Os extremos políticos agitam-se, mas no essencial o sistema político português continua no lugar onde sempre esteve - assente nos dois grandes partidos que alternam no poder, longe da crise que assolou a social-democracia europeia, que fez desaparecer grandes partidos tradicionais que cederam o lugar a novas formações políticas. Mas algo mexe.."O que parece evidente é que não vamos ter novidades à esquerda no espectro partidário, mas sim, após 40 anos de congelamento de representação parlamentar, à direita, daí é que virá alguma inovação e tendência para o fracionamento da representação", sublinha António Costa Pinto, lembrando também que os dois novos partidos "representam muito pouco em termos eleitorais". No futuro não se sabe, embora um deles - o Chega - esteja a ter "uma grande maximização no espaço público"..Às novidades que as legislativas de outubro trouxeram à direita junta-se agora a mudança na direção do CDS, que parece corresponder a um reposicionamento do partido. "Parece claro que da parte do CDS vamos ter uma mensagem política mais conservadora e, simultaneamente, um discurso político de protesto à direita, eventualmente com uma mensagem mais securitária", diz o politólogo, sublinhando que esse não é um lugar novo na história do CDS, mas que essa mensagem mais conservadora tem de "ser agora correlacionada com a concorrência política à direita da Iniciativa Liberal e do Chega". Mas também, num exercício que não antecipa fácil, com "alguma conciliação com o que tem sido a prática política do CDS nos últimos anos, pós-governos de coligação e coligações eleitorais" com o PSD..E as movimentações mais à direita que influência podem ter nos sociais-democratas? "O PSD é o maior partido do centro-direita e vai continuar a ser", diz António Costa Pinto, antes de deixar uma ressalva: "Caso não exista a tentação de continuação da guerrilha partidária interna." Nesse cenário, o "fracionamento" que está a ocorrer mais à direita pode estender-se ao espaço do PSD..António Costa Pinto sublinha um outro fator que joga a favor dos sociais-democratas e em desfavor de grandes conquistas dos partidos à sua direita. "As alterações no sistema partidário deram-se numa conjuntura de fraquíssimas possibilidades de o PSD chegar ao poder", uma situação potenciadora de "uma maior liberdade de voto" à direita. Ou seja, num cenário de uma disputa eleitoral mais renhida, algum eleitorado poderá tender novamente para os sociais-democratas, até porque o "eleitorado de direita sempre teve algum pragmatismo" na hora de votar, "abandonando os pequenos partidos, nomeadamente o CDS, a favor de uma perspetiva de vitória"..Isso não significa que as coisas possam voltar atrás. O politólogo mostra-se convicto de que o sistema político "não voltará ao statu quo de antes", e que os partidos que agora elegeram deputados poderão ter "um bónus significativo". Mas "não devemos exagerar" a sua capacidade de alterar o sistema político. Um cenário que, salvo circunstâncias excecionais (como seria uma forte crise financeira), não se antevê no horizonte..Adelino Maltez defende que "estamos num momento de potencial desafio", mas também vai acrescentando que não há grandes sinais de que o "duopólio" PS-PSD esteja a ser posto em causa. Há uma explicação para isso: estes dois partidos "têm uma implantação estrutural fortíssima"..O que não significa que o sistema político não esteja em crise e que não haja eleitorado disposto a seguir um caminho de contestação - já houve epifenómenos, como Marinho e Pinto, que fazem prova disso. Poderão fazê-lo de forma mais estrutural André Ventura, à direita?, ou Joacine Katar Moreira, à esquerda? "Não me parece.". O que dizem os números?.Em 25 de abril de 1975, nas primeiras eleições pós-25 de Abril, que elegeu a Assembleia Constituinte, PS e PSD somaram 64,2% dos votos. Dez anos depois, em 1985, os dois partidos juntos tiveram o resultado mais baixo de sempre - 50,64% -, muito por efeito do fenómeno PRD, que nessas legislativas atingiu os 17,9%..Em 1991, na segunda maioria absoluta de Cavaco Silva, os dois grandes partidos representaram 79,7% dos votos, a percentagem mais alta da democracia. Mas em 2001 ainda representavam 77,9% dos votos. Em 2009 foram 65,6%, em 2011, 66,7%, e em 2015, 69,17% (mas neste ano PSD e CDS concorreram coligados), em 2019, PS e