Greta, Ahmed, Jacinda, Trump... Em quem aposta para Nobel da Paz?

A grande favorita, entre os 301 candidatos de uma lista secreta, é a jovem sueca ativista do ambiente, mas o Comité Nobel norueguês costuma surpreender. Vencedor é conhecido nesta sexta-feira.
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O vencedor do Prémio Nobel da Paz é decidido à porta fechada por um comité de cinco pessoas nomeado pelo Parlamento norueguês. Mas há muito que as casas de apostas tentam perceber quem é o favorito a levar para casa o prestigioso galardão e o prémio de nove milhões de coroas suecas (cerca de 830 mil euros). Neste ano, há um nome que se destaca: o da jovem ativista sueca Greta Thunberg, que lançou os protestos das Sextas-Feiras pelo Futuro e pôs o aquecimento global nas bocas do mundo. Mas, entre os nomeados, está também um dos seus principais críticos, o presidente dos EUA, Donald Trump.

Oficialmente há 301 candidatos ao Nobel da Paz deste ano, 78 são organizações. É o quarto número mais elevado de candidaturas desde que o primeiro prémio foi entregue, em 1901 - em 19 ocasiões, a última vez em 1972, não foi entregue a ninguém. O recorde de candidatos foi em 2016: 376. O galardão acabou nas mãos do então presidente colombiano, Juan Manuel Santos, que assinara a paz com a guerrilha das FARC. Os nomes dos nomeados não são revelados, ficando em segredo por 50 anos, mas isso não trava a especulação.

Greta, de 16 anos, é a favorita nas casas de apostas neste ano, mas a vitória não é garantida. Pelo contrário. Os favoritos em 2018 eram os líderes das duas Coreias, Kim Jong-un e Moon Jae-in, numa lista que incluía ainda Trump ou o Papa Francisco, nomeado todos os anos desde 2013, quando assumiu a liderança da Igreja Católica. Contudo, os vencedores foram o médico congolês Denis Mukwege (que já tinha estado entre os favoritos anos antes) e a ativista yazidi Nadia Murad. Ambos foram distinguidos "pelos esforços para acabar com o uso da violência sexual como arma de guerra".

É preciso recuar até 2014 para ver um favorito das apostas a ser galardoado: Malala Yousafzai, a paquistanesa que foi a mais jovem a receber o Nobel da Paz (tinha 17 anos), passou para a frente das probabilidades de ganhar na véspera da divulgação do vencedor. Até então o favorito era o Papa . Malala dividiu o prémio com o ativista indiano Kailash Satyarthi, distinguidos "pela luta contra a supressão de crianças e jovens e pelo direito à educação".

E neste ano? De quem é que se fala?

Greta Thunberg: o rosto dos jovens pelo ambiente

A jovem ativista sueca que há pouco mais de um ano saltou para a ribalta com uma greve às aulas e protestos junto ao Parlamento do seu país em defesa do ambiente é a grande favorita das casas de apostas - se gastar um euro só ganha 1,5 na Ladbrokes. Greta, que há dias ganhou o mais alto galardão da Amnistia Internacional, deixou marca na abertura da Cimeira da Ação Climática na ONU com o discurso em que acusava os líderes mundiais de lhe roubarem os sonhos e a infância com as suas palavras vazias. "Como se atrevem?", questionou.

A dúvida é se o Comité Nobel norueguês vai atrever-se a dar-lhe o prémio na sexta-feira. Em primeiro lugar, há o problema da idade de Greta. Aos 16 anos, já está sujeita a imensa pressão, com ataques (a maior parte das vezes pessoais) de parte da direita e dos conservadores, que procuram desacreditá-la e à sua mensagem. Entre os críticos estão Trump, mas também o presidente russo, Vladimir Putin, que alegou que ela estava "mal informada" e que era manipulada.

Por outro lado, há quem duvide da existência de relação entre alterações climáticas e conflitos armados. Em 2007, essa foi uma das críticas após a atribuição do Nobel a Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA, e ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Foram distinguidos "pelos esforços para desenvolver e disseminar maior conhecimento sobre as mudanças climáticas provocadas pelo homem".

Se o comité norueguês optar por voltar a apostar na defesa do ambiente, pode escolher repartir o prémio entre Greta e o líder indígena brasileiro Raoni Metuktire, da etnia caiapó, que tem quase 90 anos e luta há décadas pela preservação da Amazónia. As casas de apostas colocam-no em terceiro lugar - por cada euro apostado ganharia sete. Depois de um documentário nos anos 1970, de várias campanhas nos anos 1980 e 1990, Raoni voltou neste ano a fazer um périplo pela Europa, passando por França, Bélgica, Luxemburgo ou Vaticano, irritando o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.

