Destinos de um partido

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Que futuro para o PSD? Que líder quererá agarrar no partido e fazer a travessia do deserto por quatro anos até conseguir ter a oportunidade de ir, de novo, disputar o poder executivo em Portugal? Já é sabido que Rui Rio não será candidato à liderança do PSD e, muito menos, recandidato a primeiro-ministro. Depois da derrota nas urnas, a 30 de janeiro, o presidente considerou que já não é útil à frente do partido. Portanto, começa agora um novo ciclo, que deverá ser menos fulanizado e mais conceptual e ideológico.

Para começar, soube-se ontem que o Conselho Nacional do PSD já está marcado para dia 19 deste mês e as eleições internas deverão ocorrer, segundo Rio, até final do primeiro semestre. Mais do que escolher, no imediato, um sucessor para Rio, mais do que usar a política do facto consumado - seguida por Salvador Malheiro ao anunciar o nome de Luís Montenegro para número um, quando há outros potenciais candidatos, como Paulo Rangel, Miguel Pinto Luz ou Jorge Moreira da Silva -, o partido precisa de refletir, de realizar um profundo debate interno sobre o que é hoje o partido, o que quer ser no futuro, para onde caminha e com quem.

Se o PSD não o fizer e não discutir internamente os seus valores, as suas propostas e que trilho percorrer, corre o risco de, a prazo, vir a sofrer do desaparecimento de uma boa parte do seu eleitorado típico, como aconteceu ao longo dos últimos anos com o CDS - e a culpa não foi só de Francisco Rodrigues dos Santos ou do resultado do último ato eleitoral. Se, no futuro, os cidadãos olharem para o PSD como passaram a olhar para o CDS, como um "saco de gatos" (usando a expressão do centrista José Ribeiro e Castro, ontem entrevistado pelo DN e a TSF), há um destino traçado. A bem da democracia será saudável contrariar essas eventuais linhas do destino. Para o PSD, um fundador da democracia, continuar a ser considerado uma alternativa ou um partido de poder e o maior partido da oposição deve ter a capacidade de representar as pessoas e não apenas o público interno. Como disse nesta semana o social-democrata Ângelo Correia, no Jornal 2 da RTP, "há um PSD que olha demasiado para si e confunde-se a vontade do seu aparelho não ouvindo a sociedade".

Pela frente o partido, que foi o grande perdedor destas eleições, tem ainda o desafio de se assumir no parlamento como verdadeira oposição e não vai ter tarefa fácil. O Iniciativa Liberal e o Chega vão tentar ocupar todo o espaço e protagonismo na Assembleia da República. E o Partido Socialista, confortavelmente sentado na sua maioria absoluta, vai sorrir, acenar e segurar o leme do navio, chamado Portugal, até 2026.

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