Relembro com nostalgia os momentos da minha infância em que com os meus view-master eu me teletransportava para uma realidade alternativa. As imagens eram deliciosas. Todas elas! Relembro as bobines pedagógicas sobre dinossauros, as de fantasia, que na altura eram as mais conhecidas e mais desejadas, com os tradicionais contos Disney. Lembro-me também das viagens que se podiam fazer através do View-Master: paisagens e paisagens idílicas com praias, savanas, passando pelos pólos... bastava encostar o aparelho nos olhos e lá íamos nós..Mas aquela que me deliciava na altura era a Alice no País das Maravilhas. Eu sentia-me transportado duas vezes! Não só porque o View-Master me atirava para um mundo 3D, mas também porque o mundo 3D que eu via era ele também um mundo paralelo, virtual se quiserem. O mundo existia na sua não-existência e este transporte virtual e inexistente fascinava-me..Este brinquedo usava imagens planas que nós víamos a três dimensões, portanto era na realidade um aparelho que nos permitia ver só e apenas imagens com volume..Na verdade, o aparelho era uma aproximação aquilo que nós conhecemos hoje como realidade virtual. E em pouco o objecto se alterou em 80 anos. São na mesma uns óculos, mais bonitinhos agora é verdade, mas que ao encostá-los na face o mundo virtualiza-se. O mundo muda e absorve-nos. Entramos num ambiente que só existe ali, que só acontece no espaço entre os nossos olhos e o nosso cérebro, o que em tudo tem de semelhante com... a realidade virtual..O View-Master foi lançado em 1939, fabricado e vendido pela Sawyer , há exactamente 80 anos, quatro anos após a comercialização do Kodachrome, o que fez com que as imagens coloridas usadas nas bobines fossem de alta qualidade. Estas bobines eram discos de papelão fino contendo sete pares tridimensionais estereoscópicos de pequenas fotografias coloridas transparentes em filme. E faziam as delícias de todos..Em 2015, o View-Master fez uma nova entrada no mercado com uma actualização tecnológica bastante relevante, deixando de usar bobines de cartão, passando a dispositivo de realidade virtual com o auxílio de um smarphone..Mas não é a mesma coisa. Há objectos que não deveriam ser reinventados, e contra a minha profissão falo..Muitas vezes queremos inovar, reinventar, quando francamente, a verdadeira essência e o verdadeiro propósito do objecto já lá está..E o View-Master já tinha tudo. E foi um objecto visionário, pois eu diria que foi no ano de 1939 que Edwin Eugene Mayer inventou a realidade virtual!.Designer, director do IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia
Relembro com nostalgia os momentos da minha infância em que com os meus view-master eu me teletransportava para uma realidade alternativa. As imagens eram deliciosas. Todas elas! Relembro as bobines pedagógicas sobre dinossauros, as de fantasia, que na altura eram as mais conhecidas e mais desejadas, com os tradicionais contos Disney. Lembro-me também das viagens que se podiam fazer através do View-Master: paisagens e paisagens idílicas com praias, savanas, passando pelos pólos... bastava encostar o aparelho nos olhos e lá íamos nós..Mas aquela que me deliciava na altura era a Alice no País das Maravilhas. Eu sentia-me transportado duas vezes! Não só porque o View-Master me atirava para um mundo 3D, mas também porque o mundo 3D que eu via era ele também um mundo paralelo, virtual se quiserem. O mundo existia na sua não-existência e este transporte virtual e inexistente fascinava-me..Este brinquedo usava imagens planas que nós víamos a três dimensões, portanto era na realidade um aparelho que nos permitia ver só e apenas imagens com volume..Na verdade, o aparelho era uma aproximação aquilo que nós conhecemos hoje como realidade virtual. E em pouco o objecto se alterou em 80 anos. São na mesma uns óculos, mais bonitinhos agora é verdade, mas que ao encostá-los na face o mundo virtualiza-se. O mundo muda e absorve-nos. Entramos num ambiente que só existe ali, que só acontece no espaço entre os nossos olhos e o nosso cérebro, o que em tudo tem de semelhante com... a realidade virtual..O View-Master foi lançado em 1939, fabricado e vendido pela Sawyer , há exactamente 80 anos, quatro anos após a comercialização do Kodachrome, o que fez com que as imagens coloridas usadas nas bobines fossem de alta qualidade. Estas bobines eram discos de papelão fino contendo sete pares tridimensionais estereoscópicos de pequenas fotografias coloridas transparentes em filme. E faziam as delícias de todos..Em 2015, o View-Master fez uma nova entrada no mercado com uma actualização tecnológica bastante relevante, deixando de usar bobines de cartão, passando a dispositivo de realidade virtual com o auxílio de um smarphone..Mas não é a mesma coisa. Há objectos que não deveriam ser reinventados, e contra a minha profissão falo..Muitas vezes queremos inovar, reinventar, quando francamente, a verdadeira essência e o verdadeiro propósito do objecto já lá está..E o View-Master já tinha tudo. E foi um objecto visionário, pois eu diria que foi no ano de 1939 que Edwin Eugene Mayer inventou a realidade virtual!.Designer, director do IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia