Quem raptou Maddie? 13 anos depois, pedófilo alemão é principal suspeito
"Nunca vamos perder a esperança de encontrar Madeleine viva, mas seja qual for o resultado, precisamos de saber, precisamos de encontrar paz", disseram Kate e Gerry McCann, assim que foram informados, na quarta-feira, de que existem "fortes indícios" de que um pedófilo alemão possa ter estado envolvido no rapto.
Trata-se de um homem com 43 anos, atualmente detido na Alemanha, que viveu em Portugal entre 1996 e 2007 - o ano em que Madeleine McCann desapareceu sem deixar rasto.
Estava nas proximidades do resort da Praia da Luz, no Algarve, na noite de 3 de maio de 2007, data em que Maddie desapareceu, e teve uma conversa por telefone que terminou pouco mais de uma hora antes de Kate McCann ter percebido que a filha desaparecera do quarto onde dormia com os irmãos gémeos.
Na altura do desaparecimento de Maddie, como era chamada pela família e como ficou conhecida em todo o mundo, o suspeito tinha 30 anos, mas não aparentava mais de 25, segundo a polícia.
Alto, com cerca de 1, 80 metros, cabelo curto e louro, vivia numa carrinha/caravana de cor amarela, com matrícula portuguesa.
As polícias britânica e alemã lançaram um apelo internacional: pedem ajuda para identificar as viaturas em que o suspeito se fazia deslocar uma vez que também era visto ao volante de um Jaguar - como para descobrirem a quem pertencia o outro número de telefone. Num ato inédito, a Metropolitan Police revelou ambos os contactos.
O pedido das autoridades é para que quem reconheça os números revelados, contacte a polícia: (+351 ) 912 730 680) e (+351) 916 510 683. O mesmo pediu a polícia alemã.
"Não estamos a dizer que a pessoa que estava a ser contactada é suspeita neste caso. É apenas alguém que precisamos de identificar como testemunha-chave", disse Stuart Cundy, vice-comissário assistente da Metropolitan Police.
Olhando para a câmara, conta o jornal britânico Guardian, Cundy falou diretamente para quem possa saber mais sobre o caso.
"Pode saber algumas das coisas que ele fez. Ele pode ter-lhe confidenciado o desaparecimento de Madeleine. Passaram-se mais de 13 anos e a sua lealdade poderá ter mudado. Ele está na prisão e estamos conscientes de que algumas pessoas podem ter tido a preocupação de entrar em contacto com a polícia no passado. Agora é a hora de avançar", pediu o responsável da polícia inglesa, que apela a que o público se concentre nos detalhes dos números de telefone e dos carros.
"No passado, o suspeito já tinha sido condenado a pena privativa de liberdade, duas vezes, por abuso sexual de crianças do sexo feminino", adiantou o Bundeskriminalamt (BKA), o Departamento Federal de Policia Criminal da Alemanha.
O homem terá vivido "mais ou menos permanentemente no Algarve durante períodos entre 1995 e 2007, inclusive por alguns anos numa casa entre Lagos e a Praia da Luz" e desempenhado vários trabalhos.
"Durante esse período, exerceu vários biscates na área de Lagos, entre outros, na restauração. Há também indícios que ele também ganhou a vida a cometer crimes como roubos em complexos de hotéis e apartamentos de férias, além de tráfico de drogas", diz a nota publicada no site do BKA.
O nome do suspeito e a razão pela qual se encontra atualmente detido não foram revelados.
As polícias britânica e alemã descreveram estas novas pistas como "um passo significativo na investigação.
"A nossa principal linha de investigação é este suspeito", disse o vice-comissário da Metropolitan Police.
"Ele é o foco principal de nossa investigação, e é por isso que estamos a fazer este apelo, para que nos ajudem na investigação, para provar ou refutar o seu envolvimento", acrescentou o responsável.
O Ministério Público de Braunschweig, no estado da Baixa Saxónia, está também envolvido na investigação, porque foi nesta região que o suspeito residiu antes de deixar o país.
Depois das autoridades alemãs se terem juntado à investigação, juntamente com as autoridades britânicas e portuguesas, em novembro de 2017, aconteceu uma "enorme quantidade de trabalho", salienta a polícia, para que os investigadores pudessem entender tudo sobre as conexões do suspeito com a Praia da Luz.
Foram divulgadas imagens de uma caravana VW T3 Westfalia, um modelo do início dos anos 80 com matrícula portuguesa, bem como de um automóvel Jaguar de 1993 que foi registado na Alemanha.
A 4 de maio de 2007, um dia após o desaparecimento de Madeleine McCann, o suspeito registou o carro na Alemanha com o nome de outra pessoa, numa altura em que a polícia acredita que o carro ainda estava em Portugal.
As autoridades querem informações de quem possa ter visto os dois veículos, que foram apreendidos e estão na posse da polícia alemã.
