Alerta de calor: "Esperadas consequências graves para a saúde"
As autoridades de saúde já estão em alerta para uma onda de calor no país e esperam consequências graves na mortalidade até ao final da semana. O índice que mede os efeitos da temperatura na saúde, elaborado diariamente pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), subiu em flecha de terça para quarta-feira e já está próximo do nível 6, bem dentro do alerta vermelho para períodos de calor extremo.
O governo declarou na quarta-feira a "situação de alerta" para o período entre quinta-feira e segunda-feira para todo o território continental. Na prática, eleva-se o grau de prontidão da GNR e da PSP e mobiliza-se em permanência os sapadores florestais e vigilantes.
Também o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) estendeu ontem o aviso vermelho, ativado por causa do calor, às regiões de Lisboa e Setúbal, elevando para 11 os distritos onde são esperadas temperaturas extremas. Com exceção da costa sul do Algarve, onde as temperaturas vão estar entre os 30º C e os 35º C, no interior do Alentejo, vale do Douro e do Tejo e Beira Baixa a máxima deverá atingir valores da ordem dos 45°C, "podendo ser alcançados máximos absolutos em vários locais". Olhando para o relatório Icaro, do INSA, são as regiões norte e centro que mais correm risco de mortalidade, em especial hoje.
Isto apesar de ser no Alentejo que se preveem as temperaturas mais altas, com os 46 graus Celsius de Évora. A região já ativou o plano de contingência, o que pode levar ao reforço dos meios e ao alargamento das consultas nas unidades de saúde se a procura aumentar. Também a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo admite esse cenário, com a abertura dos abrigos temporários para pessoas vulneráveis.
"Na região de Lisboa e vale do Tejo não estamos no pior dos cenários, estamos ainda num nível intermédio - amarelo -, que já prevê todo o conhecimento relativamente aos abrigos que, numa situação de calor extremo, serão ativados" para proteger a saúde das pessoas mais vulneráveis, nomeadamente crianças, idosos, pessoas que vivem isoladas e pessoas que têm dificuldades de mobilidade, afirmou à Lusa o delegado regional de saúde adjunto da ARSLVT, Nuno Lopes.
Assim, se o nível subir para vermelho, "são ativados os abrigos temporários, que irão receber as pessoas vulneráveis, que podem ser espaços muito diferentes", sobretudo instituições que têm ar condicionado e que têm condições para receber as pessoas, indicou Nuno Lopes, explicando que o trabalho de identificação das pessoas vulneráveis e dos locais onde se encontram já está realizado, designadamente jardins-de-infância e lares da terceira idade.
Os planos de contingência podem levar à abertura de camas de internamento, à chamada de profissionais para reforçar os serviços ou até mesmo ao adiamento de consultas e cirurgias programadas. Mas profissionais ouvidos pelo DN garantem que ainda não houve nenhuma mobilização excecional provocada pelo pico de calor.
"Pelo contrário, até temos menos profissionais e camas, consequência da passagem das 40 para as 35 horas de trabalho", critica Sérgio Branco, presidente da secção regional do sul da Ordem dos Enfermeiros, que ilustra com um caso prático no Alentejo. "Fiquei a saber que no centro de saúde de Moura vai passar a estar apenas um enfermeiro à noite durante este mês, num período em que as temperaturas aumentam. Em vez de serem reforçados, os serviços estão cada vez mais desfalcados."
Em declarações ao DN, a delegada regional de Saúde do Alentejo já tinha explicado que cabe a cada unidade gerir os seus recursos durante este período. Filomena Araújo voltou ontem a afirmar, neste caso à Lusa, que "os profissionais estão todos alertados e as unidades dispõem de todos os mecanismos" para que esse reforço possa ser implementado.
A delegada de saúde regional alertou ainda que, além do calor, as previsões apontam para "outros três fatores de risco": "Temos as poeiras do norte de África, que aumentam os problemas respiratórios, e níveis de ozono e de raios ultravioleta muito elevados". Lembrando que "os efeitos das ondas de calor" se começam a sentir "48 a 72 horas" após o início do aumento das temperaturas, Filomena Araújo avisou que, para evitar o recurso às unidades de saúde, a prevenção deve ser uma prioridade para a população, sobretudo para os grupos de risco, como idosos, crianças ou doentes crónicos.
Reforçar a vigilância de idosos e doentes crónicos que vivem sozinhos, moderar as atividades ao ar livre e ter atenção aos avisos das autoridades de saúde, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera e da Autoridade Nacional de Proteção Civil são alguns dos conselhos da delegada de Saúde. As pessoas devem também manter o corpo hidratado e fresco com ingestão de líquidos e evitar a exposição solar, em especial entre as 11.00 e as 17.00.