Investir nas competências do futuro para não deixar ninguém para trás

A transformação da sociedade, à boleia das transições digital e verde, implica que os trabalhadores se adaptem às novas exigências através da formação contínua. "Temos a responsabilidade de apoiar o emprego e criar oportunidades para todos", diz perito da Comissão Europeia.
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Muitas das alterações ao modelo de trabalho verificadas com a chegada da pandemia já vinham sendo, nos últimos anos, antecipadas como tendências para o futuro. É o caso do teletrabalho e da digitalização, que, apesar da adoção em massa em consequência da crise sanitária, vieram para ficar. "Esta mudança também acelerou a necessidade de reforço das competências digitais nos jovens e mais ainda nos adultos", explica ao DN Joaquim Bernardo, presidente da direção do Programa Operacional Capital Humano (PO CH). Segundo um estudo recente da McKinsey sobre os impactos da covid-19 no contexto laboral, cerca de 25% dos trabalhadores terão de procurar novas profissões até 2030. Esta transformação acontece sobretudo nas ocupações que exigem baixas qualificações, em particular em áreas como o atendimento ao público ou de suporte administrativo.

Apesar de reconhecer que a Europa tem, de forma genérica, conseguido "preservar empregos e conter o aumento do desemprego", João Santos alerta que existem muitas pessoas com "as suas perspetivas de carreira em risco". "Temos a responsabilidade de apoiar o emprego e criar oportunidades para todos, numa economia competitiva que não deixe ninguém para trás", afirma o perito da Direção Geral do Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão da Comissão Europeia. O especialista recorda a Cimeira do Porto, organizada em maio pela Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, que pretendeu mobilizar os Estados-membros para a importância de reforçar o investimento nas competências, na educação e na formação ao longo da vida. "É fundamental que cada cidadão tenha as competências transversais que lhe permita adaptar os seus conhecimentos a novas exigências profissionais", defende João Santos.

Porém, para isso será necessário robustecer a formação de trabalhadores, jovens e seniores, mas também apostar na melhoria dos sistemas de ensino e das capacidades de professores e formadores. "Os nossos níveis de competências digitais, face à UE, são inferiores à média, mas não surpreende porque é um problema estrutural do país nos adultos. Em geral, estamos atrás no nível de qualificação da média europeia", esclarece Joaquim Bernardo. Ainda assim, relembra, Portugal tem mostrado uma evolução positiva, tendo em conta que partiu em desvantagem em relação aos seus congéneres. Regressando às lições que a pandemia trouxe, o líder do PO CH dá como exemplo das lacunas no digital o ensino à distância. "Mesmo os mais novos, que têm familiaridade com estas componentes digitais, obrigou-os a desenvolver essas competências porque estão mais adaptados a usá-las para atividades lúdicas", aponta.

Ciente destes desafios num mundo cada vez mais digital e competitivo, a UE definiu esta como uma área prioritária para a próxima década, estabelecendo objetivos ambiciosos. "Esses objetivos incluem ter, pelo menos, 60% dos europeus a participarem todos os anos em formações e, pelo menos, 80% das pessoas entre 16 e 74 anos com competências digitais básicas", explica João Santos, que acompanha de perto estes temas em Bruxelas. Esta aposta, diz, permitirá acelerar a requalificação, a empregabilidade e a inovação.

A revolução tecnológica, aliada à transição verde e aos desafios levantados pela pandemia, já está e continuará a alterar o tipo de empregos necessários à sociedade, eliminando muitos deles e criando outros no seu lugar. Foi assim com a revolução industrial e não será diferente com a digitalização. Mas para dar corpo a esta transformação, as empresas precisam de trabalhadores preparados e altamente qualificados, o que implica, também, que as pessoas procurem adquirir as competências que serão necessárias. Algumas das áreas-chave identificadas são o turismo, a hotelaria, a restauração ou o comércio, a indústria 4.0 e as atividades ligadas à sustentabilidade.

Serão precisamente estes sectores que estarão em destaque na E.Volui - Mostra de Educação e Formação organizada pelo Programa Operacional Capital Humano, no próximo dia 15 de junho, em formato totalmente virtual. Estarão presentes cerca de 20 entidades que partilharão, nas diferentes áreas, informação, experiências, exemplos de percursos e projetos bem-sucedidos. Por outro lado, será uma oportunidade para os participantes ficarem a conhecer a oferta formativa disponível e as expectativas associadas a cada uma, desde a taxa de conclusão à taxa de empregabilidade.

Já durante o evento, dia 15, a partir da 11.00, o Diário de Notícias organiza um webinar, moderado pela jornalista Carla Ribeiro, sobre os desafios e as competências necessárias para construir o futuro do trabalho mais verde e digital, a que poderá assistir em direto no site do DN. Na conversa participam Maria de Lurdes Rodrigues, reitora do ISCTE, Mariana Canto e Castro, diretora de recursos humanos da Randstad Portugal, João Santos, da Comissão Europeia, e Joaquim Bernardo, do PO CH.

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