A taxa de juro da nova dívida pública emitida em 2023 disparou para 3,5% (tinha sido 1,7% em 2022 e 0,6% em 2021), o valor mais elevado desde 2014, o último ano do programa de ajustamento da troika e do governo PSD-CDS, altura em que esse custo atingiu 3,7%, indicam novos dados da agência que gere a dívida portuguesa (IGCP), que é tutelada pelo Ministério das Finanças..Este movimento ascendente muito forte -- que decorre do aperto monetário do Banco Central Europeu (BCE) desde meados de 2022 e do ambiente geral de taxas de juro e prémios de risco mais elevados -- faz com que, em 2023, e pela primeira vez desde 2018, a fatura anual dos contribuintes com juros (uma despesa que vai ao saldo público) tenha subido quase 4%, aproximando-se novamente dos 7 mil milhões de euros..É preciso recuar a 2012, o primeiro ano completo do programa de austeridade e de desvalorização interna, para encontrarmos uma subida maior. Nessa altura, o país estava tão endividado e enfrentava taxas de juro tão elevadas (taxa média da nova dívida foi de quase 6% em 2011 e mais de 4% em 2012), que a rubrica dos juros a pagar aos credores disparou 30% nesse ano de 2012, tendo atingido um dos maiores valores de que há registo, cerca de 8,2 mil milhões de euros, segundo um levantamento feito pelo Dinheiro Vivo (DV) a partir da Conta Geral do Estado.O atual agravamento dos juros da República já era amplamente esperado desde o início de 2022, altura em que o Banco Central Europeu (BCE) anunciou que iria, primeiro, reduzir o nível de compras de ativos (a maioria Obrigações do Tesouro) do enorme programa APP, lançado em 2014/2015 para acabar de vez com a crise dos ataques ao euro e aos países união monetária, e sem segundo lugar, descontinuar de vez esse mesmo programa em julho de 2023..O Banco de Portugal (BdP) explica que "o programa de compra de ativos (APP) inclui quatro programas, através dos quais foram adquiridos títulos de dívida privada e pública".."O programa de aquisição de instrumentos de dívida titularizada (ABSPP), anunciado em 2 de outubro de 2014; o programa de aquisição de obrigações hipotecárias (CBPP3), anunciado em 2 de outubro de 2014; o programa de aquisição de obrigações de dívida soberana (PSPP), anunciado em 22 de janeiro de 2015; e o programa de aquisição de títulos de dívida de empresas (CSPP), anunciado em 10 de março de 2016.Como referido, "as compras líquidas de ativos sob o APP terminaram no final de junho de 2022".Os títulos vencidos foram sendo reinvestidos na íntegra até fevereiro de 2023, o que permitiu controlar os seus preços e evitar um aumento das taxas de juro correspondentes.Mas isso terminou. A partir de março do ano passado, o Eurossistema foi deixando gradualmente de fazer esses reinvestimentos, tendo decidido terminar tudo em julho passado. "O conselho do BCE descontinuou os reinvestimentos ao abrigo do APP a partir de julho de 2023", diz o BdP.