Pedro Soares dos Santos
Pedro Soares dos SantosFoto: Paulo Spranger

Lucros da Jerónimo Martins tombam 20,8% para 599 milhões de euros

Vendas da dona do Pingo Doce cresceram 9,3% atingindo os 33,5 mil milhões de euros no ano passado. Queda da inflação, subida dos custos e falta de dinamismo no consumo pressionaram margens.
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A Jerónimo Martins fechou o ano passado com um resultado líquido de 599 milhões de euros, o que representa um recuo de 20,8% face a 2023 anunciou, esta quarta-feira, 19, o grupo liderado por Pedro Soares dos Santos, em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Depois de o volume de negócios ter ultrapassado a fasquia dos 30 mil milhões de euros no exercício anterior, as vendas consolidadas da retalhista subiram 9,3% para os 33,5 mil milhões de euros em 2024, conforme tido sido já antecipado nos resultados preliminares divulgados a 14 de janeiro.

Apesar da boa performance das vendas, o ano de 2024 foi de desafios e ficou marcado “pelos duros efeitos da combinação de uma acentuada queda da inflação alimentar com a subida significativa dos custos”, destaca a empresa. Na comunicação enviada ao mercado, sublinha o “contexto particularmente difícil” agravado pela “falta de dinamismo do consumo” com especial revelo na operação da Polónia.

O grupo de distribuição explica que as margens operacionais acabaram "pressionadas pela combinação da deflação registada nos cabazes das diferentes insígnias com a significativa inflação nos custos, principalmente de pessoal, em resultado da subida significativa dos salários mínimos nos três principais países onde opera”.

O EBITDA consolidado (resultado antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) avançou 9,2% para os 2,2 milhões de euros. Já a respetiva margem caiu 41 pontos base, fixando-se em 6,7%. O cash flow foi negativo em 62 milhões de euros (345 milhões de euros em 2023). No final do ano, a dívida líquida ascendia aos 3,1 mil milhões de euros (2,1 mil milhões de euros em 2023).

"Em 2024, tudo o que antecipámos nas perspetivas do ano, aquando da publicação dos resultados de 2023, acabou por acontecer. Foram vários os fatores que se conjugaram para gerar um contexto de operação muito difícil para as nossas insígnias: deflação nos cabazes depois de dois anos de fortes aumentos dos preços, elevada inflação de custos, uma forte sensibilidade ao preço por parte dos consumidores, que se mostraram cautelosos e a intensificação da concorrência no mercado de retalho alimentar", refere o presidente da Jerónimo Martins na mensagem que acompanha o relatório de contas.

Numa análise por geografias, em Portugal os consumidores mantiveram-se focados em "aproveitar oportunidades de preço e promoções com o canal HoReCa a revelar "alguma estagnação face ao forte desempenho dos anos anteriores, impactado principalmente pela fragilidade do consumo fora do lar".

No ano passado, as vendas do Pingo Doce avançaram 4,5% para os 5,1 mil milhões de euros, com um LFL [like-for-like, indicador das vendas comparáveis], excluindo combustível, de 4%. O desempenho é explicado pelo contributo da área de Meal Solutions e "pelo foco na produtividade e eficiência operacionais que permitiram que a margem EBITDA, se mantivesse estável em relação ao ano anterior em 5,8%, apesar do investimento em preço e da acentuada inflação nos custos".

Ainda no país, olhando para a fileira cash & carry, a rede grossista Recheio viu as vendas progredirem para os 1,4 mil milhões de euros, representando uma evolução mais tímida de 1,9% e um LFL de 2,1%. Apesar da pressão manteve "um forte dinamismo e angariou novos clientes em todos os seus segmentos".

Portugal representou 19,3% nas vendas totais do grupo com o Pingo Doce e o Recheio a pesarem 15,2% e 4,1%, respetivamente.

Preços na Polónia com evolução negativa devido à "cautela" dos consumidores

A fatia de leão da operação do grupo internacional com sede em Portugal está no mercado polaco com a Biedronka a assumir um peso de 70,4% no volume de negócios da empresa.

2024 ficou marcado pelo "comportamento cauteloso" dos consumidores, que se mantiveram "fortemente orientados para preço e promoções" e, neste sentido, as vendas de retalho alimentar a preços constantes registaram uma evolução negativa.

"O trabalho notável da nossa maior insígnia, que operou com deflação no seu cabaz ao longo dos doze meses do ano, resultou no crescimento das vendas em volume e da quota de mercado, mesmo num contexto de contenção do mercado de retalho alimentar e face ao forte comparativo de 2023", enquadra a retalhista.

Contas feitas em euros, as vendas da insígnia líder do retalho alimentar no país subiram 9,6% para os 23,6 mil milhões de euros.

Ainda na Polónia, no que respeita ao segmento do retalho especializado de produtos de saúde e beleza, a Hebe incrementou as vendas em 24,3% para 583 milhões de euros.

Já na Colômbia, onde a Jerónimo Martins opera através da rede de lojas Ara, as vendas engordaram 17%, para um total de 2,9 mil milhões de euros, representando 8,5% do total do grupo.

No final de 2024, o parque da Jerónimo Martins era composto de 6081 lojas. Em Portugal, contava com 489 supermercados Pingo Doce e 43 pontos de venda Recheio. Na Polónia, a Biedronka somou 3730 lojas e a Hebe 381. Por fim, na Colômbia, a Ara contabilizou 1438 lojas no fecho do ano.

A Jerónimo Martins estreou-se no início de janeiro no seu quarto mercado, com a entrada na Eslováquia através da inauguração do centro de distribuição e da sua primeira loja Biedronka neste país. O objetivo é chegar, pelo menos, às 50 lojas até ao final de 2026.

"O programa de investimento mantém-se como primeira prioridade de alocação de capital, devendo, em 2025, ficar em linha com o valor dos últimos anos: 1,1 mil milhões de euros", adianta.

A retalhista informa ainda que irá propor aos acionistas a distribuição de mais de metade dos lucros em dividendos, no valor 370,8 milhões de euros, o que corresponde a um dividendo bruto de 0,59 euros por ação, que compara com os 0,655 euros por ação pagos no exercício anterior. "O Conselho de Administração propõe ainda que, dos resultados líquidos do exercício de 2024, se atribua uma dotação de 40 milhões de euros à Fundação Jerónimo Martins".

2025 de incerteza

A incerteza é a palavra-chave que pautará os próximos meses de operação, num quadro de ânimos refreados na primeira metade de 2025.

"O ano de 2025 começou com uma incerteza acentuada, impulsionada pela turbulência na geopolítica global e pela instabilidade política nas principais economias europeias. Num ambiente que permanecerá volátil, prevemos que o comportamento do consumidor continue a pautar-se por prudência e contenção e que a dinâmica concorrencial dos mercados se mantenha sob elevada pressão, pelo menos na primeira metade do ano", antecipa Pedro Soares dos Santos.

Por cá, aponta o gestor, embora a subida do salário mínimo possa vir a reforçar o poder de compra "persiste um contexto de consumo alimentar muito orientado para as promoções".

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