André Ventura: "Contradição entre a minha tese e o meu discurso? Não tem nada a ver"

O líder do Chega descreve a sua tese de 2013 como "uma análise científica" e nega qualquer oposição entre o que lá está e o seu discurso de agora. E que o termo "populismo penal", que caracteriza criticamente como académico, se adeque ao programa do seu partido.

"A minha tese não é uma questão de opinião, é uma questão de ciência", diz André Ventura ao DN quando lhe é perguntado se fez uma tese de doutoramento que defende os direitos humanos. "Sempre distingui muito bem a parte científica da parte opinativa."

De resto, não vê qualquer contradição entre o que ali diz e o que afirma agora; se pediu a restrição total de acesso ao trabalho académico on line até 2022 tal deve-se, explica, ao facto de ter já publicado partes em dois livros e pretender publicar outra parte em 2020.

Por exemplo criticar a estigmatização dos muçulmanos por serem "associados de modo superficial ao terrorismo", "políticas de controlo imigração dirigidas a muçulmanos" e "a discriminação das pessoas com base na sua origem e nas suas características étnicas e religiosas", como fez enquanto académico, em nada se opõe a defender a "redução da presença islâmica na Europa", o estabelecer de "uma lista de países seguros na origem" ou a "proibição do ensino do Islão na escola pública."

Explica: "Não vejo contradição porque uma coisa é criticar uma estigmatização judicial - que houve nos processos de Guantánamo, por exemplo, e foi até reconhecido pelo Congresso dos EUA, é puramente científico -- e outra uma posição política de se dizer 'para o futuro devemos ter em conta que a presença de pessoas oriundas de alguns países onde o fundamentalismo islâmico é mais forte deve ser controlada.'"

Agregar toda a comunidade islâmica europeia ao fundamentalismo islâmico e portanto ao terrorismo não é pois estigmatizar. É só, diz, "uma questão de controlo: se em determinadas cidades europeias uma população é 25% ou mais de 20% islâmica nós temos muita dificuldade em controlar, fazer filtragem."

Do mesmo modo, afirmar na tese que "Portugal é um dos países mais pacíficos do mundo" não colide em nada com clamar no programa do Chega que é "um país com insegurança crónica".

"Nada a ver", comenta. "Uma coisa é a análise dos relatórios, e nos relatórios, é evidente, Portugal é dos mais pacíficos. Outra coisa é a perceção real e os números reais que as pessoas têm do ponto de vista da perceção e da existência."

Como assim? Os números não estão nos relatórios? Quando escreveu que Portugal é um dos países mais pacíficos do mundo, portanto dos mais seguros, afinal disse algo em que não acredita? "Eu politicamente também digo que nos relatórios Portugal é um dos países mais pacíficos do mundo, está ali. Outra coisa é a perceção que eu tenho e que os cidadãos têm. Uma coisa é a perceção científica das coisas e outra coisa a análise científica dos dados."

E. claro, quando o André Ventura académico usou a expressão "populismo penal", descrevendo-o como "o processo pelo qual os políticos se aproveitam, e usam para sua vantagem, aquilo que creem ser a generalizada vontade de punição do público", não estava a falar de programas como o do Chega e líderes políticos como ele próprio. Porque "um populista é alguém que usa de forma abusiva os anseios de uma população para manipular as suas aspirações e para conseguir triunfar... Querermos uma justiça mais forte é populismo? Isto é o sentimento comum, básico, de qualquer cidadão que se indigna perante estas coisas."

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