Soares dos Santos: "Por amor de Deus, não fiquemos de fora da Europa no desafio de não nos entendermos"
O cenário é de déjà vu. Um ano depois, a Jerónimo Martins voltou a apresentar os seus resultados financeiros com eleições à porta. Em 2024, o presidente do grupo teceu duras críticas à "fraca qualidade" dos políticos nacionais. Doze meses depois, e com legislativas marcadas para 18 de maio, reitera que o quadro de instabilidade política não abona a favor das empresas, mas assegura que não irá impactar o negócio.
"A instabilidade não é amiga de ninguém, as companhias quando sabem o que querem têm de saber viver com tempestades e com situações desagradáveis e isso não irá alterar o nosso caminho", garantiu esta quinta-feira, 20, Pedro Soares dos Santos.
O gestor, que falava na conferência de imprensa de apresentação dos resultados anuais do grupo internacional com sede em Portugal, que foram ontem divulgados ao mercado, escudou-se do exemplo alemão.
"Na Alemanha, a CDU e os sociais democratas alinharam-se após as eleições. Deixa-me triste não termos esta visão para Portugal e não termos uma base de visão partilhada. Sofremos o que sofremos este ano e acabámos, novamente, em eleições", lamentou.
O líder da retalhista deixou um apelo aos governantes: "Por amor de Deus não fiquemos de fora da Europa nesta visão e neste desafio de não nos consegurimos entender".
Já sobre o cenário geopolítico internacional, frisou que este "tem sido muito incerto desde a covid para as empresas". "A instabilidade não desapareceu nem irá desaparecer. A Europa enfrenta um grande desafio porque terá de ter uma visão partilhada para o mundo onde está", antecipou.
50 mil milhões de euros em vendas até 2030
O ano que passou desenhou-se de desafios para a retalhista que viu os lucros encolherem 20,8% para os 599 milhões de euros à boleia da inflação, da pressão nos custos e da falta de dinamismo no mercado.
"2024 foi muito desafiante, mas não deixámos de honrar todos os compromissos que tínhamos. Reforçámos a solidez da Jerónimo Martins como operador e, mesmo sendo difícil, conseguimos cumprir todas as metas que tínhamos. Fizemos o que tínhamos de fazer, criámos emprego, pagámos impostos, reajustámos a inflação nos resultados da companhia. Não tenho nada a dizer a não ser que me sinto feliz com tudo o que atingimos", atestou Pedro Soares dos Santos.
Já a diretora financeira esclareceu que nos resultados líquidos pesaram os prémios excecionais pagos e a dotação inicial de 40 milhões de euros atribuída à Fundação Jerónimo Martins - e cujo valor será o mesmo no exercício de 2025.
"Excluindo estes fatores, embora os resultados descessem, seriam outros", garantiu Ana Luísa Virgínia.
O CEO frisou que o grupo, "pela primeira vez pagou mais impostos do que investiu". "Cumprimos totalmente as nossas obrigações, continuamos a ser um grande investidor quer em Portugal quer na Polónia", reforçou.
No total, a retalhista pagou em impostos 1,058 milhões de euros nas três geografias onde opera: 144 milhões de euros em Portugal, onde está presente com o Pingo Doce e com o Recheio, 833 milhões de euros na Polónia, onde lidera o retalho através da Biedronka somando ainda a Hebe, e 28 milhões de euros na Colômbia, onde detém a insígnia Ara.
No capítulo do investimento, que ascendeu aos 1,1 mil milhões de euros em 2024, o objetivo é ultrapassar novamente a fasquia dos mil milhões de euros este ano. A polaca Biedronka irá absorver mais de 50% desta fatia, para o Pingo Doce estão destinados 20% e a Ara irá absover 14%.
Para a Eslováquia, a quarta geografia, onde a Jerónimo entrou no início deste ano, o investimento "será marginal".
"Quem não acredita no negócio não investe", complementou Ana Luísa Virgínia. A CFO referiu que o negócio da retalhista "só é relevante enquanto cresce".
Olhando para as vendas, que avançaram 9,3% em 2024 para os 33,5 mil milhões de euros, o objetivo é incrementar o volume de negócios em 16,5 milhões de euros até 2030.
"Tivemos uma década de grande crescimento e consolidação e temos de olhar para os próximos cinco anos. Temos um número e uma ambição que gostaríamos de atingir: 50 mil milhões de euros [em vendas] em 2029 ou 2030", apontou Pedro Soares dos Santos.
Qual será a estratégia? "O segredo é a alma do negócio", atirou.
Questionado sobre se irá manter a sua posição nos quadros, respondeu: "Haverá alterações no conselho de administração, mas tudo no devido tempo. Caberá aos acionistas [a decisão]".