Kate e Gerry McCann, de Rothley, Leicestershire, reagiram logo na quarta-feira ao anúncio de uma nova linha de investigação e de que existe um suspeito que poderá estar envolvido no desaparecimento da filha.
"Congratulamo-nos com o apelo de hoje em relação ao desaparecimento da nossa filha Madeleine. Gostaríamos de agradecer às forças policiais envolvidas pelos seus esforços contínuos na busca por Madeleine", declararam, através de um comunicado.
"Tudo o que desejamos é encontrá-la, descobrir a verdade e levar os responsáveis à justiça. Nunca vamos perder a esperança de encontrar Madeleine viva, mas seja qual for o resultado, precisamos de saber, precisamos de encontrar paz", disseram ainda os pais da criança que desapareceu há 13 anos.
A notícia sobre um novo suspeito do desaparecimento de Madeleine McCann caiu como uma bomba.
Desde 2013, quando a polícia britânica revelou que abriu uma investigação ao desaparecimento da menina britânica e que identificou 38 "pessoas com interesse" para serem ouvidas em toda a Europa, que não existia uma pista tão forte sobre o que terá acontecido naquela noite de 3 de maio de 2007.
A ZDF transmitiu nesta quarta-feira um programa sobre casos criminais não resolvidos e abordar o caso da menina que desapareceu em 2007, no Algarve.
A televisão alemã descobriu que a polícia encontrara um novo suspeito e esta é a razão pela qual as autoridades decidiram revelar os avanços na investigação. O programa televisivo alemão revelou pormenores sobre este suspeito e ofereceu uma recompensa a quem tenha informações que o liguem ao caso.
A BKA diz, em comunicado, que serão oferecidos dez mil euros a quem der informação válida sobre o cidadão alemão, agora o principal suspeito do rapto de Madeleine McCann.
A Polícia Judiciária reabriu a investigação em 2013, depois de o caso ter sido arquivado pela Procuradoria-Geral da República em 2008, ilibando os três arguidos, os pais de Madeleine, Kate e Gerry McCann, e um outro britânico, Robert Murat.
Embora a polícia alemã tenha recebido uma denúncia sobre o suspeito que agora avança como podendo estar envolvido no rapto de Maddie, após uma transmissão de um programa sobre crimes não resolvidos, em outubro de 2013, as informações da época não eram suficientes para uma investigação ou detenção do homem, diz a imprensa britânica.
No décimo aniversário do desaparecimento de Madeleine, em 2017, a polícia recebeu uma denúncia sobre o mesmo suspeito.
Ao contrário da investigação alemã - que considera o caso de Madeleine McCann um provável homicídio - a investigação da polícia inglesa ainda se refere a um desaparecimento.
Mais de 11 milhões de libras já foram gastos na investigação britânica, conhecida como "Operação Grange". O financiamento, que foi atribuído a pedido do governo de David Cameron, em 2011, após um apelo dos pais de Madeleine, é revisto regularmente.
Uma equipa de quatro detetives da polícia inglesa está destacada para o caso. Já investigou mais de 600 pessoas e, em 2013, quatro suspeitos do sexo masculino foram identificados.
Madeleine McCann desapareceu poucos dias antes de fazer quatro anos, a 3 de maio de 2007, num apartamento de um aldeamento turístico, na Praia da Luz, no Algarve.
Madeleine, ou Maddie, como ficou conhecida, será hoje uma adolescente de 17 anos.
"A Polícia Judiciária confirma que, no âmbito da investigação ao desaparecimento de uma criança inglesa, ocorrido no Algarve em 2007, continuam a ser desenvolvidas diligências, para o cabal esclarecimento da situação", foi o o comunicado enviado às redações, na quarta-feira, pela Polícia Judiciária (PJ).
A polícia portuguesa está em articulação com as autoridades alemãs (BKA) e inglesas (Metropolitan Police) "na partilha de informação, na realização de atos formais de investigação e de perícias, em Portugal e no estrangeiro", acrescenta a nota.
"A investigação prossegue", diz ainda a nota da polícia portuguesa.
Em 2017, Pedro do Carmo, o então diretor nacional adjunto da Polícia Judiciária, explicava porque considerava o caso Maddie "a pedra no sapato da PJ", distinguindo-o de outros desaparecimentos mediáticos em território nacional.
O inquérito crime foi reaberto em 2011 e decorria em Portugal, em paralelo com a investigação inglesa, e as duas polícias mantinham a partilha de informação, mas dez anos depois, ainda não havia pistas novas.
Na altura, Pedro do Carmo dizia não existir um prazo estipulado para a conclusão do inquérito. "Se tivéssemos a certeza de estarmos diante de um determinado crime já teríamos um prazo para respeitar. Mas assim não nos podemos comprometer com limites de tempo para o inquérito", avançou, então.
"O prazo é o de obter resultados. Pelo menos até conseguir algumas respostas ou chegar a um ponto em que assumimos que já não é possível fazer mais", assumia o responsável da PJ.