta sondagem Opinium, há agora uma margem de 9% de britânicos a votar favoravelmente à permanência no clube europeu, algo só visto em fevereiro de 2019, quando a maioria pró-Europa chegou aos dez pontos percentuais, e em abril de 2015, quando atingiu 14%..Barnier e o seu homólogo britânico David Frost lideraram maratonas negociais, mas inconclusivas. Na segunda-feira informaram os superiores hierárquicos do bloqueio. Enquanto o ministro Michael Gove se encontrou com o vice-presidente da Comissão Maroš Šefčovič, a presidente da Comissão Europeia falou em videoconferência com o presidente do Conselho Charles Michel, a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente francês Emmanuel Macron. Por fim manteve a referida conversa com Boris Johnson..O pessimismo reina: o governo britânico fez saber que existem "todas as possibilidades" para o fracasso das negociações, segundo fez saber uma fonte governamental. "As conversações estão agora na mesma posição que estavam na sexta-feira. Não fizemos progressos tangíveis. É evidente que isto tem agora de continuar politicamente", disse uma fonte do governo britânico. "Embora não consideremos que este processo esteja encerrado, as coisas estão a parecer muito complicadas e há todas as hipóteses de não o conseguirmos.".Twittertwitter1336018905781964803.No final do telefonema de Boris Johnson com Ursula von der Leyen, uma declaração conjunta anuncia o encontro bilateral e reconhece as diferenças de sempre em três temas: pescas, condições de concorrência e resolução de diferendos..A maioria das fontes ouvidas pela AFP diz que as questões mais difíceis são garantir a concorrência justa e estabelecer um mecanismo de penalização rápido se qualquer um dos lados infringisse, por exemplo, nas normas ambientais ou sanitárias..O Reino Unido puxa dos galões de passar a ser um "Estado costeiro independente" e quer decidir quem pesca nas suas costas e em que termos. Para tal preconiza um acordo anual de "oportunidades de pesca" que não seja baseado em mecanismos de partilha de quotas de pesca, um instrumento que considera "ultrapassado"..Mas ainda que o Reino Unido chegue a acordo com Bruxelas, a ideia de que iria recuperar a soberania do setor é desfasada da realidade. Segundo a BBC, mais de metade do valor das quotas pesqueiras em Inglaterra pertencem a empresas não inglesas, algo que a saída da UE ou um acordo de pescas com Bruxelas não irá resolver. Estes direitos de pesca foram adquiridos nos anos 1990 numa época em que os ingleses perderam quotas..Refira-se ainda que o mercado pesqueiro escocês é muito mais valioso e aí só há uma pequena minoria de empresas estrangeiras a operar..Se não houver acordo sobre o acesso às águas de pesca, o Reino Unido não terá pleno acesso ao mercado da UE, sem tarifas ou impostos, para vender o peixe..No ano passado, cerca de três quartos das exportações de peixe do Reino Unido foram para a UE..Desde o início do processo que várias fontes dão a França como a mais intransigente, e não é nas pescas que Paris vai transigir. Aliás, o governo francês fez saber que, se um acordo não proteger os interesses franceses., irá vetá-lo..A UE receia que o Reino Unido corte na regulamentação para que as empresas ganhem vantagens competitivas, o que prejudicaria as empresas europeias..Bruxelas quer que o Reino Unido se mantenha particularmente fiel às regras da UE sobre temas como os direitos dos trabalhadores, os regulamentos ambientais que as empresas têm de seguir e a ajuda estatal às empresas. Ou como ambas as partes se comprometeram na declaração política, querem "manter um quadro sólido e abrangente para a concorrência e o controlo dos auxílios estatais que evite distorções indevidas do comércio e da concorrência; comprometer-se com os princípios de boa governação na área da tributação e ao combate às práticas fiscais prejudiciais; e manter os padrões ambientais, sociais e de emprego nos níveis elevados atuais fornecidos pelas normas comuns existentes"..Londres, por sua vez, alega que o propósito do Brexit é libertar-se da obrigação de seguir as regras da UE..A terceira questão desemboca na segunda: como gerir ("governança") o futuro acordo e sobretudo como tratar os diferendos se uma das partes quebrar as regras..A UE quer poder retaliar a violação das regras por parte do Reino Unido numa área com a imposição de tarifas ou impostos..Para Bruxelas, cabe ao Tribunal de Justiça da UE apreciar os litígios, algo impensável para os brexiteers. Basta recordar o documento que serve de orientação nas negociações ao governo de Boris Johnson: "Aconteça o que acontecer, o governo não negociará qualquer acordo em que o Reino Unido não tenha o controlo das suas próprias leis e da vida política. Isso significa que não concordaremos com nenhuma obrigação para que as nossas leis estejam alinhadas com as da UE ou que as instituições da UE, incluindo o Tribunal de Justiça da UE, tenham jurisdição no Reino Unido.".Tudo somado, disse um diplomata europeu, o lado britânico "está a pressionar a UE a desligar a ficha". Para acrescentar: "Mas não creio que o façam."."Talvez precisemos de um no deal para conseguir um acordo", concluiu.