Reciclagem, comida e transportes públicos. A COP 25 e os desafios ambientais para lá das salas de reunião
Todos quantos estão na zona azul da Cimeira do Clima (área dedicada às negociações políticas e fóruns de discussão sobre as alterações climáticas) têm direito a um passe de cinco dias para usarem os transportes públicos, a uma garrafa de vidro e a pratos, talheres e copos recicláveis. O plástico está escondido, mas esta cá.

NA COP25, a cada 200 metros há um ponto de ecopontos.
© Rita Rato Nunes
Na feira de Madrid, onde durante duas semanas está instalada a Conferência das Partes das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP 25), o plástico é palavra proibida. De facto, a sua utilização foi muito reduzida e não atrai atenções, mas está cá.
Não se encontram garrafas de plástico no recinto. Desde o primeiro dia, que as que existiam foram substituídas por um recipiente de vidro, oferecido no balcão das informações. "Vá buscar a sua garrafa de vidro", aconselhavam os seguranças, os voluntários e os próprios conferencistas. E mesmo para quem não quer andar com uma garrafa de vidro, junto aos pontos de água, os copos são de cartão e na zona das refeições quase tudo parece reciclável: os pratos, os talheres, as caixas, os copos.
Todos estes objetos têm depois um sítio próprio nos ecopontos, espalhados pelos pavilhões, com uma distância de pouco mais de 200 metros entre si. Há um espaço para o cartão, para o vidro, para o plástico e para o lixo orgânico. No entanto, todos os caixotes do lixo estão forrados a plástico. O que significa milhares de sacos de plásticos usados todos os dias, tendo em conta a quantidade de ecopontos disponíveis para servir mais de 25 mil pessoas e a urgência com que estes são substituídos, quase sempre sem que o lixo chegue ao topo. Quantas vezes despeja o lixo por dia? "Não é possível sequer contar. Não paro. Passo por um (caixote) despejo, passo por outro despejo. Ando sempre às voltas", responde uma das funcionárias de limpeza, enquanto avança com o carrinho azul para o próximo ecoponto.
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Cada funcionário de limpeza da cimeira tem uma zona de trabalho atribuída e despeja os caixotes do lixo dezenas de vezes ao dia.
© Rita Rato Nunes
Devido à sua decomposição lenta, os plásticos são um dos principais inimigos do ambiente. Apenas um terço dos produtos constituídos por este material é recolhido e reciclado, acabando a maioria nos mares e nos oceanos, onde 80% dos resíduos encontrados são de plástico. É mais lento a desaparecer do que qualquer outro material e é responsável por intoxicar baleias, tartarugas, pássaros, peixes.
"Isto é de plástico?", pergunta um dos conferencistas, num sotaque que denuncia a sua nacionalidade britânica. Aponta para uma embalagem de salada, num café que serve comida rápida (pizas, empanadas e umas quantas folhas de alface que se esgotam depressa) na COP 25. "Na verdade, não sei", admite a funcionária, que vendeu na mesma a refeição. Apesar de existirem locais (poucos) a venderem comida vegetariana e fruta, as filas maiores à hora de almoço estão concentradas nas cadeias de fast food, no Burger King principalmente.
Transportes públicos
A poucos metros da feira de Madrid, passam a linha de metro cor-de-rosa e vários autocarros. É desta forma que a maioria das pessoas chega e deixa a cimeira. Até porque, durante cinco dias das duas semanas em que decorre a conferência, os participantes podem utilizar de forma gratuita todos os transportes públicos da capital espanhola.
Os poucos carros estacionados na zona pertencem às forcas de segurança que patrulham o perímetro, a cadeias televisivas espanholas e a altos representantes das mais de 190 nações presentes na reunião mundial. Mesmo assim, para alguns, isto ainda é muito: "Estamos numa conferência sobre a sustentabilidade climática e eu ainda estou a ver carros? As pessoas estão a defender uma coisa e a fazer outra", diz um manifestante à porta do metro. É um protesto de uma pessoa só, explicado num cartaz, que defende menos emissões de gases com efeito de estufa.

Na zona azul da cimeira, todas as pessoas têm um cartão, válido por cinco dias, para utilizar os transportes públicos.
© Rita Rato Nunes
UE pode não conseguir cumprir as metas climáticas até 2030
A Agencia Europeia do Meio Ambiente alertou, nesta quarta-feira, mais uma vez, para a necessidade urgente de reduzir as emissões em 30% na próxima década, em relação aos níveis de 1990. Se isto não acontecer a temperatura do planeta pode aumentar 3,2 graus Celsius até ao final do século, em vez dos 1,5º C pretendidos, o nível dos oceanos continuará a subir, mais espécies de animais e plantas serão extintas e aumentarão os eventos meteorológicos extremos, como ondas de calor, cheias ou secas.
Com este cenário em mente, decisores políticos de todo o mundo estão reunidos, à porta fechada, para discutir a revisão das emissões de gases, enunciadas no Acordo de Paris (2015) e de atualização obrigatória na cimeira do próximo ano, em Glasgow, no Reino Unido. Enquanto isso, do lado de fora, reúnem-se pessoas para os pressionar. A partir deste sábado acontece na capital espanhola uma contracimeira, organizada por grupos ambientalistas, que se reunirão na Universidade Complutense, para fazer a sua própria agenda contra as alterações climáticas. De Portugal, está previsto chegarem autocarros com membros das organizações 2degrees artivism, A Coletiva, A Terra, Climáximo, Extinction Rebellion Coimbra, Greve Climática Estudantil e Youth for the Future.
A maioria viaja para Madrid ainda nesta noite, a tempo de participar na marcha pelo clima, convocada para sexta-feira. Pretendem "desmascarar a hipocrisia" dos governos que há 25 anos se reúnem "sem sucesso" para contrariar as alterações climáticas e prometem encher a capital espanhola.