A braços com uma avalanche nos mercados, o presidente norte-americano, Donald Trump, recuou - de forma algo surpreendente - na sua política de taxas alfandegárias, suspendendo por 90 dias a aplicação de um conjunto alargado de tarifas que tinha anunciado. Mas manteve a taxa de importação de 10% que tinha anunciado para os produtos da maioria dos países e agravou as tarifas aplicadas à China para 125%.Os 10% representam o degrau mais baixo das taxas alfandegárias que começaram a ser aplicadas pelos Estados Unidos no passado sábado. É esta a percentagem que será aplicada a todos os países durante 90 dias, enquanto decorrerem negociações, com exceção da China. Trata-se de uma percentagem bastante inferior aos 20% que iriam ser aplicados aos produtos da UE, os 24% ao Japão e aos 25% da Coreia. As tarifas mais altas aplicadas a setores ou produtos específicos, como o aço o alumínio europeus, mantêm-se.Os principais índices norte-americanos dispararam com o anúncio de Trump sobre a moratória de 90 dias nas taxas. A meio da tarde em Nova Iorque, o S&P 500 estava a subir 7,8%, depois de ter negociado novamente no vermelho no início da sessão. Cerca das 19h00 (em Lisboa) o Dow Jones Industrial Average ganhava 6.6%. Quanto ao Nasdaq - de composição mais tecnológica - disparou 10,43% perto da mesma hora. No fecho da sessão, o Nasdaq registou uma subida sem paralelo há mais de 20 anos, desde 2001 (+12,16%) e o S&P 500 ganhou 9,52%, a sua maior valorização desde 2008. O Dow Jones fechou a subir 7,87%.De igual modo, as “Sete Magníficas” também tiraram a barriga de misérias. A Tesla teve ganhos de 22,69%), a Alphabet 9,88%, a Amazon chegou a ganhar 10,21%, a Meta disparou 14,76%, a Microsoft 10,13% e a Nvidia 18,72%. A Apple, que na terça-feira recuou 4,98% (ou seja, perdeu mais de 750 mil milhões em valorização bolsista), fechou a subir 15,33%.Num encontro informal com jornalistas, Trump foi dúbio quanto à sua motivação para recuar na aplicação das tarifas. Questionado sobre se o tinha feito devido ao ”crash” dos mercados, Trump disse que “os mercados agora [depois do anúncio] estão lindos, lindos” e sublinhou que aquilo que a sua administração está a fazer “é um grande trabalho, algo que nunca foi feito”. Também disse que foi preciso esta política de tarifas porque encontrou uma economia e um país doente. “Se o doente está mal, precisamos de fazer uma cirurgia”, disse o presidente americano, criticando o seu antecessor, Joe Biden. E salientou que vai “tirar milhares de milhões de dólares à China”, um país que, disse, “já quer negociar”.No entanto, acabou por conceder que voltou atrás na medida porque “as pessoas estavam a ficar com um pouco de medo”.Já a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, foi mais clara, afirmando que Trump não recuou devido aos mercados, mas que esta era a estratégia desde o início. Ou seja, reiterou a ideia de que Trump é um negociador exímio e que ninguém entendeu o verdadeiro alcance das suas ações.“O presidente Trump criou para si mesmo o máximo de alavancagem para a negociação”, disse. “E muitos de vocês na imprensa, claramente não entenderam o The Art of the Deal [o livro de Trump de 1987]. Não compreenderam o que o presidente Trump está a fazer”, declarou Leavitt.“Tentaram dizer que o resto do mundo se aproximaria da China, quando na verdade vimos o efeito contrário. O mundo inteiro está a ligar aos Estados Unidos, não à China, porque precisa dos nossos mercados”.Presente no encontro de Leavitt com a imprensa, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, deu mais pormenores sobre a medida e deixou um aviso: “Não respondam com represálias e serão recompensados.”Bessent também disse que a moratória de 90 dias na aplicação das percentagens mais altas nas tarifas dá margem para o diálogo com os 75 países que, segundo a Casa Branca, desde 2 de abril já entraram em contacto para negociar. O responsável admitiu que o Vietname, o Japão, a Coreia do Sul e a Índia serão os primeiros países com quem Washington entrará em negociação..EUA não aplicarão taxas de 10% a México e Canadá. Trump diz que Xi Jinping quer acordo mas é “orgulhoso”