Guia de cenários para ter à mão na noite eleitoral
Logo a seguir ao almoço, o PS; depois, às 18.00, o PSD; e às 18.30 o CDS-PP. O Chiado será hoje percorrido por três das principais campanhas das legislativas, num derradeiro esforço de exibição de força e mobilização - mas em modo não demasiado festivo, dada a morte de Diogo Freitas do Amaral.
A campanha eleitoral chega hoje ao fim, depois de muitos milhares de quilómetros percorridos pelo país, com António Costa no Porto (a seguir à arruada no Chiado o líder do PS seguirá de comboio para a Invicta), Rui Rio, Assunção Cristas e André Silva em Lisboa, Catarina Martins em Setúbal e Jerónimo de Sousa em Braga. Todas as declarações que amanhã produzirem estão condenadas à invisibilidade nos media assim que chegar a meia-noite - sábado é dia de reflexão e não pode haver campanha.
Todas as principais sondagens dão o PS a vencer, embora consistentemente sem maioria absoluta. A sondagem Pitagórica de ontem para o JN, a TSF e a TVI dá o PS com 37,3%, o PSD com 28,8%, o Bloco de Esquerda com 9,2% e a CDU com 6,6%. O grande choque chega com o PAN, com 4,4%, a passar à frente do CDS-PP (3,9%).
O DN alinha alguns dos cenários pós-eleitorais possíveis - sabendo-se que uma maioria absoluta na AR se faz com 116 deputados (metade mais um dos 230).
Há a assinalar, para já, uma diferença substantiva em relação a 2015: em Belém, a cadeira presidencial é agora ocupada por alguém que não exige um acordo escrito a sustentar uma governação minoritária. Em 2015 não foi assim: Cavaco Silva, então Presidente da República, pediu às esquerdas um acordo escrito. E, assim, PS, BE, PCP e PEV tiveram de negociar as "posições conjuntas" (o PCP não consentiu que lhes chamassem "acordo").
Nenhuma sondagem o indica como possível mas nunca se sabe. Seria para António Costa o cenário mais simples. Não teria de negociar nada com ninguém. O líder socialista já prometeu, porém, que, mesmo tendo maioria absoluta, continuará a dialogar com os partidos à sua esquerda. É um cenário de que o Presidente da República não gosta porque tende a tornar secundária a sua posição no xadrez político. Já foi noticiado que Marcelo ponderaria não se recandidatar em 2021 tendo o PS agora uma maioria absoluta. Esse resultado só aconteceu uma vez: em 2005, com José Sócrates à frente do partido.
A última sondagem JN-TSF-TVI aponta para a possibilidade de serem mesmo necessários três (PS+BE+CDU) para se fazer na Assembleia uma maioria de esquerda - no fundo, repetindo, embora com outros números, o que aconteceu em 2015.
Uma coisa é certa: o PCP já disse que desta vez não está disponível para "posições conjuntas" com o PS. Os comunistas tencionam voltar à sua posição de oposição pura e dura, sem compromissos com o PS de duração do governo "na perspetiva da legislatura", como em 2015. Podem até votar a favor de propostas socialistas mas todas as decisões serão tomadas caso a caso.
Isto condiciona tudo, porque sem o PCP dificilmente António Costa fará um acordo só com o Bloco de Esquerda - mesmo que a aritmética dos resultados permita que uma soma PS+BE resulte em maioria absoluta. Além do mais, os bloquistas parecem estar em escalada reivindicativa, podendo querer agora ascender à governação.
Dito de outra forma: para Costa o pensamento parece ser, no que toca às três formação que fizeram a geringonça nesta legislatura, a de que ou estarão todos dentro ou estão todos fora, não se permitindo semigeringonças. Há, no entanto, um partido que não se enquadra neste raciocínio.
Todas as sondagens apontam uma subida substantiva do PAN, atualmente com um deputado apenas (André Silva). Numa entrevista ao Expresso, André Silva não foi capaz de apontar um único erro na governação de António Costa. Isso fez aumentar a especulação sobre a possibilidade de, permitindo-o a aritmética eleitoral, haver um acordo de governação entre o PS e PAN, quem sabe até com uma pasta governativa para o partido de André Silva. Basta o PAN crescer e o PS ficar perto da maioria para a soma entre ambos ser superior a 116 deputados.
