Sandra Ayres
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Sandra Ayres: “Com a compra da Igacargo ganhamos muita força no segmento da carga aérea”

Em entrevista ao Diário de Notícias, a diretora-executiva da Euroatla, Sandra Ayres, explica o racional por detrás da compra da Igacargo, que atira a empresa para um volume de negócios combinado de 25 milhões de euros.
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A Euroatla adquiriu uma empresa familiar com características semelhantes, a Igacargo, ainda que mais forte na área da carga aérea, mas está atenta a novos alvos, especialmente no segmento de apoio aos navios.

“As empresas familiares e as PME portuguesas pecam, às vezes, por não terem uma gestão profissional, por estarem um bocadinho obsoletas em termos de tecnologias, em termos das melhores práticas de gestão, de checks and balances internos, medição de performance. E, portanto, desde 2016 que a Euroatla está a trabalhar numa modernização da empresa. Esta estratégia acabou por ter resultados e a empresa começou a crescer – não imediatamente – mas foi crescendo, crescendo, a um ritmo muito pausado, mas muito certinho”, sublinha Sandra Ayres ao DN.

Mas a certo ponto a empresa percebeu que no mercado do transporte e logística, como em outros, a tendência é para grandes manobras de concentração. “Entre os armadores, que já são empresas multinacionais gigantescas à escala mundial, mas também nos grandes transportadores, que também são empresas multinacionais”, aponta Sandra Ayres.

“E nós – uma empresa mais pequena ou de âmbito mais estritamente nacional – começamos a fazer a análise estratégica de como é que iam ser os próximos anos. Em que é que deveríamos investir? Modernização, tecnologias, sofisticação da gestão, retenção de talento. E começamos a perceber que o fator dimensão é muito importante”, complementa.

O processo de renovação e crescimento exclusivamente por via orgânica, ou seja, apenas com recursos próprios, começou a ser interrompido. “Sim, parámos este processo e começámos a olhar à volta, para tentar perceber se havia alguma empresa no mercado que nós pudéssemos comprar. E isso permitia–nos – em vez do crescimento paulatino, orgânico – dar um salto e um crescimento e passar, sucintamente, para o dobro”, diz Sandra Ayres.

Chegados aqui, a Euroatla tinha dois caminhos: o primeiro era escolher uma empresa que fosse totalmente diferente, para que a Euroatla ganhasse a entrada em áreas de negócio onde não era, nem é, tão forte. O segundo caminho seria o de “apontar primeiro para uma empresa que fosse do estilo da nossa, onde a integração fosse mais fácil e o processo de aquisição fosse mais fácil”. 

“Fomos pela segunda via, porque era a primeira experiência que fazemos deste estilo e porque entendemos que haveria algumas empresas familiares do estilo da nossa que não tinham dado o passo que nós demos de profissionalização da gestão”. Foi o caso da Igacargo que, ainda assim, trouxe força num segmento específico.

“Têm uma área onde nós não somos muito fortes – e eles são muito mais fortes – que é a área da carga aérea. Têm inclusive pessoal no aeroporto de Pedras Rubras e isso nós nunca chegámos a ter. Todos os anos pensávamos ‘é este ano que vamos desenvolver mais a carga aérea’, mas nunca, nunca o fazíamos. Havia sempre outra coisa”, admite Sandra Ayres.

Ora a carga aérea é um segmento que tem estado a crescer. “Eu não lhe sei dizer os números, mas tem estado a crescer de forma muito consistente, arrastada pelo comércio eletrónico, que exige uma rapidez que não se compagina com três semanas para trazer carga da China até à Europa. Por outro lado, eu acho que mesmo empresas que podem dar-se ao luxo de esperar mais tempo por componentes, por peças, perceberam com os problemas do Covid ou dos ataques dos rebeldes Huthis que podem sofrer muito com os problemas que afetam a cadeia logística. E agora vem aí um problema gravíssimo, que é uma greve portuária nos Estados Unidos”, salienta a diretora-executiva da Euroatla.

“Apesar de ser muito mais caro, as empresas perceberam que muitas vezes não podem escapar realmente à carga aérea, porque há sempre carga que não se compagina com o tempo de espera que o transporte marítimo acarreta”, conclui.

A aquisição da Igacargo, por um valor que nenhuma das empresas está disponível para revelar, não significa que a Euroatla tenha abandonada, por completo, a primeira via de crescimento identificado: adquirir uma empresa numa área nova. 

“Nós… Posso dizer que não estamos a procurar, mas estamos atentos, porque estes processos são demorados. Entre a identificação, a negociação, até chegar a um closing, isto é um processo complicado e desta vez não podemos culpar a burocracia do Estado, porque de facto são mesmas pessoas. As negociações são lentas, é toda a due diligence que é necessário fazer e todas as coisas que é necessário assegurar. E, portanto, tudo isso é um processo lento. Dito isto, nós estamos atentos a algumas áreas, como seja as áreas de apoio aos navios. Nos portos estamos atentos a áreas onde temos fornecedores dos quais gostamos muito, mas que talvez pudéssemos fazer nós diretamente”, sublinhou.

Mas como? “Cada vez mais os armadores grandes gostam de ter um interlocutor que lhes consiga fazer tudo. E nós queremos posicionar-nos um pouco dessa forma. Portanto, um transitário consegue sempre fazer o serviço todo – se não o faz diretamente, faz por adjudicação a terceiros e oferece. Mas nós podemos oferecer um serviço ‘chave na mão’, certo?”, assegura Sandra Ayres.

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