O avanço da inteligência artificial, que abrange a própria segurança e defesa, teve por isso um avanço exigido e modernizante, no domínio da proliferação dos armamentos autónomos, a exigir a tradicional resposta normativa que condiciona as tecnologias de natureza militar. A esperança de submeter a tecnologia a regras de imperativos éticos corresponde a procurar um futuro mais equilibrado do globalismo organizado, não garante facilmente a militarização geral ética dessa inteligência de resultados agravados pela falta de participada consciência, o que torna a competição dos emergentes mais gravosa e inquietante, salvo no caso de a investigação conseguir aliar o avanço dos imperativos éticos à exigência ética do uso dessas armas. O surpreendente é que neste ambiente, onde se procura pôr em vigor uma espécie de ética, não apenas a estrutura da ordem nacional e global seja violentamente abalada e destruída pela pandemia, mas também pela barbárie, não dos "robôs" libertos do prometido normativismo, mas de agentes humanos que não são modelos de combatentes, mas assassinos..Na data em que o globo é confrontado por um ataque brutal da pandemia a todos os homens sem diferença de etnia, de cultura, de religião, a exigir uma articulação global de todos os saberes e respostas, isso não impede que se mantenham conflitos indiferentes à situação global. Os EUA, uma referência importante do ocidentalismo, somam graves divisões e ataques internos, de ordem política, de segurança, de racismo, o que dificulta definir o tempo e o modo de restabelecer a ordem do passado. Em França, depois do assassinato, por decapitação, do professor Samuel Paty, brutalidade que se multiplicou, as "derivas islamitas" destacam a denúncia de uma "islamofobia do Estado", que inclui no debate a necessidade de reavaliar a colonização. Esta questão é sobejamente grave para secundarizar outras, por exemplo a irresponsabilidade com que foi inesperadamente aproveitada uma reunião informal do Conselho Europeu, por videoconferência, para debater designadamente a pandemia, mas acrescentando o tema da recusa da Hungria e da Polónia em assumirem a decisão dos restantes 25 membros da União de aprovarem o pacote de resposta àquela crise. Não acolheram ainda o espírito europeu..Entretanto, não apenas os brutais assassinatos cometidos na Europa, que primeiro limitaram a esta o desafio, que em França viu recomendada a necessidade de clarificar a história do colonialismo (Philippe Bernard), quando, na própria África, onde a descolonização cumpriu finalmente a decisão da ONU, se torna claro que "a presença do Daesh em Moçambique é real, e que, segundo Eric Genoud, da Universidade de Belfast, e investigador, informa que "as decapitações são um dos modus operandi dos jihadistas" (António Rodrigues, Público). O seu estudo tem sido longo, e a publicação dos artigos sobre o conflito em Cabo Delgado procuram levar à introdução de autoridade a enfrentar a fidelidade dos Al Shabaab moçambicanos ao Daesh. O governo de Moçambique reconhece que países estrangeiros, como a França, têm ali interesses atingidos, e por isso suscita a sua esperada presença na "dimensão do problema de Cabo Delgado". Entre as populações de Moçambique atingidas por um ataque dos ativos rebeldes, e para além dos interesses mesmo imateriais que também Portugal possui, estão os macondes que se afastam, defensivos, do ataque a Mueda..Esta etnia, pelo valor humano e cultural, marcou profunda investigação do professor Jorge Dias, que publicou três volumes premiados sobre os trabalhos que desenvolveu: o primeiro recebeu um prémio da Academia das Ciências; o segundo recebeu um prémio da Academia Internacional da Cultura Portuguesa; o terceiro recebeu um prémio da Sociedade de Geografia. Além dos interesses específicos que seguramente tem, neste conflito, a solidária CPLP, que não recusará o apoio a Moçambique, o legado de Jorge Dias ajuda a fortalecer seguramente os que, nacionais e estrangeiros, o admiraram, e não esquecem os macondes. Assim é de ter presente a realidade de haver um movimento agressivo de que as chamadas "derivas islamitas" não dizem apenas respeito à França nem apenas ao colonialismo euromundista, antes acompanham o agressivo globalismo que tem a pandemia como principal agressão. É sobretudo porque não reconhecem que é respeitável qualquer ser humano..O movimento do Global Council for Tolerance and Peace é muçulmano e sustenta que "a tolerância é uma necessária componente do mundo pacífico e estável", doutrina também da ONU e da UNESCO. Trata-se de um movimento que tem uma ação inteiramente contrária a este ataque, que não deixará de apoiar as intervenções que também devam corresponder ao espírito de Assis, necessário para retomar os princípios enfraquecidos da ONU para o reconhecimento da "mundo único", e da "terra pátria comum dos homens", vivendo em paz. É de esperar que a CPLP seja uma interventora global.