Peritos propõem passar de 21 para 42 dias intervalo entre doses

Portugal estuda o aumento do tempo entre a primeira e a segunda toma, por forma a contemplar o mais rapidamente os grupos de risco. 270 mil pessoas estão vacinadas e 70 mil esperam a segunda dose.
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A demora na vacinação, também os possíveis atrasos nas entregas das vacinas encomendadas pela União Europeia, leva os peritos a defender o alargamento de três para seis semanas, no mínimo, o intervalo entre as duas tomas das vacinas administradas atualmente em Portugal: a Pfizer e a Moderna. Os laboratórios e a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendam 21 dias (três semanas) na Pfizer e 28 (quatro semanas) na Moderna.

A Comissão Técnica de Vacinação apresentou um "pacote estratégico" para a vacinação de um maior número de pessoas com o maior risco na doença covid-19. "Propomos, e temos boas razões para isso, que alarguem o momento entre as duas doses pelo menos para seis semanas, por forma a que possamos o mais rapidamente possível vacinar os dois grandes grupos de risco: pessoas com mais de 80 anos (tenham comorbilidades ou não) e os mais de 50 com comorbilidades. Têm de ser vacinados o mais depressa possível e, para isso, não temos vacinas que cheguem", justifica o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, membro da Comissão Técnica de Vacinação.

A proposta foi apresentada à equipa da task force, que faz depender uma decisão do parecer da Agência Europeia de Medicamentos (EMA). E, já nesta segunda-feira, a ministra da Saúde referiu esperar pelas indicações europeias.
A EMA mantém o período indicado pelos laboratórios, justificando que foram os contemplados nos testes, mas não proíbe que o mesmo seja alargado aos 42 dias (seis semanas). Mas, tal como a OMS, recomenda que os países desenvolvam as suas próprias estratégias baseadas nos estudos científicos.

Refira-se que o Reino Unido foi um dos prmeiros países a alargar o período de tempo entre as duas tomas, precisamente para vacinar inicialmente o máximo de pessoas. O intervalo de tempo é de duas semanas. É o segundo país europeu, depois da Bélgica e da Eslovénia, com mais mortes por milhão de habitantes: 1,565.

Marta Temido anunciou que Portugal recebeu até esta segunda-feira 473 850 doses da vacina Pfizer e 18 900 da Moderna. Até às 13.00 de segunda-feira, 270 mil pessoas tinham levado as duas doses da vacina e 70 mil a primeira.

O DN fez uma lista das dúvidas sobre a toma da vacina, de acordo com as respostas da Direção-Geral da Saúde e de Carmo Gomes.

Quem será vacinado na próxima etapa?
Quem tem mais de 80 anos - estão já cobertos os lares sem surtos da doença - e os de 50 e mais anos com comorbidades: doença coronária, insuficiência cardíaca, insuficiência renal e doenças pulmonar obstrutiva crónica. Estão incluídas 900 mil pessoas nestes dois grupos.

Como é que serão avisados?
Por mensagem no telemóvel. A pessoa recebe uma mensagem com a data e o local onde será vacinada, devendo responder "sim" ou "não". Nos "nãos" será marcada outra data.

Quando é adquirida a imunidade na primeira dose da vacina?
Há estudos clínicos que mostraram que a imunidade é adquirida alguns dias após a segunda dose das vacinas: sete dias para a vacina da Pfizer e 14 para a vacina da Moderna. Contudo, alguns dados mostram que cerca de duas semanas após a primeira dose já existe alguma imunidade, ainda que parcial.

O que diz a comissão técnica?
Consideram que há já um grau elevado de imunidade após 15 dias da primeira dose: 89% no caso da Pfizer e 92,3 % na Moderna.

Quem apanha a primeira dose e é infetado leva a segunda dose?
Não devem ser vacinadas as pessoas que são diagnosticadas com infeção por SARS-CoV-2 após a primeira dose.

As pessoas que já tiveram covid vão ser vacinadas? Quando?
A grande maioria das pessoas que já tiveram covid-19 adquiriram proteção contra a doença. Presentemente, essa proteção aparenta durar alguns meses, no mínimo 90 dias. Atendendo à escassez de vacinas, a DGS considera que estas pessoas não devem ser prioritárias.

Quem já tem as duas doses da vacina continua a fazer testes PCR?
Sim. Pelo princípio da precaução e até serem conhecidos mais dados de efetividade vacinal. As pessoas vacinadas devem manter o cumprimento das medidas de prevenção e controlo de infeção. No caso de desenvolverem sintomas sugestivos da doença ou terem um contacto com um caso confirmado, devem seguir os procedimentos de quem não tem a vacina (normas 004/2020 e 015/2020 da DGS). O mesmo se aplica, nesta fase, à realização de testes para SARS-CoV-2.

Quem já tem as duas doses terá de fazer a quarentena se estiver com alguém infetado?
Sim, pelo princípio da precaução e até serem conhecidos mais dados de efetividade vacinal. Devem manter o cumprimento das medidas de prevenção e controlo de infeção, e no caso de desenvolverem sintomas sugestivos de covid-19 ou terem um contacto com um caso confirmado deve seguir as normas.

Quais são as doenças que impedem a toma da vacina?
As contraindicações absolutas para a toma das vacinas contra a covid-19 aprovadas na UE são muito poucas e estão relacionadas com a existência de alergias prévias aos constituintes das vacinas. Existem algumas doenças (nomeadamente imunodeficiências e relacionadas com alterações do sistema imunitário) para as quais a vacinação deve ser realizada após avaliação médica individualizada.

A vacina tem prazo?
Tem a partir do momento em que é retirada dos frascos e preparada para ser administrada.

Quem apanhou a primeira dose indevidamente leva a segunda?
Sim, caso contrário iria perder a eficiência da vacinação e seria uma dose desperdiçada.

É crime? O que lhes acontece?
As autoridades consideram que é crime e Marta Temido diz que essas situações serão avaliadas pelas entidades competentes.

Mas, no caso de haver sobras, não podem ir para não prioritárias?
Não, as entidades que operacionalizam a vacinação devem entregar, também, uma lista de suplentes e que está sujeita a avaliação prévia da task force. Uma decisão tomada depois de terem sido divulgadas os casos de abusos na vacinação.

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