O curso para a vida já não é um: são vários e de áreas diferentes

As empresas exigem alta especialização mas também flexibilidade. Os alunos não querem ficar presos a um emprego ou a uma área. Secretária de Estado e presidente do CRUP explicam o que está a mudar no superior.

Quando chegam ao superior os alunos querem, cada vez mais, cursos que lhes abram um leque alargado de possibilidades futuras. Ofertas como Estudos Gerais, da Universidade de Lisboa, primeiro ciclo que pode ser complementado com mestrados de todas as áreas, da saúde às ciências sociais; ou Bioengenharia, das universidades do Porto e Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), com uma forte base de Física, Química e Matemática, são exemplos de formações que procuram dar resposta a esses anseios. Mas isto, assumem reitores e decisores políticos, é apenas uma pequena parte da revolução.

Com uma geração de alunos "nativos digitais" e abertos ao mundo, e um mercado de trabalho que tanto exige elevada especialização como capacidade de adaptação, já não é possível identificar "o" curso que abre as portas do futuro, diz ao DN a secretária de Estado da Ciência, Fernanda Rollo. Porque esse futuro é uma incógnita. "Hoje existe a noção de que não há um termo de aprendizagem. A lógica é a de que a aprendizagem é contínua. Ninguém pode pensar: "O curso acabou e agora é trabalho." Já ninguém acredita que, quando acabou a licenciatura, acabou a sua formação." É claro que existem áreas em alta. O mestrado integrado de Engenharia Aeroespacial, do Instituto Superior Técnico, suplantou a Medicina como formação com nota do último colocado mais elevada: 18,8 valores no ano passado. Mas boa parte do sucesso deste curso explica-se precisamente com o facto de abrir portas profissionais em setores muito diferentes. A maioria dos seus diplomados não seguem para as indústrias aeronáutica e espacial.

As tecnologias de informação e comunicação são indiscutivelmente um setor que garante emprego no momento. Recentemente foi noticiado que, mesmo com ordenados líquidos a começar nos mil euros à entrada, as empresas portuguesas não conseguem recrutar diplomados suficientes. "É lógico que a era digital, a digitalização da economia e da sociedade, constitui um denominador comum", diz a governante, também investigadora e professora universitária na área da história contemporânea. "Mas não é só isso."

O que falta então? O mercado e os próprios estudantes esperam mais do que a aposta numa área concreta. Querem uma abordagem inteiramente nova. "Desde logo espera-se uma oferta mais flexível na adequação a estes tempos de mudança, de muita incerteza. Mas também a nível dos desafios, das oportunidades e das respostas às expectativas dos estudantes que são dadas nestes contextos."

O aluno, diz Fernanda Rollo, já não se forma a pensar em entrar numa empresa e ficar lá "a vida toda". "Pensa em estar lá dois a três anos, tentar uma experiência de trabalho noutro país e regressar à universidade, fazer mais um mestrado, doutorar-se." E a empresa, acrescenta, pretende, "além da competência profissional, competências sociais e relacionais e espera que o aluno domine pelo menos duas línguas estrangeiras".

Cursos pensados com as empresas

Estarão as instituições a dar resposta a esta nova realidade? António Fontainhas Fernandes, líder do conselho de reitores, assume que, depois de o Processo de Bolonha ter mudado a estrutura dos graus e diplomas, "falta uma segunda fase, em que tanto as metodologias de ensino como os conteúdos têm de ser gradualmente adaptados". No entanto, garante, o esforço das instituições em resposta "às expectativas dos alunos e do mercado" já se vai notando. "Hoje, sempre que há uma alteração dos conteúdos dos planos de estudo, os stakeholders são ouvidos. E quando somos contactados por empresas privadas que querem contratar estudantes procuramos adaptar os conteúdos programáticos a essas necessidades", ilustra.

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