Dama de Ferro à francesa?

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Foi tão marcante o desempenho de Margaret Thatcher como primeira-ministra britânica, da vitória na Guerra das Malvinas ao embate com os sindicatos, que lhe valeu o epíteto de Dama de Ferro. E tendo sido ela a primeira a liderar um governo na Europa, e logo por 11 anos, quase que impôs uma fasquia altíssima para as mulheres que se seguiram no cargo no resto do continente. A alemã Angela Merkel, que está de saída de chanceler ao fim de 16 anos no poder, é a prova viva disso. E terem começado por lhe chamar Mädchen (menina) quando era só a provável herdeira de Helmut Kohl e agora a chamarem carinhosamente de Mutti (mãezinha) não disfarça que Merkel foi a verdadeira líder da Europa nas últimas décadas.

Em França, onde é o presidente que manda, e não o primeiro-ministro, continua por ser eleita uma mulher para a chefia do Estado. Ségolène Royal foi a que esteve mais perto, mas perdeu em 2007 para Nicolas Sarkozy, e em 2017 Marine Le Pen também tentou a sua sorte, mas foi esmagada por Emmanuel Macron. Mas para as presidenciais de abril de 2022 Valérie Pécresse surge com hipóteses de complicar, e muito, a reeleição de Macron, um ex-ministro socialista que se aventurou contra o partido e hoje lidera um projeto político que se pode chamar de liberal.

Escolhida através de eleições primárias pelo partido Os Republicanos, Pécresse bateu vários pesos-pesados e também candidatos que se afastavam da sua linha de direita moderada. Herdeira do gaullismo, com toda a carga simbólica que tal tem dado à importância do general De Gaulle na história francesa do século XX, a candidata d"Os Republicanos tem Macron na mira, mas também terá de contar com Le Pen, representante da extrema-direita, como uma adversária difícil. A disputar os votos à direita está também a incógnita Éric Zemmour, um antigo jornalista que tem um discurso islamofóbico. E será também curioso perceber até onde pode chegar a socialista Anne Hidalgo, presidente da Câmara de Paris, que, dado o historial recente do seu partido, e também segundo aquilo que dizem as sondagens, não surge entre os favoritos.

A moderação que se atribui como principal qualidade a Pécresse, a par da sua determinação, é bem capaz de seduzir a parte do eleitorado que não quer Macron mas não pensa dar uma hipótese sequer a Le Pen. E, curiosamente, a França poderá estrear-se com uma mulher presidente vinda do campo conservador, tal como aconteceu no Reino Unido em 1979 e na Alemanha em 2005.

Diretor adjunto do Diário de Notícias

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