Não é todos os dias que chega ao circuito português uma produção independente moçambicana, rodada em Maputo. Resgate, realizado por Mickey Fonseca, representa esse esforço e determinação de levar uma história à grande tela, com baixo orçamento, e ainda fazê-la viajar para lá das fronteiras nacionais - estará em exibição nos cinemas Alvaláxia, em Lisboa, e Parque Nascente, no Porto..Primeira longa-metragem da produtora Mahla Filmes, fundada em conjunto pelo realizador e diretor de fotografia Pipas Forjaz, este é um retrato urbano que oscila entre os contornos de drama e thriller. No centro de tudo apresenta-se um homem acabado de sair da prisão, que só deseja oferecer à namorada e à filha uma vida digna e segura, mas que será atropelado pelas circunstâncias à sua volta enquanto o tenta fazer: a sua falecida mãe deixou um empréstimo da casa por pagar e as más companhias que o tinham levado para trás das grades regressam com mais promessas de eldorado....A somar-se a isso, o humilde trabalho que conseguiu numa sucata não chega para os custos. Entre a espada e a parede, ou melhor, entre a grande necessidade e a oferta aliciante (ainda que perigosa), ele acaba envolvido numa rede de sequestros que pode ser a sua desgraça ou o seu golpe de mestre..Seguindo o protagonista em constantes deambulações pela cidade, como que à procura de um rumo para a sua vida, a câmara de Fonseca tenta captar o fôlego social do meio envolvente. Esse mesmo meio que se assume como o panorama em que se movem as personagens, umas ligadas à perversa lógica do mercado (o banco que quer hipotecar a casa, dando prazos muito curtos para se pagar um empréstimo), outras apanhadas pelas malhas do submundo criminoso, onde impera a ausência de lei. Aqui não há escapatória para ninguém....O enredo dramático de Resgate tem muito de universal, mas está claramente ligado à realidade específica de Moçambique, partindo de uma consciência mediática: os casos de raptos de cidadãos abastados que acontecem com frequência no país. É por isso ainda mais raro chegar-nos um filme que, recorrendo em exclusivo à linguagem de ficção, procura transmitir algo da fisionomia contemporânea de Maputo, ao mesmo tempo que remete para as ruínas de um passado - isso está, de um modo simbólico, representado no cinema abandonado onde decorre uma das cenas finais do filme. Cinema esse que eventualmente remeterá para a memória pessoal do realizador, Mickey Fonseca, que diz ter conhecido salas esgotadas quando o cinema ainda era um ritual... Pela sua persistência enquanto projeto, Resgate será também um tributo a esse hábito cultural da sala escura, que se vai perdendo nos dias que correm..A reforçar a expressão contemporânea desta longa-metragem está também a banda sonora assinada pelo músico luso-moçambicano Milton Gulli e pelo moçambicano Nandele Maguni, além de, entre outros, temas do rapper Azagaia. São sonoridades ora mais tradicionais ora mais eletrónicas, entre a intimidade e o cenário de crime, num filme em que o que mais importa é contar uma história com uma particular paisagem humana.
Não é todos os dias que chega ao circuito português uma produção independente moçambicana, rodada em Maputo. Resgate, realizado por Mickey Fonseca, representa esse esforço e determinação de levar uma história à grande tela, com baixo orçamento, e ainda fazê-la viajar para lá das fronteiras nacionais - estará em exibição nos cinemas Alvaláxia, em Lisboa, e Parque Nascente, no Porto..Primeira longa-metragem da produtora Mahla Filmes, fundada em conjunto pelo realizador e diretor de fotografia Pipas Forjaz, este é um retrato urbano que oscila entre os contornos de drama e thriller. No centro de tudo apresenta-se um homem acabado de sair da prisão, que só deseja oferecer à namorada e à filha uma vida digna e segura, mas que será atropelado pelas circunstâncias à sua volta enquanto o tenta fazer: a sua falecida mãe deixou um empréstimo da casa por pagar e as más companhias que o tinham levado para trás das grades regressam com mais promessas de eldorado....A somar-se a isso, o humilde trabalho que conseguiu numa sucata não chega para os custos. Entre a espada e a parede, ou melhor, entre a grande necessidade e a oferta aliciante (ainda que perigosa), ele acaba envolvido numa rede de sequestros que pode ser a sua desgraça ou o seu golpe de mestre..Seguindo o protagonista em constantes deambulações pela cidade, como que à procura de um rumo para a sua vida, a câmara de Fonseca tenta captar o fôlego social do meio envolvente. Esse mesmo meio que se assume como o panorama em que se movem as personagens, umas ligadas à perversa lógica do mercado (o banco que quer hipotecar a casa, dando prazos muito curtos para se pagar um empréstimo), outras apanhadas pelas malhas do submundo criminoso, onde impera a ausência de lei. Aqui não há escapatória para ninguém....O enredo dramático de Resgate tem muito de universal, mas está claramente ligado à realidade específica de Moçambique, partindo de uma consciência mediática: os casos de raptos de cidadãos abastados que acontecem com frequência no país. É por isso ainda mais raro chegar-nos um filme que, recorrendo em exclusivo à linguagem de ficção, procura transmitir algo da fisionomia contemporânea de Maputo, ao mesmo tempo que remete para as ruínas de um passado - isso está, de um modo simbólico, representado no cinema abandonado onde decorre uma das cenas finais do filme. Cinema esse que eventualmente remeterá para a memória pessoal do realizador, Mickey Fonseca, que diz ter conhecido salas esgotadas quando o cinema ainda era um ritual... Pela sua persistência enquanto projeto, Resgate será também um tributo a esse hábito cultural da sala escura, que se vai perdendo nos dias que correm..A reforçar a expressão contemporânea desta longa-metragem está também a banda sonora assinada pelo músico luso-moçambicano Milton Gulli e pelo moçambicano Nandele Maguni, além de, entre outros, temas do rapper Azagaia. São sonoridades ora mais tradicionais ora mais eletrónicas, entre a intimidade e o cenário de crime, num filme em que o que mais importa é contar uma história com uma particular paisagem humana.