Abiy Ahmed: democracia na Etiópia e a paz com a Eritreia

O primeiro-ministro etíope é o segundo entre os favoritos das apostas para vencer o Nobel da Paz (por cada euro apostado, ganha cinco). Em causa está o seu trabalho para reforçar a democracia na Etiópia desde que tomou posse, em abril de 2018, com a libertação de presos políticos e a nomeação de um governo paritário, assim como a assinatura dos acordos de paz com a vizinha Eritreia (pondo fim a um conflito de 20 anos). Na carta de nomeação de Abiy Ahmed, divulgada pelos jornais locais, lê-se que o político de 43 anos é "um símbolo de paz e justiça numa região onde os líderes políticos têm governado pela violência, tirania e violação dos direitos humanos" e por ser "um líder transformacional em equidade e direitos humanos dentro da Etiópia".

Jacinda Ardern: a resposta aos ataques de Christchurch

A primeira-ministra da Nova Zelândia está também entre os favoritos à vitória do Nobel da Paz (por cada euro apostado ganharia nove na Ladbrokes). Jacinta Ardern, no poder desde outubro de 2017, recebeu louvores pela resposta que deu aos ataques contra as mesquitas de Christchurch, que fizeram 51 mortos a 15 de março deste ano. A primeira-ministra reiterou então que não diria nunca o nome do atacante e lançou-se num projeto contra as redes sociais (o ataque foi transmitido em direto) e para alterar a lei das armas na Nova Zelândia, incluindo a proibição da venda de armas semiautomáticas de estilo militar. A Coligação para o Controlo das Armas é outra das apostas de que se fala (um euro de aposta rende 21 euros).

Repórteres sem Fronteiras: pela liberdade de imprensa

Entre os nomeados ao Nobel há várias organizações, e uma delas é a Repórteres sem Fronteiras, que se dedica à defesa da liberdade de imprensa e de informação. Nas casas de apostas, surge logo depois de Adern, com probabilidades muito mais baixas e, por isso, maior dividendo (por cada euro apostado, pode ganhar 13 euros). O Comité Nobel pode aproveitar para distinguir também o Comité para a Proteção dos Jornalistas. Na era das fake news, seria uma forma de apoiar o jornalismo e os jornalistas que arriscam a vida para relatar o que acontece nos vários conflitos em todo o mundo.

Donald Trump "Por muitas coisas, se fossem justos"

Outro candidato é o presidente dos EUA, que é o seu próprio apoiante número um, tendo defendido em várias ocasiões que ele devia receber o Nobel da Paz "por muitas coisas, se fossem justos, o que não são". Em causa, especificamente, o trabalho que tem desenvolvido na província coreana, abrindo caminho para que os líderes da Coreia do Norte e da Coreia do Sul se sentassem à mesma mesa e encontrando-se com Kim Jong-un para negociar a desnuclearização. Trump foi nomeado pelo primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe. Na Ladbrokes, surge com Kim e, por cada euro, o apostador pode ganhar 26. Ao alegar que merece o prémio, Trump lembra que o seu antecessor recebeu um e "não fazia a mínima ideia porque é que o ganhou". Barack Obama venceu em 2009, menos de nove meses após chegar à Casa Branca, pelos seus "esforços extraordinários para fortalecer a diplomacia internacional".

Outros: do terceiro para o ACNUR à Macedónia

O Instituto para a Pesquisa da Paz em Oslo costuma revelar uma lista dos que considera os candidatos mais prováveis. A lista deste ano inclui três dos favoritos nas apostas, Abiy Ahmed, os Repórteres sem Fronteiras e a Coligação para o Controlo das Armas. Mas também três jovens ativistas pela paz: a líbia Hajer Sharief, a somali Ilwad Elman e o ex-deputado Nathan Law Kwun-chung, de Hong Kong. Inclui ainda o Comité Internacional de Resgate, que ajuda os refugiados. Nesta área, o Nobel pode também ir para o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados e o seu líder, Filippo Grandi. Seria o terceiro Nobel para o ACNUR (ganhou em 1954 e 1981). Finalmente, após a resolução do diferendo entre Grécia e a República do Norte da Macedónia em relação ao nome deste último país, há quem aposte num prémio para o ex-primeiro-ministro grego Alexis Tsipras e o seu homólogo macedónio, Zoran Zaev.

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