PSD somaram juntos 64,5% dos votos..Um claro sinal da estabilidade do sistema político português é que as principais forças políticas continuam a ser as de 1975: PS, PSD, CDS e PCP (na aliança agora CDU, que em tempos foi a APU e antes a FEPU). Nestas quatro décadas e meia houve outras formações que elegeram deputados - a maior das quais o PRD, em 1985 -, mas nenhuma sobreviveu. A grande exceção ocorreu em 1999, quando o BE elegeu dois deputados, no início de um caminho que viria a consolidar o partido no sistema político português. Em 2015 foi a vez de o PAN quebrar o quadro parlamentar tradicional, elegendo um deputado (que agora deu lugar a quatro). Mas este caminho tem sido feito a par de uma outra realidade - o aumento da abstenção, de votos brancos e nulos e da soma dos resultados dos pequenos partidos, que atingiu a expressão máxima nas últimas eleições.. E à esquerda?.À esquerda ninguém antecipa alterações de peso, embora se vá apontando um declínio continuado do PCP. E se também à esquerda foi eleito um novo partido nas legislativas de 6 de outubro, essa situação acabou de mudar, com o Livre a retirar a confiança política à deputada Joacine Katar Moreira, que passará à condição de parlamentar não inscrita. E agora?.Daniel Deusdado considera que o Livre "teve uma oportunidade histórica que deitou fora" - "E creio que é irrecuperável, será muito difícil colar os cacos" do conflito que acabou na separação entre o partido e a sua deputada única. E a Joacine também não antecipa muito caminho político: "Acho que a Joacine Katar Moreira se vai esgotar a si própria. Não me parece que as causas da deputada sejam suficientemente diferentes do que é defendido pelos partidos da esquerda.".Quando foram decididos os assentos no novo hemiciclo, o Livre reclamou um "lugar no meio da esquerda", o lugar onde o partido diz estar ideologicamente. E Joacine também está aí? António Costa Pinto diz que Joacine Katar Moreira poderia sentar-se à esquerda do BE, representando um renovar das "chamadas causas pós-modernistas". Mas também vai lembrando que o BE "cumpriu essa função desde o seu aparecimento, esgotando a grande maioria dessas causas".
Os extremos políticos agitam-se, mas no essencial o sistema político português continua no lugar onde sempre esteve - assente nos dois grandes partidos que alternam no poder, longe da crise que assolou a social-democracia europeia, que fez desaparecer grandes partidos tradicionais que cederam o lugar a novas formações políticas. Mas algo mexe.."O que parece evidente é que não vamos ter novidades à esquerda no espectro partidário, mas sim, após 40 anos de congelamento de representação parlamentar, à direita, daí é que virá alguma inovação e tendência para o fracionamento da representação", sublinha António Costa Pinto, lembrando também que os dois novos partidos "representam muito pouco em termos eleitorais". No futuro não se sabe, embora um deles - o Chega - esteja a ter "uma grande maximização no espaço público"..Às novidades que as legislativas de outubro trouxeram à direita junta-se agora a mudança na direção do CDS, que parece corresponder a um reposicionamento do partido. "Parece claro que da parte do CDS vamos ter uma mensagem política mais conservadora e, simultaneamente, um discurso político de protesto à direita, eventualmente com uma mensagem mais securitária", diz o politólogo, sublinhando que esse não é um lugar novo na história do CDS, mas que essa mensagem mais conservadora tem de "ser agora correlacionada com a concorrência política à direita da Iniciativa Liberal e do Chega". Mas também, num exercício que não antecipa fácil, com "alguma conciliação com o que tem sido a prática política do CDS nos últimos anos, pós-governos de coligação e coligações eleitorais" com o PSD..E as movimentações mais à direita que influência podem ter nos sociais-democratas? "O PSD é o maior partido do centro-direita e vai continuar a ser", diz António Costa Pinto, antes de deixar uma ressalva: "Caso não exista a tentação de continuação da guerrilha partidária interna." Nesse cenário, o "fracionamento" que está a ocorrer mais à direita pode estender-se ao espaço do PSD..António Costa Pinto sublinha um outro fator que joga a favor dos sociais-democratas e em desfavor de grandes conquistas dos partidos à sua direita. "As alterações no