Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, que desceu as suas taxas este mês.
Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, que desceu as suas taxas este mês.Daniel Roland / AFP

Taxa de juro do BCE deve descer até quase 2% no final de 2025

Avanço da economia europeia está como que refém da Alemanha, a maior, que vai virtualmente estagnar, e dos magros avanços de 0,8% em Itália e 1,1% em França. Espanha, a quarta maior economia da Zona Euro, compensa parcialmente o desaire dos grandes.
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A taxa de juro principal da Zona Euro, que o Banco Central Europeu (BCE), reduziu no início deste mês para 3,5% (taxa de depósito) deve continuar a aliviar este ano e no próximo, chegando a um patamar de 2,25% no final de 2025, antecipa a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) no seu novo panorama económico intercalar (outlook), ontem divulgado.

Assim será porque a política monetária "tem margem" para continuar a descer taxas (ciclo iniciado com um corte de 0,25 pontos percentuais em junho deste ano) uma vez que as pressões inflacionistas têm vindo a recuar e que a economia está a ressentir-se da forte subida de juros que se iniciou em meados de 2022, com muitas empresas e famílias a terem de suportar um fardo muito maior de endividamento.

Este processo tem penalizado bastante o consumo e o investimento e o resultado está vista: os preços baixaram, mas a atividade também, estando agora a Zona Euro virtualmente estagnada. 

Segundo a OCDE, "nos Estados Unidos e na área do euro, projeta-se que as taxas de juro diretoras diminuam mais 1,5 e 1,25 pontos percentuais, respetivamente, até ao final de 2025, aproximando-as de níveis considerados neutros".

Ou seja, no caso da Europa, a taxa principal, hoje em 3,5%, ainda pode descer até aos 2,25%, valor no qual deverá depois estacionar.

No mesmo estudo, a OCDE revelou que o crescimento previsto para a Zona Euro neste ano e no próximo deverá permanecer bastante fraco, igual ao que se previa há seis meses (maio), ainda que a tendência seja de recuperação.

Neste novo exercício, que contempla apenas grandes economias do mundo (não inclui dados atualizados para Portugal, isso só acontecerá no outlook de novembro), a OCDE prevê que a Zona Euro se mantenha como uma das economias de referência que menos crescerá este ano, quedando-se por um aumento real do Produto Interno Bruto (PIB) na ordem de 0,7%, igual ao que se dizia nas projeções de maio. É um passo curto sobretudo quando se compara com os 2,6% previstos para os Estados Unidos.

O avanço da economia europeia está como que refém da Alemanha, a maior economia da União Europeia, depois de ter caído em recessão em 2023, vai virtualmente estagnar (previsão de crescimento de 0,1% este ano, menos uma décima do que em maio). Em cima disto, a OCDE espera ainda avanços magros em Itália (0,8%) e França (1,1%).

Espanha, a quarta maior economia do euro e maior parceiro económico de Portugal, compensa parcialmente o desaire dos grandes, devendo crescer 2,8% este ano, mais um ponto do que se julgava há seis meses, estima a OCDE.

No ano que vem, em 2025, há retoma, mas o crescimento da área do euro só deve chegar a 1,3%, diz a organização liderada pelo ex-ministro das Finanças australiano Mathias Cormann e que tem como economista-chefe o ex-ministro da Economia e do Emprego português Álvaro Santos Pereira.

Com um ritmo destes – mesmo apoiado numa descida prevista de taxas de juro por parte do BCE – a Zona Euro continuará a ser, no próximo ano, uma das economias menos dinâmicas do grupo das maiores analisadas (um total de 21, se incluirmos as quatro grandes do euro - Alemanha, França, Itália e Espanha).

"A virar a esquina"

A OCDE acredita que a economia mundial está a conseguir “virar a esquina” do crescimento, melhorando ligeiramente a previsão da expansão global para 3,2% neste ano e no próximo. É um pouco melhor do que os 3,1% registados no ano passado.

Apesar das crescentes dificuldades da economia chinesa, uma das maiores do mundo juntamente com os Estados Unidos, o panorama mundial é salvo pelas grandes economias asiáticas, que continuam a crescer muito em termos comparativos.

A Índia lidera o grupo, com um avanço de 6,7% do PIB real em 2024, e no próximo ano até acelera para 6,8%. Em segundo, aparece a Indonésia, que cresce 5,1% em 2025 e 5,2% em 2025.

A China, que dantes costumava entregar crescimentos de dois dígitos, na casa dos 10%, é uma sombra desse tempo, mas ainda assim pode avançar 4,9% em termos reais (descontando a inflação doméstica).

O Brasil, outra grande economia mundial e um parceiro muito relevante de Portugal (em turismo, investimento, comércio, imigração) consegue manter o ritmo. A OCDE reviu o crescimento brasileiro previsto para este ano em alta significativa, de 1,9% para 2,9%. Em 2025, espera-se 2,6%.

 
 

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