Saiu de Lisboa aos 17 anos, agora o bailarino estreia-se em Portugal em 'Morte em Veneza'
"Um misto de felicidade e nervosismo." É assim que Guilherme Gameiro Alves se sente dias antes de subir ao palco do Teatro Camões, em Lisboa, com o Ballet do Teatro Nacional da Croácia, para apresentar o espetáculo Morte em Veneza. É que esta é a primeira vez que o bailarino de 30 anos se apresenta num palco português. "Estou superexcitado. É claro que os meus pais já me foram ver, mas grande parte da família nunca viu um espetáculo meu", conta ao DN. "Espero que gostem muito."
A paixão pela dança começou muito cedo, muito por causa do irmão, oito anos mais velho, Frederico Gameiro, que foi o primeiro na família a seguir esta carreira: "Sempre o vi a dançar e ficava fascinado", recorda. Aos 6 anos começou a ter aulas de dança, dividindo o tempo livre entre o futebol e o ballet. Estudou na Escola de Dança do Conservatório de Lisboa e, aos poucos, a dança foi-se tornando cada vez mais importante. Depois do Conservatório, Guilherme achou que "ainda não estava preparado para trabalhar e que era melhor continuar a estudar": o irmão ajudou-o a fazer um vídeo e candidatou-se a uma escola em Zurique, na Suíça, que frequentou durante dois anos com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian.
Esse foi, de facto, o momento decisivo. "Tinha 17 anos e era muito menino da mamã, foi uma mudança enorme", recorda. "Era uma escola muito internacional, tinha colegas da América, da Turquia, da Austrália, do Japão... Toda a gente estava na mesma situação, estávamos todos longe de casa, num país que não conhecíamos." Foram dois anos de muitas aprendizagens na dança mas também de grande crescimento pessoal. De Zurique mudou-se para a ainda mais fria Helsínquia: esteve dois anos no Ballet Nacional da Finlândia, onde teve os seus primeiros papéis como solista.
Entretanto, numas férias de verão, Guilherme foi fazer algumas aulas de manutenção com o irmão na Companhia Nacional de Bailado e conheceu a bailarina croata Iva Vitic. "Foi amor à primeira vista", conta ele. "Passados quatro meses já tínhamos decidido casar." Claro que havia aquele pormenor de trabalharem em países diferentes. Depois de um ano de namoro à distância, decidiram mudar-se para a Croácia onde havia a hipótese de ambos prosseguirem a sua carreira. Assim, desde 2012 que Guilherme Alves mora em Zagreb e que tanto ele como a mulher, atualmente com 32 anos, são bailarinos principais no Ballet do Teatro Nacional da Croácia.
"A companhia tem um repertório muito diversificado, fazemos o bailado clássico e neoclássico, mas também fazemos muitos bailados dramáticos que é algo de que gosto muito, exploramos o movimento e as personagens com maior liberdade", explica Guilherme Gameiro. De entre os bailados clássicos, o bailarino destaca a participação em La Bayadère, OLago dos Cisnes, OQuebra-Nozes (onde fez par romântico com a mulher) e Romeu e Julieta. Já o espetáculo Morte em Veneza, que se apresenta em Lisboa, é o que se poderia chamar um bailado mais narrativo, que neste caso adapta o livro de Thomas Mann, de 1912. A companhia também já fez uma adaptação de Anna Karenina, de Tolstói, e de AsLigações Perigosas, de Choderlos de Laclos, e prepara-se para estrear em breve Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, onde Guilherme vai interpretar o papel de Mr. Darcy.
Em Morte em Veneza, o português interpreta o Anjo da Morte, uma personagem que não aparece no filme de Visconti (de 1971) e que leva o protagonista Gustav até à morte. "O espetáculo tem só 70 minutos e é impossível ter todas as cenas do livro em palco, mas tem as mais importantes." Serão apenas 21 bailarinos em palco, entre os quais a sua mulher. A coreografia de Valentina Turcu e a música de Gustav Mahler. "É um espetáculo muito bonito", garante, recordando que a revista Dance Europe Magazine o considerou uma das cinco melhores estreias em 2018.
Trata-se do primeiro espetáculo realizado ao abrigo do programa Troca, um programa de permutas com companhias congéneres que a Companhia Nacional de Bailado iniciou nesta temporada, iniciativa que permite receber, no Teatro Camões, companhias convidadas que depois acolherão a companhia portuguesa nas suas cidades e teatros.
Morte em Veneza
Pelo Ballet do Teatro Nacional da Croácia
8 de fevereiro (sábado), 18.30
Teatro Camões, Lisboa
Bilhetes de 10 a 20 euros