Um cenário de vitória do PS sem maioria absoluta abrirá a porta a especulações em torno de um entendimento entre o PS e o PSD - até porque Rui Rio tem sido, de longe, muito mais dialogante com os socialistas do que Passos Coelho foi. Porém, ambos os líderes dizem que essa aliança não se perspetiva. António Costa já afirmou mesmo que só no caso de uma 3.ª Guerra Mundial (como a Grande Coligação entre conservadores e trabalhistas no Reino Unido durante a II Guerra Mundial). Ontem, Rui Rio recordou: "Eu e António Costa dissemos o mesmo: um bloco central - com os dois partidos no governo - só faz sentido em situação-limite de interesse nacional, o que manifestamente não é o caso."
Na última vez que foi sozinho a votos, em 2011, o PSD venceu com 38,65% (108 deputados). Antes disso, tinha tido 29,1% (em 2009), com Manuela Ferreira Leite na liderança, e 28,7%, em 2005, com Santana Lopes. Nem Ferreira Leite nem Santana sobreviveram na liderança a estes resultados. Mas com Rui Rio as expectativas iniciais eram de tal forma baixas, com sondagens dando resultados na ordem dos 20% ao PSD, que agora quase parecerá uma vitória se o PSD ficar perto dos 30%, como os estudos de opinião agora dizem que ficará.
Rui Rio tem dito até agora não saber o que fará depois das legislativas. Mas o que se percebe é que - a não ser que o resultado seja surpreendentemente mau (abaixo dos 25%, por exemplo) - se tenciona manter na liderança. Aparentemente, joga forte na hipótese de, vencendo o PS sem maioria, a esquerda revelar em conjunto muito menos solidez do que a que revelou nesta legislatura. Nem o BE nem o PCP vão ficar agarrados para sempre à ideia de que não podem contribuir para a queda de um governo do PS só por medo de o PSD voltar a governar (e Rui Rio está longe de representar a ameaça liberal que Passos Coelho protagonizou). A oposição interna a Rio já se prepara para uma travessia do deserto. E nem o palco parlamentar terão para se fazerem ouvir.
No CDS-PP o fantasma é o do regresso do "partido do táxi" (quatro eleitos apenas, como o foi no tempo do cavaquismo). Atualmente, o partido tem 18 deputados e as sondagens colocam inclusivamente o partido em riscos de ser ultrapassado pelo PAN. Tudo aponta para que a seguir às eleições se desenvolva uma crise de liderança no partido. E isso indicia a perspetiva de um confronto entre uma linha mais liberal (que tem em Adolfo Mesquita Nunes uma figura de proa) e uma linha mais conservadora (da qual Nuno Melo é o porta-estandarte). Quem serão os protagonistas desse confronto é o que está para se saber. Paulo Portas, esse, mantém-se à distância - sendo notória a frieza da sua relação atual com Cristas.
Há dias, o líder do PCP assumiu que já não está "fresco como uma alface". Adivinha-se portanto que no próximo congresso do partido (final de 2020, se se seguirem os calendários estatutários) seja eleito um sucessor. O problema é saber se Jerónimo de Sousa sairá pela porta alta ou pela porta baixa. A CDU tem atualmente 17 deputados. Nas últimas legislativas, a coligação tem vindo a crescer à média de um deputado por eleição. Porém, chega a estas eleições depois de três resultados péssimos: as presidenciais de 2016, as autárquicas de 2017 e as europeias de junho passado. Uma coisa é certa: seja qual for o resultado, os comunistas não voltarão a alinhar em compromissos escritos com o PS.
Ter mais deputados do que os 19 eleitos em 2015 é um objetivo assumido do BE. Para isso precisa de ter um resultado claramente acima dos 10% - e as expectativas apontam nesse sentido. O Bloco quer ganhar peso em relação ao PS para reforçar a sua capacidade negocial. E partiu para estas eleições animado pelo resultado das europeias, em que passou de cerca de 150 mil votos (4,56%) para 325 mil (9,82%). Um resultado igual ou inferior a 19 deputados será uma desilusão para Catarina Martins. A direção bloquista sabe também que dificilmente António Costa alinhará em novos compromissos escritos se o PCP não alinhar também - e tudo indica que este será o caminho dos comunistas.