Há "sinais" de que a "grande ofensiva" russa está para breve
O cerco, o início dos preparativos para a "grande ofensiva", que há 18 dias foi detetado pelas imagens de satélite dos serviços militares britânicos, reduziu para quase metade e tem agora pouco mais 500 quilómetros. Os alvos são os mesmos: Donetsk, Lugansk e a zona sul de Kharkiv. A frente de guerra mantém o mesmo formato: uma linha militar em forma de lua minguante.
Diferenças? A primeira é que desta vez há movimentos militares ucranianos mais firmes, neste caso dois, na direção de Kherson, a menos de 200 quilómetros de Odessa, por zonas não invadidas e outras recuperadas: um vem de Norte, outro de Oeste - paralelo à linha de fronteira com a Moldávia; a segunda diferença assenta numa menor "dispersão" militar russa. A 12 de abril havia sete direções claras de avanço militar estendidas por mais de mil quilómetros. Ontem, foram oito as trajetórias apanhadas pelas imagens de satélite, mas numa frente de guerra reduzida a metade.
De Norte, a pouco menos de 150 quilómetros de Lugansk, junto à fronteira Leste russa surgem três movimentos militares, um deles no interior da Ucrânia, que completam, aquilo que parece ser o cercar do Donbass.
A Leste há três: um na direção de Lugansk, outro a caminho de Donetsk s e um terceiro no sentido de Mariupol. De Melitopol saem dois movimentos russos: o primeiro para Zaporizhzhia, mais a Norte, e o segundo para Leste na direção da cercada Mariupol.
Segundo os serviços secretos militares britânicos, a Rússia foi "obrigada" a encurtar as linhas de apoio militar para "simplificar o comando e controlo" das "unidades esgotadas" que vieram da zona de Kiev e as do Nordeste que "provavelmente estão com a moral enfraquecida" pelos "fracassos".
"Os desafios consideráveis" que encontraram e "as deficiências na coordenação tática", a "falta de apoio aéreo consistente" e de unidades "habilitadas" terá levado à decisão de concentrar tropas para conquistar por completo "todo o Donbass". Por isso, avisam, os russos "estão a preparar as tropas para novos ataques".
Oleksandr Motuzyanyk, porta-voz do Ministério da Defesa ucraniano, garante haver "sinais" de que as tropas russas vão intensificar a ofensiva no Leste: "um aumento ainda maior de ações militares (...) na zona de operação (...) para ocupar o máximo possível de território".
E tal como há 18 dias, Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros, afirmou, e as palavras usadas são as mesmas de Putin, que a "operação militar especial" está a "decorrer de acordo com plano".
Um zoom ao terreno identifica, mais em detalhe, as tentativas russas de capturar Rubizhne e Popasna, duas cidades de Lugansk e o reforço de tropas em redor de Lzyum na região de Kharkiv.
Um segundo zoom concentra-se em Azovstal, complexo siderúrgico em Mariupol com cerca de 10 quilómetros quadrados, "um inferno" completamente cercado por tropas russas e onde milhares de pessoas "escondidas e presas" nos túneis e abrigos subterrâneos estão "entre a vida e a morte".
A expressão é de Vadym Boychenko, autarca da cidade, citado pela BBC: "Estão na fronteira entre a vida e a morte. Esperam, rezam por um resgate. É difícil dizer quantos dias ou horas temos para salvas as suas vidas". Alguns, diz, estão escondidos desde o dia da invasão, a 24 de fevereiro, outros estão feridos - cerca de 600, calcula. No total mil civis e cerca de 5 000 combatentes que resistem enquanto houver comida que está a acabar ou "já acabou", não sabe.
Na quarta-feira, quando esteve em Kiev, António Guterres, secretário-geral da ONU, afirmou que a prioridade mais imediata é criar condições para salvar estes civis, haver um cessar-fogo que permita retirar em segurança todos os que estão retidas em Avozstal.
Ontem, 20 pessoas conseguiram abandonar Azovstal, segundo informação, sem detalhes, das agências oficiais russas de notícias Tass e Ria Novosti . O porta-voz do Azov confirmou, por seu lado, esta retirada dizendo que "provavelmente estão a caminho de Zaporizhzhia".
Mijailo Podolyak, assessor de Zelensky, disse que apesar dos apelos de vários "líderes mundiais" para a criação de um corredor humanitário ainda "não há resposta do lado russo. Todos os dias há artilharia pesada e ataques de caças para destruir Azovstal. Os russos sabem que há crianças lá dentro, mas continuam a bombardear".
"Não é mais concebível que lhe sejam concedidos pelos contribuintes fundos para gabinetes". O aviso é do ministro das Finanças alemão, Christian Lindner, perante a recusa do antigo chanceler social-democrata, Gerhard Schröder, em pôr fim às suas responsabilidades em vários grupos russos e em condenar a invasão russa.
Schröder, chanceler entre 1998 e 2005, tem direito a vários gabinetes na Câmara dos Deputados e a um orçamento para pessoal de 400.000 euros por ano.
"Ex-titulares de altos cargos, que obviamente estão do lado de governos criminosos, não podem contar com o apoio do Estado", disse Lindner.
A pressão em torno de Schröder, 77 anos, tem vindo a aumentar, tendo já sido privado de distinções honorárias por várias cidades e alvo de pedidos de expulsão do partido social-democrata SPD.
A polémica subiu de tom após a entrevista ao The New York Times, na qual Schröder afirmou que não tinha intenção de abrir mão dos seus mandatos em empresas russas e que só o faria se Moscovo decidisse cortar o fornecimento de gás à Alemanha.
Serguei Lavrov, em declarações ao canal saudita Al Arabiya, colocou toda a responsabilidade deste cenário nas mãos dos países ocidentais.
"Dizem abertamente que [Putin] deve perder, que a Rússia deve ser derrotada; quando alguém utiliza esta terminologia, eu creio que pensam que estão em guerra com aquele que querem derrotar", afirmou.
E esses são, entre outros, esclareceu, os Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Polónia, e também o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell.
"Não consideramos que estamos em estado de guerra com a NATO; lamentavelmente, existe uma sensação de que a NATO crê que sim, que está em guerra com a Rússia" e um confronto desse género seria um passo que aumentaria o risco de uma guerra nuclear, considerou.
Na passada segunda-feira, tinha afirmado que o perigo de uma guerra nuclear "era sério".
Numa outra entrevista, publicada pela agência de notícias oficial chinesa Xinhua, Lavrov avisou que se "os Estados Unidos e a NATO estiverem realmente interessados em resolver a crise ucraniana, então, acima de tudo, devem acordar e parar de entregar armas e munições ao regime de Kiev".
Vladimir Yermakov, responsável pela não proliferação nuclear no ministério de Lavrov, afirmou horas depois que "os riscos de uma guerra nuclear, que nunca deve ser desencadeada, devem ser reduzidos ao mínimo, através da prevenção de qualquer conflito armado entre potências nucleares".
O exemplo a seguir? "A Rússia [que] segue claramente esse entendimento".