Nas últimas semanas, temos sido surpreendidos com a descoberta de uma constelação de ligações familiares dentro do Governo. Já sabíamos que no Conselho de Ministros se sentavam marido e mulher, pai e filha, mas estávamos longe de imaginar que isto se tinha alastrado pelos gabinetes ministeriais..Naturalmente que defendo que ninguém deve ser prejudicado, apenas, por ser casado com uma determinada pessoa ou por uma qualquer relação familiar. E consigo até compreender a visão, como alguns deputados do Partido Socialista referiram, em jeito de defesa, de que, em algumas famílias, é normal que exista uma maior predisposição para intervir ativamente na sociedade, através da política..Mas o que tem vindo a público, nos últimos tempos, não são um ou dois casos, excecionais ou pontuais, de famílias particularmente envolvidas civicamente. O que nos tem sido apresentado é uma chocante teia de relações familiares muito próximas, entre membros do governo, dirigentes do Partido Socialista, membros de gabinetes. De tal forma extensa e interligada, que nos leva a considerar se não será mais cómodo realizar as reuniões do Conselho de Ministros num agradável almoço de domingo..Esta promiscuidade familiar e política existe não só a nível governativo, mas também político e na administração pública..Desde já, o facto de todas estas pessoas trabalharem ao serviço do Estado, ou seja, ao serviço dos portugueses, gerindo o dinheiro dos contribuintes. Esta razão bastaria para que vários membros do governo, casados, filhos ou irmãos de outros membros, se sentissem impedidos de aceitar nomeações para quaisquer cargos. Por mais que se diga o contrário, obviamente que a imparcialidade das decisões e dos interesses estabelecidos é posta em causa com tanta proximidade..Surpreendente é que o primeiro-ministro que, à partida, deve zelar pelos princípios democráticos e que tem uma visão geral do seu governo não consiga perceber que, inevitavelmente, estas nomeações atentam contra os mínimos obrigatórios num órgão de soberania, que é a prevalência de um respeito ímpar pela democracia, pela liberdade e pelos cidadãos..E apesar de ser possível analisar a questão pelo prisma de serem "apenas" 30 ou 40 membros com relações familiares em 300 funcionários, como se tem ouvido, é imperativo colocar a questão: entre milhares de portugueses altamente competentes, qual terá sido o critério de seleção? Noutros países com democracias menos maduras do que a nossa isto seria a descrição de nepotismo..Portugal já não é uma monarquia há mais de cem anos e tem consolidado a sua democracia nos últimos 40 anos. Por isso, não há legislação que previna ou imponha o que aqui se apresenta necessário, que é, numa palavra, ética..Muitas vezes nos questionamos qual a melhor maneira de conciliar a vida profissional e familiar. O governo de António Costa achou que teria encontrado a solução para gerir a política, a família e os amigos, de forma eficiente: juntando tudo..Presidente da JSD
Nas últimas semanas, temos sido surpreendidos com a descoberta de uma constelação de ligações familiares dentro do Governo. Já sabíamos que no Conselho de Ministros se sentavam marido e mulher, pai e filha, mas estávamos longe de imaginar que isto se tinha alastrado pelos gabinetes ministeriais..Naturalmente que defendo que ninguém deve ser prejudicado, apenas, por ser casado com uma determinada pessoa ou por uma qualquer relação familiar. E consigo até compreender a visão, como alguns deputados do Partido Socialista referiram, em jeito de defesa, de que, em algumas famílias, é normal que exista uma maior predisposição para intervir ativamente na sociedade, através da política..Mas o que tem vindo a público, nos últimos tempos, não são um ou dois casos, excecionais ou pontuais, de famílias particularmente envolvidas civicamente. O que nos tem sido apresentado é uma chocante teia de relações familiares muito próximas, entre membros do governo, dirigentes do Partido Socialista, membros de gabinetes. De tal forma extensa e interligada, que nos leva a considerar se não será mais cómodo realizar as reuniões do Conselho de Ministros num agradável almoço de domingo..Esta promiscuidade familiar e política existe não só a nível governativo, mas também político e na administração pública..Desde já, o facto de todas estas pessoas trabalharem ao serviço do Estado, ou seja, ao serviço dos portugueses, gerindo o dinheiro dos contribuintes. Esta razão bastaria para que vários membros do governo, casados, filhos ou irmãos de outros membros, se sentissem impedidos de aceitar nomeações para quaisquer cargos. Por mais que se diga o contrário, obviamente que a imparcialidade das decisões e dos interesses estabelecidos é posta em causa com tanta proximidade..Surpreendente é que o primeiro-ministro que, à partida, deve zelar pelos princípios democráticos e que tem uma visão geral do seu governo não consiga perceber que, inevitavelmente, estas nomeações atentam contra os mínimos obrigatórios num órgão de soberania, que é a prevalência de um respeito ímpar pela democracia, pela liberdade e pelos cidadãos..E apesar de ser possível analisar a questão pelo prisma de serem "apenas" 30 ou 40 membros com relações familiares em 300 funcionários, como se tem ouvido, é imperativo colocar a questão: entre milhares de portugueses altamente competentes, qual terá sido o critério de seleção? Noutros países com democracias menos maduras do que a nossa isto seria a descrição de nepotismo..Portugal já não é uma monarquia há mais de cem anos e tem consolidado a sua democracia nos últimos 40 anos. Por isso, não há legislação que previna ou imponha o que aqui se apresenta necessário, que é, numa palavra, ética..Muitas vezes nos questionamos qual a melhor maneira de conciliar a vida profissional e familiar. O governo de António Costa achou que teria encontrado a solução para gerir a política, a família e os amigos, de forma eficiente: juntando tudo..Presidente da JSD