A retoma da economia europeia entre este ano e 2026, se tal vier a confirmar-se, como espera o Banco Central Europeu (BCE), vai ser muito mais fraca do que as recuperações registadas após as duas últimas grandes crises, a da Zona Euro e a crise pandémica (covid-19)..De acordo com cálculos do DN a partir das novas previsões apresentadas na semana passada pela presidente do BCE, Christine Lagarde, a recuperação da mais recente crise (a inflacionista, espoletada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia, no início de 2022) deverá acontecer a um ritmo de crescimento real médio anual de apenas 1,1%, considerando como referência, o triénio que vai de 2024 a 2026..A recuperação entre 2015 e 2017, portanto, a que se seguiu à crise da Zona Euro (que durou entre 2010 e 2014), rendeu à economia europeia um crescimento médio anual no triénio de 2,2%, portanto o dobro do que está agora previsto até 2026..Mais recentemente, haveria de ser um vírus afundar a economia europeia e todas as nacionais. A pandemia de covid-19, que começou no arranque de 2020, exigiu fortes confinamentos às atividades económicas, muitas pararam mesmo (como as viagens e turismo), tendo a Zona Euro colapsado mais de 6%..A recuperação que se seguiu até 2023 rendeu um crescimento anual médio de 3,5%, embora este tenha sido muito empolado pela inflação muito elevada do ano de 2022. A subida dos preços no consumidor chegou a furar a barreira dos 10% em outubro desse ano, valores nunca vistos na História da moeda única, inflacionando a faturação de muitas empresas (retalho, combustíveis, alojamento turístico, etc.), a receita de impostos..Mas a retoma agora prevista é, por todas as medidas, bastante fraca, sobretudo num momento em que a Europa de hoje precisa, mais do que nunca, de um relançamento económico mais pujante..Para recuperar os atrasos infligidos pelas crises anteriores, claro, mas sobretudo para ultrapassar os fortes constrangimentos e riscos que se perfilam no horizonte, como a previsível quebra no comércio mundial, que tanto afetará economias altamente exportadoras, como a gigante Alemanha..Apesar do impulso que ainda pode ser oferecido pelas grandes obras e grandes projetos tecnológico financiados pelos fundos europeus e, em particular, pelo Planos de Recuperação e Resiliência (PRR), o passo vagaroso previsto agora pelo BCE (crescimento de apenas 0,7% este ano, 1,1% no próximo e 1,4% em 2026) encerra situações bastante difíceis e graves, como é o caso da estagnação económica e turbulência política da Alemanha e da crise orçamental e política de França, as duas maiores da área do euro.."A economia [da Zona Euro] deverá ganhar força com o tempo, ainda que mais lentamente do que antes esperado", disse a líder do BCE, na semana passada, quando anunciou uma nova descida na principal taxa de juro de referência, para 3%, de modo a não deixar a economia sangrar ainda mais, ao mesmo tempo que, referiu Lagarde, mantém a inflação controlada..O atual nível de taxas de juro e as condições de financiamento, mesmo numa rota de alívio gradual, continuam a ser "restritivos", afirmou a chefe da autoridade monetária..E, em cima disto, há fatores de monta que o BCE ainda não incluiu nas suas novas projeções..O crescimento médio de 1,1% até 2026 é no pressuposto de que não haverá "uma intensificação das tensões comerciais, as exportações deverão apoiar a recuperação, com o aumento da procura mundial"..A maior ameaça, como se sabe, reside no programa mais hostil ao comércio externo propalado pelo Presidente-eleito dos EUA, Donald Trump, que toma possa em janeiro..Para Lagarde, "o risco de mais atritos no comércio mundial [agravamento de tarifas aduaneiras] pode pesar sobre o crescimento da área do euro, reduzindo exportações e enfraquecendo a economia mundial. Uma menor confiança pode impedir a recuperação do consumo e do investimento"..Como escreveu o DN, neste panorama frágil e fraco de retoma, o BCE também não está a contar ainda com as consequências que podem advir do impasse político e orçamental francês.."Os planos orçamentais em alguns dos grandes países da área do euro não estão finalizados ou estão desatualizados, dados os atuais riscos políticos. Por exemplo, em França, os pressupostos e projeções de base da política orçamental baseiam-se no orçamento para 2025 e nos planos orçamentais de médio prazo do governo do primeiro-ministro Barnier"..Este governo caiu e França ainda não tem um orçamento para o ano que vem, algo que inquieta cada vez mais analistas e agências de rating. É outro perigo à espreita que pode reclamar pontos ao crescimento europeu..Portugal tem resistido. Embora também já esteja em desaceleração económica, ainda deve crescer acima da média europeia. A média prevista pelo Banco de Portugal para o período em causa (2024 a 2026) é 2%, o dobro da marca da Zona Euro..No entanto, o País, uma pequena economia aberta, dependente de investimentos estrangeiros, de turismo, nunca ficará imune aos danos maiores que venham a ser infligidos aos seus grandes e históricos parceiros económicos, como é o caso de Alemanha e França, por exemplo.