sistema partidário deram-se numa conjuntura de fraquíssimas possibilidades de o PSD chegar ao poder", uma situação potenciadora de "uma maior liberdade de voto" à direita. Ou seja, num cenário de uma disputa eleitoral mais renhida, algum eleitorado poderá tender novamente para os sociais-democratas, até porque o "eleitorado de direita sempre teve algum pragmatismo" na hora de votar, "abandonando os pequenos partidos, nomeadamente o CDS, a favor de uma perspetiva de vitória"..Isso não significa que as coisas possam voltar atrás. O politólogo mostra-se convicto de que o sistema político "não voltará ao statu quo de antes", e que os partidos que agora elegeram deputados poderão ter "um bónus significativo". Mas "não devemos exagerar" a sua capacidade de alterar o sistema político. Um cenário que, salvo circunstâncias excecionais (como seria uma forte crise financeira), não se antevê no horizonte..Adelino Maltez defende que "estamos num momento de potencial desafio", mas também vai acrescentando que não há grandes sinais de que o "duopólio" PS-PSD esteja a ser posto em causa. Há uma explicação para isso: estes dois partidos "têm uma implantação estrutural fortíssima"..O que não significa que o sistema político não esteja em crise e que não haja eleitorado disposto a seguir um caminho de contestação - já houve epifenómenos, como Marinho e Pinto, que fazem prova disso. Poderão fazê-lo de forma mais estrutural André Ventura, à direita?, ou Joacine Katar Moreira, à esquerda? "Não me parece.". O que dizem os números?.Em 25 de abril de 1975, nas primeiras eleições pós-25 de Abril, que elegeu a Assembleia Constituinte, PS e PSD somaram 64,2% dos votos. Dez anos depois, em 1985, os dois partidos juntos tiveram o resultado mais baixo de sempre - 50,64% -, muito por efeito do fenómeno PRD, que nessas legislativas atingiu os 17,9%..Em 1991, na segunda maioria absoluta de Cavaco Silva, os dois grandes partidos representaram 79,7% dos votos, a percentagem mais alta da democracia. Mas em 2001 ainda representavam 77,9% dos votos. Em 2009 foram 65,6%, em 2011, 66,7%, e em 2015, 69,17% (mas neste ano PSD e CDS concorreram coligados), em 2019, PS e PSD somaram juntos 64,5% dos votos..Um claro sinal da estabilidade do sistema político português é que as principais forças políticas continuam a ser as de 1975: PS, PSD, CDS e PCP (na aliança agora CDU, que em tempos foi a APU e antes a FEPU). Nestas quatro décadas e meia houve outras formações que elegeram deputados - a maior das quais o PRD, em 1985 -, mas nenhuma sobreviveu. A grande exceção ocorreu em 1999, quando o BE elegeu dois deputados, no início de um caminho que viria a consolidar o partido no sistema político português. Em 2015 foi a vez de o PAN quebrar o quadro parlamentar tradicional, elegendo um deputado (que agora deu lugar a quatro). Mas este caminho tem sido feito a par de uma outra realidade - o aumento da abstenção, de votos brancos e nulos e da soma dos resultados dos pequenos partidos, que atingiu a expressão máxima nas últimas eleições.. E à esquerda?.À esquerda ninguém antecipa alterações de peso, embora se vá apontando um declínio continuado do PCP. E se também à esquerda foi eleito um novo partido nas legislativas de 6 de outubro, essa situação acabou de mudar, com o Livre a retirar a confiança política à deputada Joacine Katar Moreira, que passará à condição de parlamentar não inscrita. E agora?.Daniel Deusdado considera que o Livre "teve uma oportunidade histórica que deitou fora" - "E creio que é irrecuperável, será muito difícil colar os cacos" do conflito que acabou na separação entre o partido e a sua deputada única. E a Joacine também não antecipa muito caminho político: "Acho que a Joacine Katar Moreira se vai esgotar a si própria. Não me parece que as causas da deputada sejam suficientemente diferentes do que é defendido pelos partidos da esquerda.".Quando foram decididos os assentos no novo hemiciclo, o Livre reclamou um "lugar no meio da esquerda", o lugar onde o partido diz estar ideologicamente. E Joacine também está aí? António Costa Pinto diz que Joacine Katar Moreira poderia sentar-se à esquerda do BE, representando um renovar das "chamadas causas pós-modernistas". Mas também vai lembrando que o BE "cumpriu essa função desde o seu aparecimento, esgotando a grande maioria dessas causas".